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17 de abr. de 2020

COVID-19: O que há de novo sob o sol?


“Eles têm medo do amor porque o amor cria um mundo que eles não podem controlar". George Orwell.


Não é de hoje que, atônita, a humanidade é surpreendida por moléstias com mortandade em escalas aterrorizantes.

Mas, desde os tempos mais remotos, o que permanece igual e o que mudou na forma com a qual lidamos com essas tragédias?

Democrática, a palavra PANDEMIA reúne todos (pan) + povos (demos).

Na antiguidade, quando algo de nefasto assolava uma comunidade, buscava-se a redenção do “castigo divino” por meio da expiação (reparação) das faltas através do clamor e dos sacrifícios aos deuses.

Um dos exemplos deste “modus vivendi/modus operandi” está na a calamitosa situação de Tebas, trazida pelo mais “raiz” dos tragediógrafos, o monumental Sófocles, em 427 a.C.

Sim, buscar inteligir e barganhar com a metafísica é coisa muito antiga. E, paradoxalmente, atualíssima, como veremos adiante.

O povo, então, se empenhava em identificar e banir o miasma (mancha, mácula), expulsando a provável causa daquilo – melhor dizendo, de quem – os arruinava.

É desse contexto que surge a figura do bode expiatório, literalmente, um clássico.

Avançando mais um pouco até a Idade Média (1347), a Peste Negra (transmitida pelas pulgas dos ratos), também nominada Peste bubônica (as feridas formavam bulbos na pele) impiedosamente dizimou um terço da população europeia.

Nesta, elegeu-se por bode expiatório, dentre outros, os judeus. Na Pandemia que enfrentamos hoje, apressa-se em apontar os chineses e seus suspeitáveis hábitos alimentares.

No entanto, uma vez que alimentação requereria um texto à parte e, talvez, somente os sábios pitagóricos (vegetarianos) estivessem em posição de objetar com propriedade, prossigamos.

Desde os primórdios, evidenciando nossa vulnerabilidade diante da inevitável (a morte), o medo fortifica a Fé.

A fragilidade humana diante da Peste medieval, por significativo período, solidificou (talvez seja apropriado dizer “glorificou”) a Igreja. Mesmo que, no 5º ano de Peste, após obstinado apelo ao povo que confiassem em Deus, grande parte do clero tenha desertado, causando imensa revolta na população.

“Gatilho” elevado à máxima potência, a aterrorizante ameaça de morte nos torna mesmo reféns do acaso, da “vontade de Deus”.

Isso é ainda mais dramático, sobretudo, quando estamos cônscios de que nem mesmo uma portentosa e sólida posição social e/ou econômica, garante que a foice nos distinga dos demais.

Evidente, este fato corrobora o desespero com o qual recorremos à metafísica (Fé) em busca do alento que apazigue nossa alma e nos acene com sobrevivência.

A igreja, atacada pela ineficácia diante da Peste, mas já solidificada, passada a tormenta, prosseguiu e, detentora do calendário das feiras (comércio), também impulsionou a economia, promoveu o bem-estar social e patrocinou o Renascimento, tanto nas artes quanto nas ciências, essa última, com tolhedoras ressalvas.

Foi também a Peste medieva que inspirou o poeta florentino Dante Alighieri a escrever “A Divina Comédia: - "Ó, vós que entrais, abandonai toda a esperança.", imprimindo em nossa memória as terríveis e indeléveis imagens do inferno e dos demônios.

Mais adiante, ao final da primeira guerra mundial, fomos novamente assombrados pela Gripe espanhola (1918-1919), que também ceifou mais 50 milhões de vidas, dessa vez, em grande parte do mundo.

Novamente, testemunhamos um significativo avanço na higiene, medicina, enfim, nas Ciências e uma pujante revolução industrial.

O momento atual indica que a dinâmica de nossa relação com as misteriosas Pandemias não mudou muito.

Acompanhe: primeiro, tomados de assalto, incrédulos, ficamos aturdidos.

