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12 de jan. de 2008

A morte de Ivan Ilitch - Tolstói


“O que justifica o ato de viver é a solidariedade, ativa e iluminada que aniquila o eu egoísta e fornece a paz interior” Luiz Venere Décourt (1911-2007)

Nessa magistral obra-prima (considerada por Vladimir Nabokov “a mais artística, mais perfeita e de mais sofisticada realização da história mundial”) legada pelo conde russo Leon Tolstói (1828-1910), defrontamo-nos com o soberano do destino: o fim. Eis nosso denominador comum.

Fim! Decreta a morte. Pode-se até contestar que seja ou não o “fim último”, mas abster-se desse encontro marcado ninguém conseguiu. A morte é uma prova final, aplicada a qualquer momento; e por mais que se creia não estar preparado, todos somos aprovados.

Impossível não se comover com esse personagem: “A vida de Ivan Ilitch era das mais simples, das mais vulgares e, contudo, das mais terríveis. Juiz do Tribunal, falecia aos 45 anos”.
Escarafunchando a angustiada consciência do irrepreensível juiz Ivan Ilitch, em breves 85 páginas, Tolstói nos brinda com o relato de um “acerto de contas”, revelando a futilidade do modelo de vida burguês. Será, preso ao leito, frente a morte certa, que a vida de Ivan Ilitch se revelará mais livre, mais autêntica e pujante. As preocupações corriqueiras, os afazeres mundanos impediram-no de pensar nela.

É com espanto que, diante da morte iminente, atina que viveu uma vida de aparências, tanto no desempenho de seu trabalho, quanto no casamento e em suas demais relações sociais. Ivan Ilitch conclui que sua existência fora desprovida de um propósito mais significativo, que não passou daquilo que a sociedade, com seu mero jogo de interesses, de galgar posições de prestígio, de “parecer estar bem”, preconizava. Em resumo: uma autêntica vida de falsidades. Para seu desespero, até mesmo àqueles a quem julgava ser fundamental e amado, sua mulher e filhos, vivenciam sua convalescênça como sendo um capricho inexplicável (a mulher) ou um aperreio, um estorvo (sua filha).

O sucesso profissional, o empenho pela manutenção da ordem, do status quo, daquilo que, aos olhos dos outros era tido como o “certo”, sempre fora o norte de sua “aparentemente” bem sucedida (na verdade, ordinária) vida: “Não era um adulador, nem quando menino, nem quando homem feito, porém, desde a infância, sentira-se naturalmente atraído pelas pessoas que ocupavam posição elevada na sociedade, tal como mariposas pela luz, e assimilava-lhes as maneiras e as opiniões, forçando ainda relações amistosas com elas”.

Leia esse artigo na íntegra no site da Escola Superior de Direito Constitucional - ESDC

11 comentários:

YEDRA disse...

Querida, seu espaço virtual está belíssimo, uma verdadeira biblioteca ilustrada. Tomei a liberdade de colocar um link do seu blog no meu, para facilitar o acesso. Parabéns pelo bom gosto na escolha das telas e pela iniciativa de introduzir uma interatividade entre os frequentadores do blog.Um beijo e sucesso.

Anônimo disse...

Cara profa. Luciene,

Li seu texto no periódico "Carta Forense" e adorei! Não conhecia esta obra de Tolstoi, pois não me admira tanto seus romances. Prefiro mais (acho que porque condiz um pouco mais com minha personalidade) o fabuloso Dostoiévski.

Mas adorei mesmo o seu texto e a estória daquele juiz (que não deve ter sido apenas uma estória, tenho certeza).

Sou promotor de justiça há 7 anos aqui em SP e confesso-lhe que exitem vários "colegas" de profissão, e também juízes, que se assemelham em muito com Ivan Ilitch, infelizmente.

E, nos dias de modernidade, acho que isso é o verdadeiro mal do século, a verdadeira doença invisível, como já disse Nietzsche nas linhas do Zarathustra (adoro esse cara!).