Na sequência, a obstinada busca, eleição e perseguição do(s) bode(s) expiatório(s), respaldados pela xenofobia, o fanatismo religioso e inúteis divergências políticas.

Em meio a uma Pandemia, como em nenhuma outra circunstância, exceto na guerra, o que dá no mesmo, pois Pandemia é uma guerra da humanidade contra um inimigo comum (invisível), as caóticas sementes da ignorância encontram solo fértil no ódio, o obscurantismo propaga-se com muito mais vigor em meio ao desespero.

Concomitantemente às manifestações xenófobas, ao fervor religioso e discordâncias políticas, advém o confinamento dos contaminados e o distanciamento pessoal, a fim de se resguardar do contágio.

Em seguida, pois, a Peste é apressada, o enterro dos mortos, cujos desfavorecidos, sem acesso sequer a saneamento básico, são sempre em maior número e, por fim, o imediato e vertiginoso salto – quantitativo e qualitativo – em termos de avanços das technai (Ciências), como já estamos testemunhando.

Longe de Tebas, da Peste bubônica e da Gripe espanhola, vivenciamos a Pandemia do Covid-19 do alto do globalizado e, em grande parte imbecilizado Século XXI, cuja população gira em torno de 7 bilhões de almas.

A diferença mais significativa no modo com o qual estamos lidando com a atual Pandemia de Coronavírus talvez esteja no fato de que, extensão de nossas mãos – escravizadas pelo que se passa no cérebro e o que sente no “cuore” –, celular e internet promovem uma nova e desenfreada revolução à La Gutenberg: a produção e propagação instantânea de todo tipo de informação.

Em meio a esse democrático dinamismo digital, com o caos a um clique, a ignorância se alastra com vigor.

Constatamos DESDE o patético fenômeno da “gourmetização da peste”, onde a turba chafurda com gosto na lama da vulgaridade, explicitando o que mais define a multidão, a saber, ausência de pudor, ATÉ a proliferação de uma inimaginável e portentosa rede de solidariedade, digna de nota e enaltecimento.

Obviamente, a bizarrice do "instagramworthy", o esdrúxulo das “lives” ocas permite entrever o quanto tantos estão abandonados ao próprio obscurantismo e de seus seguidores, que os aplaudem, endossando o grotesco, alçando-os ícones no qual se espelhar.

Neste sentido, exceto pela proliferação da estupidez em progressão geométrica, não há nada de novo sob o sol, pois a Peste que vivenciamos nos traz de volta à tragédia, literalmente, uma vez que a tragédia desempenha a si própria diante do público o que, como afirma Aristóteles, suscita terror e piedade.

Felizmente, para toda essa avalanche, há antídoto! Simples, eficaz, gratuito e ao alcance de todos nascidos de mulher: a liberdade e o poder de escolher!

Pois, todavia, reitero, não é somente o trágico império do mau gosto o que salta aos olhos nesta Pandemia pós-moderna; nem tudo é oportunismo e “self-marketing”.

Embora produções cinematográficas recentes, como “O poço” e “Parasitas” tenham nos permitido ponderar sobre o disparate nas condições de vida de bilhões de pessoas neste mundo, é o invisível, distópico e “disruptivo” Covid-19 que ousa rasgar de vez o véu da desumana e perversa desigualdade social, que sufoca e mata sem sujar as mãos.

Mudanças. Decerto, haverá mudanças, como as que já ocorreram nas Pandemias de outrora: na economia, em nossa relação com o consumo, na educação, na relação entre patrões e empregados, nos próprios empregos, no surgimento de novas profissões, nas Ciências, nas medicinas alternativas, e sobretudo na inimaginável celeridade dos avanços tecnológicos, por exemplo.

Mudanças! Até porque, urge minimizar a portentosa demanda por dignidade material e saúde psíquica de tantos seres humanos desafortunadamente desamparados.

Mudanças inacreditáveis, extraordinárias, como as que já estão, de fato, ocorrendo, vide a espetacular rede de solidariedade que têm viralizado e contagiado a tantas boas almas neste mundo.

Não porque ser solidário “pega bem”, fazer doações seja “modinha”, mas porque nossas semelhanças são mais significativas que nossas diferenças, sobretudo na morte, que é o que nos define (mortais, lembra-se?).

Rasa ou profunda, morosa ou veloz, tímida ou mais audaciosa, o fato é que a mudança oriunda da Pandemia do Covid-19 já começou: o “aplicativo” compaixão foi instalado com sucesso.

É por essa APOTEOSE (rumo ao “theós”) que ansiamos desde a aurora dos tempos. Não há mesmo nada de novo sob o céu.

Exceto, essa vontade contagiante de nos tornarmos mais humanos. E então, não seremos só tragédia, mas um verdadeiro ÉPICO!  \o/


Luciene Felix Lamy 
Profa. de Filosofia e Mitologia Greco-romana
WhatsApp (13) 98137-5711

24 de fev. de 2020

CRÍTICA FILME PARASITA - disparidade de moradias

Clicando sobre as imagens, elas ampliam.

Sem dúvida, PARASITA, o filme vencedor do Oscar 2020, dirigido pelo sul coreano Bong Joon-Ho, suscita inúmeros olhares, permitindo alguns recortes interessantes.

Há muitas críticas inteligentes referentes a película, sobretudo no que diz respeito a parte, digamos que, mais técnica: roteiro, direção, fotografia, elenco, etc.


Na presente análise, ponderamos o quanto o ambiente (espaço físico) das moradias influencia na psique, pois a discrepância das casas das duas famílias retratadas no filme é um dos vieses que mais chama a atenção.

Sábio, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche afirmou que para viver bem é preciso saber escolher onde morar, o que comer e com quem se relacionar. Sem dúvida, morar bem é fundamental, mas há quem não tenha opção de escolha.


Desde os primórdios, ainda no tempo das cavernas, após cumprir a função de garantir segurança e privacidade, a moradia evoluiu e se aprimorou cada vez mais, passando a proporcionar conforto e demarcar status social, balizado, sobretudo por localização, metragem, projeto arquitetônico e materiais de acabamento.


A residência talvez seja o mais explícito símbolo de posição numa estratificação social. E, se o que classificamos como sendo moradia de uma classe baixa é passível de divergência, o conceito de como é a habitação de pessoas de alto poder aquisitivo - independente do lugar no mundo - não deixa margem para muitas dúvidas.


Por nos trazer dois exemplos extremos – em termos socioeconômicos –, em PARASITA, a questão da moradia salta aos olhos. Aliás, diríamos que, mais que mero “pano de fundo”, ambas moradias são também protagonistas da trama.

Àquilo que o florentino Nicolau Maquiavel, considerado “Pai” da ciência política moderna, ponderou como sendo a Fortuna, quando evidenciada pelo CEP, não é – graças à Virtù – necessariamente, destino. Ainda mais se atentarmos ao democrático papel da Internet no mundo contemporâneo.


Astúcia e acesso à Internet. Em PARASITA, vemos como os membros da família desfavorecida utiliza desses expedientes – de forma nem sempre ética – para ascender socialmente. 

Graças ao Wi-Fi roubado, aprende-se a dobrar caixas de pizzas, arteterapia, falsificar certificados, mecanismo de direção de um carro Mercedes, etc.

Mas não é sobre a licitude ou não desses atos que versamos, em nosso horizonte está a questão da disparidade das moradias de ambas famílias, algo que, infelizmente, testemunhamos haver em praticamente todo o mundo.

Para compreender que essa diferença é antiga e, infelizmente, eterna, convido o leitor a apreciar o artigo que redigi sobre a teoria tríplice da Alma, onde Platão esclarece AQUI de forma absolutamente clara, lógica, coerente e lúcida porque é uma utopia almejar que sejamos todos iguais. Não, não somos. Jamais seremos. Mas talvez haja algo a ser feito. Prossigamos.