Obrigado por me informar e pelo texto precioso!

Abraços e sucesso!

Gilberto Peixoto

Luciene Felix disse...

Caro amigo Gilberto,

Não imaginas o quanto me honra tê-lo como leitor.

Humano, é bom saber que atentaste para a solitária e angustiante dor pela qual passa o personagem Ivan Ilitch. Tolstói foi realmente formidável!

De Dostoiévski, li "Crime e Castigo": muito, muito bom!
Respondo pela coluna de "Filosofia" da Carta Forense há apenas dois anos. Precisamente agora, em fevereiro, completarei o 24º artigo publicado.

Dessa vez, elegi Sartre para discutir como "os outros" nos servem de espelho. Verso sobre a peça "Entre quatro paredes" e seu famoso aforisma: "o inferno são os outros".

Procuro versar sobre inúmeros autores; meu objetivo sempre foi o de despertar o interesse pelos clássicos.

Particularmente, recomendo-lhe dois sobre a comédia "As Nuvens", de Aristófanes (onde o discurso injusto vence o discurso justo) e um sobre Etienne De La Boétie: "Discurso da Servidão Voluntária". Estou certa de que, por seu bom-gosto irá apreciar bastante.

Todos os meus artigos estão disponíveis no site da Escola Superior de Direito Constitucional - ESDC ( www.esdc.com.br ), onde leciono Filosofia e Mitologia Greco-Romana. Autorizo-o, desde já, a divulgá-los da forma que achar mais conveniente.
Nietzsche é um dos próximos Filósofos sobre o qual pretendo escrever.

Mais uma vez, reitero minha alegria por seu email e envio meu cordial abraço,

Luciene Felix

Anônimo disse...

Fico tão feliz quanto vc, pode acreditar.

Estou vendo que logo-logo vc terá um fã clube no Ministério Público.

Parabéns!
Beijos
Paulo

Anônimo disse...

Cara Luciene Félix

Li com muita atenção seu artigo no jornal Carta Forense. Confesso que não sou leitor daquele jornal, que me é remetido pela APMP, da qual sou associado.

Sou do Ministério Público e presido a CONAMP-Associação Nacional dos Membros do Ministério Público, entidade que os representa no país.

Confesso que foi uma leitura extremamente agradável e me fez relembrar o livro que li com muita atenção há quase vinte anos passados, quando era estudante de direito.

O que mais me chamou a atenção foi a forma magnífica da narrativa, onde transcende a dura e cruel realidade de muitos "Ivans" que existem na magistratura e no Ministério Público.

O engraçado é que separei seu artigo e o guardei, e ontem vi no Caderno Cultural do Estadão a divulgação de um livro, de autoria de um médico, cujo título, salvo engano é "Os livros que não lemos" (ou mais ou menos assim). Ele faz uma interpretação sobre os livros que compramos e guardamos, aqueles que apenas examinamos o prefácio, aqueles que iniciamos e paramos e aqueles que efetivamente lemos. O objetivo maior é possibilitar a discussão sobre o teor dos livros não lidos, mas cuja crítica nos dá uma noção sobre seu conteúdo.

Inseri isso porque já li "A morte de Ivan Ilitch", mas se não tivesse lido, sua narrativa impressionante me autorizaria discutir a trajetória de vida do protagonista.

Parabéns mais uma vez.

Confesso que recebia a tal Carta Forense e a destinava ao lixo, pois nada é mais chato que ficar lendo artigos de atores jurídicos que o fazem apenas e tão-somente para fins curriculares. E o que é pior, transcrições e mais transcrições, sem nenhuma criatividade.

A próxima, se receber, antes de lançá-la fora, irei examinar se há algum artigo seu e ler com atenção.

ET 1 - caso haja interesse em divulgar seus artigos na nossa página www.conamp.org.br basta me encaminhar neste endereço ou conamp.imprensa@terra.com.br que todos os membros do MP do país certamente o verão;

ET 2 - tenho um grande e fraterno amigo que é do Ministério Público de São Paulo, de nome Geraldo Félix. Por acaso há parentesco com você?