Atentemos ao fato de que, basicamente, o que caracteriza recursos (riqueza/poros) é o ter. Já a pobreza é a falta (penia, daí penúria). Como nos ensina Platão, n’ “O Banquete”, Eros, é fruto de ambos (poros e penia), une, amalgamando àquele que dispõe ao qual falta.


PARASITA expõe o modus vivendi, e, consequentemente, modus operandis evidenciando a relação de interdependência que há entre abastados e desafortunados, o que nos lembra o papel de Eros: um elo a unir o que têm ao qual falta.


Há todo um portentoso extrato social sem acesso à educação que se beneficia da aversão e/ou inépcia dos abastados aos serviços braçais, domésticos.

Esta é uma realidade evidente, sobretudo em países subdesenvolvidos e/ou em desenvolvimento como o nosso Brasil, onde os investimentos governamentais em educação são perfidamente negligenciados.


Em termos de moradia, o rico dispõe de segurança, privacidade, luz, espaço, beleza, ordem, limpeza e conforto. Já ao pobre, falta tudo isso e mais um pouco.

O quanto e até que ponto, o “TER” influência o que somos, o famoso “SER”?

Há uma cena no filme que deixa entrever a resposta, quando o pai da família pobre afirma: “Eles são ricos, mas são legais”, ao que a mulher corrige: “São legais porque são ricos”.

Trata-se de um círculo vicioso, que se retroalimenta. Esse mecanismo pode ser observado também na esfera da miséria, onde paira a angustiante atmosfera de limitações que, coroada pela imundice, eventualmente contribui para a eclosão da impaciência ou até mesmo da violência, além de ser porta larga para saídas ditas mais “fáceis”.


Enquanto que a moradia da família abastada é arquitetonicamente planejada, numa edificação que prioriza a luz, a amplitude dos espaços e o minimalismo, a moradia da família pobre é improvisada, escura, suja e com notório acúmulo de objetos.


Transitar em meio à beleza, a ordem e o frescor, influencia nossas emoções. Seja na casa, seja no corpo, todos nós nos sentimos muito melhor asseados e perfumados. Aliás, a questão do aroma também é basilar em PARASITA.

Causa um profundo (e, às vezes, indizível) mal-estar na psique viver inserido no caos, pois a desordem exterior suscita e também promove certa desordem interior.

Diferente da riqueza, quase sempre clean, iluminada e asséptica, a pobreza convive com indesejáveis insetos, maus odores, tralhas, enfim, inutilidades.


Cabe ressaltar que, ao menos em PARASITA, a união familiar é algo que salta aos olhos em ambas famílias, talvez até mais naquela desfavorecida. Ali são, um por todos e todos por um. 

Não há riqueza maior que contar com o esteio dessa coesão consanguínea. A cumplicidade que permeia toda a família é notória, convivem na pobreza, de ordem material, não de afeto.

Os ricos de hoje diferem dos de outrora (vide a época vitoriana), quando o minimalismo não era a diretriz, algo a se almejar.

Representando a atualidade, oportuna e apropriadamente, o chefe da casa da família abastada trabalha em área tecnológica. A nova elite é vanguardista e seu habitat explicita isso.

Em PARASITA, a mobília (exceto talvez, pelos quartos dos filhos) é composta do mínimo necessário, em contraponto à moradia dos desfavorecidos, visivelmente acumuladores, incluindo os fracassos em suas empreitadas profissionais.


Observamos também que, folgados e espaçosos, quando os pobres têm uma oportunidade de desfrutar do ambiente e das iguarias dos ricos, são bagunceiros, trazendo a anarquia já impressa na alma. E relutam a reconhecer e ajudar seus homóis (iguais).

A contemplação da beleza presente na natureza, como um jardim, são elementos concretos que nos envolvem numa aura benfazeja, impactando beneficamente a nossa vida como um todo.

Embora saibamos que residir numa ampla mansão minimalista não é condição sine-qua-non nem passaporte para a felicidade, é inegável que lutar para morar com dignidade deve ser um ideal almejado, e, claro, alcançado por todos nós.

Como no frontispício do deus grego da saúde e da harmonia, Apolo, no templo de Delfos, aqui também vale o “Nada em excesso”

A justa medida, o métron grego revela-se viável, algo a nos pautar.

Nem 8 nem 80: entre a exuberante residência dos Park e a humilhante moradia da família Kim, entre o preto e o branco, há toda uma gama de nuances perfeitamente dignas, aconchegantes e habitáveis. 

Como a nossa casa, por exemplo, de onde podemos planejar ações que exijam dos políticos - ELEITOS POR NÓS! -, que atentem ao bom uso dos recursos que entregamos sob suas responsabilidades, minimizando tais disparidades. 


Os inteligentes jovens acima merecem isso, todo nosso respeito, atenção e empenho.

Luciene Felix Lamy
Whats (13) 98137-5711




AQUI, o ANTES e o DEPOIS de uma moradia de uma família em Guaianases (Zona Leste de SP) que encontrei através do Facebook.

Abaixo, o prestimoso trabalho de Luciana e Siomara, duas amigas que se dedicam a organizar e deixar sua casa impecável. 



1 de out. de 2018

Sêneca - Da tranquilidade da Alma (Parte I)

"É preciso privar-se da agitação desregrada, à qual se entrega a maioria dos homens e da mania de se intrometer nos negócios dos outros. " Sêneca

Lucius Annaeus Sêneca (4 a.C. – 65 d.C), filósofo, advogado, escritor e orador romano, dentre suas obras, legou um tratado moral onde versa sobre como obter maior qualidade de vida empregando melhor nosso bem mais precioso: o tempo.
Aneu Sereno, amigo de Sêneca, confidencia-lhe uma angústia que, embora nem considere assim, tão grave, tem sido perturbadora, tornando-o  nem doente nem são.
Ele teme que o hábito – que fortalece todas as coisas – consolide essa sua fraqueza indizível, pois tanto no mal quanto no bem, um contato prolongado nos faz tomar gosto.
Indicará o que sente, e pede que Sêneca nomeie sua doença. Diz amar a simplicidade e contentar-se com o suficiente: nas roupas, na alimentação e na casa, pois sabe que um projeto jeitoso torna habitável o menor canto.
No entanto, vacila, se deixando fascinar secretamente pelo glamour e o luxo: "(...) me ponho a duvidar sobre se todas aquelas suntuosidades não valem que as prefiramos. ".  É sábio, diz ele, não ignorar nossas imperfeições.
Sereno confessa que futilidades e bagatelas têm lhe tomado tempo e que, embora advertido de que não se deve ter em vista senão as ideias e não se deve falar a não ser para exprimi-las, torna a encontrar sempre em si mesmo esta fraqueza.
Por fim, explicita seu anseio: "que minha alma não se ocupe de nada que a distraia, de nada que a submeta ao julgamento de outrem. " E roga à Sêneca um remédio capaz de deter essa inconstância de alma que o agita.
O filósofo estoico diz ao amigo que ele aspira à ausência de inquietação, o equilíbrio da alma ("euthymia"), a tranquilidade. ". Então se propõe a indicar como é possível à alma uma conduta tranquila e firme, sem se exaltar, nem se deprimir.
 