Um forte abraço.
JOSÉ CARLOS COSENZO

Anônimo disse...

Prezada Professora Luciene,

Sexta-feira, 19:40 horas, ainda estou em minha sala no fórum de Florianópolis, onde exerço a mesma função que fora de Ivan Ilitch.

Antes de ir-me abro o Carta Forense, folheio-o passando rapidamente os olhos sobre os escritos jurídicos e repentinamente sou atraído pelo seu texto.

Leio-o e delicio-me com os seus comentários sobre o profundo e maravilhoso livro de Liev Tostói.

Parabéns.

Luiz Henrique Martins Portelinha, Juiz de Direito

Luciene Felix disse...

Caro Amigo Luiz Henrique,

Fico feliz que tenha apreciado este artigo. Realmente Tolstói foi magnífico: não há quem não se identifique com as angústias do pobre Ivan Ilitch.

Caso haja interesse, diponibilizei artigos de Filosofia no site da instituição onde leciono, a Escola Superior de Direito Constitucional - ESDC (www.esdc.com.br)

Dentre eles, um dos que mais me agrada é o "Discurso da Servidão Voluntária" e os dois sobre a comédia "As Nuvens", de Aristófanes, onde o Discurso Injusto vence o Discurso Justo.

Muito honrada e grata por seu email, envio meu sempre cordial abraço.

Luciene

Anônimo disse...

Cara Professora Luciene Felix:

1.Parabéns pelo excelente artigo "Sarte: "O inferno são os outros"", publicado na edição de fevereiro da Carta Forense.

Você fez uma explanação clara, sóbria e, ao mesmo tempo, rica de ensinamentos, que despertou-me intenso desejo de voltar a estudar Filosofia.

2.Fiquei curioso sobre o artigo anterior - "A morte de Ivan Ilitch" - como não possuo mais o exemplar em que foi publicado, gostaria de saber se é possível recebê-lo por "e-mail"?

3.Há algum tempo encontrei no Sebo do Messias o livro Compêndio Moderno de Filosofia - Vol. II - O Conhecimento, de Denis Huisman e André Vergez, do qual gostei muito. Não consigo encontrar o Vol. I - A Ação. Poderia me dar uma dica de como adquirí-lo?

Atenciosamente,

Sérgio Peixoto Camargo
Promotor de Justiça

Anônimo disse...

Luciene,

O MP te adora hein!!!!

Mande por e-mail para ele, pois ele recebe gratuitamenet o jornal através da parceria que nós temos com o Ministério Público.

Abraços,

Paulo Stanich

Anônimo disse...

Cara Luciene,

Gostaria de lhe parabenizar e agradecer profundamente o envio do seu artigo.

Lembrar do Prof. Decourt e dos seus ensinamentos
dignifica as pessoas, pois não há dúvida de que o Prof. Decourt além do seu conhencimento médico e humanistico foi uma das pessoas mais dignas que temos conhecimento.

Parabéns por sua carreira.
Grande abraço,

Pablo Pomerantzeff

Anônimo disse...

Acabei de ler esse conto/romance e digo uma coisa... quem tiver com depressão forte não leia, porque ele meche coma gente de um modo que você fica angustiado a medida que a história vai avançado.

Ótima/excelente resenha moça...

eu pessoalmente adorei esse trecho:

E, à medida que a existência corria, tornava-se mais oca, mais tola. É como se eu tivesse descendo uma montanha, pensando que a galgava. Exatamente isto. Perante a opinião pública, eu subia, mas na verdade, afundava. E agora cheguei ao fim - a sepultura me espera.

Essa história mostra a diferença entre existir e viver, é como diz um trecho de uma múscia que eu gosto:

"[eu] Não tenho medo de morrer
[eu] Tenho medo de viver sem estar ciente disso".

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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

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As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

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Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

Busque sempre a excelência!

TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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