Ponhamos desde logo o mal em evidência, em toda a sua diversidade: "Sofrerão mais aqueles que, ornando com um nome pomposo a miséria que os consome, teimam no papel que escolheram, menos por convicção que por questão de honra".
Há quem "depois de ter modificado cem vezes o plano de sua existência, acabam por ficar na posição onde os surpreende a velhice, cuja indolência rejeita as inovações. Ajunta ainda, aqueles que por preguiça, não mudam nunca, e os que vivem – não como desejam –, mas como sempre viveram".
Tudo isso conduz ao descontentamento de si mesmo, por não se atreverem a tanto quanto desejam ou que tentam, em vão, realizar. ". E ei-los presos! Não são capazes nem de mandar nem de obedecer às suas paixões; entregam-se à aflição.
E a angustia se agrava quando nos refugiamos no ócio, pois, uma alma apaixonada pela vida é ditada de uma necessidade natural de movimento. Atraídos pelas distrações – e há vício desde que haja excesso! –, é com amargura que nos vemos abandonados a nós mesmos.
Daí este aborrecimento, este melancólico desgosto de si, este redemoinho de uma alma que não se fixa em nada, esta sombria impaciência que nos causa nossa própria inércia, encerrada numa prisão, sem saída. Daí esta disposição para amaldiçoar seu próprio repouso, para lamentar-se por não ter nada a fazer e para invejar furiosamente todos os sucessos dos outros (pois nada alimenta tanto a inveja como a desgraçada preguiça).
Depois deste despeito pelas posses dos outros e deste desespero de não ser bem-sucedido, desanimado, começa o homem a se irritar contra a sorte, a se queixar do século, a se recolher cada vez mais em seu canto.
O mal do qual sofremos vem de nós mesmos: trabalho, prazer, tudo nos parece uma carga.  Contra esta melancolia, é salutar obrigar-se à atividade.
Para nós, afirma Sêneca, que preparamos nossas almas para as lutas da vida, o mais belo emprego que podemos fazer do nosso tempo é consagrá-lo à plena ação, sermos úteis à sociedade, sobretudo pela inteligência: "(...) exortar a juventude e, num tempo tão pobre de mestres de moral, inspirar aos corações a virtude, empolgar, deter os extraviados que se lançam à ganância e ao vício, trabalhar pelo bem público. "
Estudar também é fundamental: "Se consagras ao estudo um tempo que roubas à vida social, tu não podes ser acusado nem de abandonar nem de faltar ao teu dever. (...) não mais serás uma carga para ti mesmo, nem inútil aos outros. Farás inúmeros amigos e todo homem de bem virá espontaneamente ao teu encontro, pois ninguém ignora a virtude. "
Que na convivência sejamos companheiro honesto, amigo fiel, conviva moderado. Entremos em contato com o mundo inteiro e professemos que nossa pátria é o universo, a fim de oferecer à virtude o mais amplo campo de ação, roga o sábio.
Mesmo numa República oprimida o honesto encontra ocasião para mostrar quem ele é: "Se pertencemos a um tempo no qual a vida política é difícil de ser praticada, tornemos mais ampla a parte do ócio e do estudo (...). A melhor regra é combinar o repouso com a ação. "
Devemos considerar primeiramente a nós mesmos, depois as tarefas que queremos empreender, depois os homens para os quais ou com os quais teremos de trabalhar.
Exageramos nossas capacidades, diz Sêneca: "Um cairá por ter presumido demais de sua eloquência; outro quer tirar de seu patrimônio mais do que este pode render; um terceiro esgota seu corpo débil em labores extenuantes. Alguns têm uma timidez incompatível com a vida de negócios, que exige uma fronte intrépida; outros não sabem dominar sua cólera ou deixam-se levar contra sua vontade a prazeres perigosos: para todos estes, o repouso é preferível à atividade. "
Examinemos se nossas disposições naturais nos tornam mais aptos à ação OU aos trabalhos sedentários, pois forçar a natureza é sempre inútil e um fardo desproporcional esmaga quem o carrega.
Deve-se escolher com cuidado as pessoas com as quais convivemos, ver se merecem que lhes consagremos parte de nossa existência.
Nada agrada tanto à alma como uma boa amizade. Que felicidade a de encontrar corações aos quais se possa confiar; companheiros que acalmam nossas inquietações, cujos conselhos guiam nossas decisões, cuja alegria dissipa nossa tristeza. Evitemos os que não deixam escapar nenhuma ocasião para se lamentar.
 
Comparando-se todos os nossos outros sofrimentos e preocupações, os males que nascem do dinheiro, serão principal fonte das misérias dos homens. O dinheiro se apega tão intimamente à alma, que não se pode arrancá-lo sem dor. Se vê um ar mais alegre nas pessoas que a fortuna jamais visitou do que naquelas que ela traiu.
Se tomarmos previamente o gosto pela economia, a pobreza mesma, secundada por discernimento e gostos simples, pode-se transformar em riqueza. Habituemo-nos a fazer uso da utilidade dos objetos e não de sua sedução exterior. Aprendamos a esperar a riqueza mais de nós mesmos que da sorte.
É impossível ao homem preservar-se suficientemente contra todos os caprichos e todas as injustiças do destino. Abstenhamos de espectadores. Compremos o que temos necessidade, não para ostentação, atenta Sêneca.
Prosseguiremos com ele, amigos, pois embora esse seu Tratado date de quase dois mil anos, como todo clássico, é atualíssimo e vale a pena conferir.
 
Luciene Felix Lamy 
Profª de Filosofia e Mitologia Greco-romana
Instagram: lufelixlamy - WhatsApp: (13)98137-5711

1 de ago. de 2018

Magnificência – a virtude de saber-se digno de honra

“(...) olhar menos à verdade do que à opinião dos outros, é próprio de um covarde. ” Aristóteles

Segundo Aristóteles, megalopsykhia (a magnanimidade, o apreço, o alto apreço) é a postura correta em relação ao maior dos bens exteriores, a saber, a honra.
Franco e verdadeiro, levando os outros em consideração, magnânimo é quem age de acordo com a areté (excelência).
Versemos sobre essa disposição de caráter que, quando em faltarevela indevida humildade, quando em excessodemonstra vaidade.
Sendo a honra, a finalidade comum de todas as virtudes, indubitavelmente honroso, o magnificente inspira o que tantos desejam, a saber, admiração.
Comumente, deter poder e riqueza confere distinção, e é na explicitação (no uso e emprego) disso que vários intentam angariar admiração. Muitos honram quem possui poder e riqueza, mas só merece ser honrado o ser humano bom, pois dispor desses atributos sem ser virtuoso não têm por que alimentar a pretensão de fazer jus ao epíteto de “magnânimo”, o que implica numa virtude perfeita.
Quanto às posses, as atitudes em relação aos gastos têm sido reveladoras dos princípios e dos valores que permeiam a vida dos indivíduos.
Extravagantes, os vaidosos se exibem, não por terem em vista a honra, mas por pensar que ao ostentar riquezas serão admirados. Ponderemos o quão longe estão da genuína magnanimidade.
Espíritos que têm a si mesmo em altíssimo apreço não ambicionam as coisas vulgarmente acatadas, pois, dotados de um caráter que basta a si mesmo, a pessoa verdadeiramente magnânima se arroga o que corresponde aos seus méritos, ao que não pode ser comprado, que sequer tem preço, mas elevado valor.
Altivo, possuidor de bom e nobre caráter, seria indecoroso para um indivíduo magnânimo fugir ao perigo, praticar atos vergonhosos, incorrer em injustiça.
É sobretudo por honras e desonras que o magnânimo se interessa, e as honras que forem grandes e conferidas por homens bons, ele as receberá com moderado prazer, mas as honras que procedem de pessoas quaisquer e por motivos insignificantes, ele as desprezará, visto não ser isso o que merece.
Quem aspira à magnanimidade irá se conduzir com moderação no que diz respeito ao poder, à riqueza e a toda boa ou má fortuna que lhe advenha, e não exultará excessivamente com a boa fortuna nem se abaterá com a má sorte.
O homem magnânimo despreza respaldado em julgamento justo, mas os ordinários o fazem sem que haja motivo sério.
É magnânimo saber que há condições em que não vale a pena viver. É também característico de quem faz jus à magnanimidade não pedir nada ou quase nada, mas prestar auxílio de muito bom grado. E adotar uma atitude digna em face das pessoas que desfrutam de alta posição e são favorecidas pela boa fortuna.
É coisa difícil e grande marca de altivez mostrar-se superior aos de classe elevada, embora seja fácil com os de classe mediana.
Sem dúvida, uma conduta altiva ao se relacionar com pessoas superiores em poder e riqueza não é sinal de má educação, mas altivez diante dos humildes é vulgar, afirma o Estagirita.
À magnanimidade convém sermos francos em nossos ódios e amores, falarmos e agirmos abertamente: “(...) ocultar os seus sentimentos, isto é, olhar menos à verdade do que à opinião dos outros, é próprio de um covarde. ”. A franqueza do magnânimo provém de certo desdém por miudezas.
Por não ser escravo de ninguém, é incapaz de fazer com que sua vida gire em torno de outro (coisa de aduladores, que sequer respeitam a si próprios) e não guarda rancor por ofensas que lhe façam, prefere relevá-las.
É avesso a maledicências e conversas fúteis, pois não fala sobre si mesmo nem sobre os outros e tampouco fica alardeando seus feitos. Também não sucumbe aos elogios que lhe fazem. A tranquilidade paira sobre as atitudes, a fala e o modo de portar-se de uma pessoa verdadeiramente magnânima, pois quem costuma levar poucas coisas a sério em nada se apressa.
Como afirmamos no início, quem está aquém da magnanimidade é indevidamente humilde, e quem o ultrapassa é vaidoso. Ponderemos sobre esses extremos.
As pessoas vaidosas aventuram-se a honrosos empreendimentos que não tardam a denunciá-las pelo que são. Adornam-se com belas roupas, ares afetados e coisas que tais, desejam que suas boas fortunas se tornem públicas, tomando-as para assunto de conversa, como se desejassem ser honrados por causa delas.
É vaidoso aquele que se julga digno de grandes coisas sem possuir qualidades para tanto. Desdenhosos e insolentes, sem virtude não é fácil carregar com elegância os bens da fortuna, pondera o filósofo.
Vaidosas, exibidas, essas pessoas costumam se julgar superiores aos demais, desprezando-os, proceder como virtuosos está fora de seu alcance, embora imitem o homem magnânimo, excedem em relação aos méritos próprios.
Em contrapartida, é indevidamente humilde, diz Aristóteles, o homem que se julga menos merecedor do que realmente é. Se comparado às pretensões do magnânimo, a pessoa indevidamente humilde revela-se deficiente em confronto com os seus méritos próprios.
O que é digno de coisas boas e ainda assim, indevidamente humilde, está roubando de si mesmo daquilo que merece, e parece ter algo de censurável porque – excessivamente modesto –  não se julga digno de boas coisas e também parece não se conhecer, do contrário desejaria as coisas que merece.
Ambas disposições de caráter são típicas de tolos, no entanto, são vícios que, ainda que equivocados e um tanto indecorosos, não desonram ninguém, até porque nem são nocivas aos demais. Contudo, a humildade indébita se opõe ainda mais à magnanimidade do que a vaidade, tanto por ser mais comum como por ser ainda pior: “Quem se considera indigno de nobreza e riqueza irá se abster de ações e empreendimentos nobres.”.
Mas a pessoa verdadeiramente magnânima, visto merecer mais do que os outros, deve ser boa no mais alto grau, pois o melhor sempre merece mais, e o melhor de todos é o que mais merece, conclui o filósofo.

Referência Bibliográfica: A Ética a Nicômaco - Aristóteles
Luciene Felix Lamy
Profª de Filosofia e Mitologia Greco-romana
Instagram: lufelixlamy
WhatsApp: (13)98137-5711

1 de mar. de 2018

Além da felicidade possível



"O indivíduo não realiza o sentido da sua vida se não conseguir colocar o seu "eu" a serviço de uma ordem espiritual e sobre-humana." Carl Gustav Jung

Sócrates dizia que uma vida não examinada não merecia ser vivida. Por mais que protelemos, ao ultrapassarmos mais da metade do tempo de existência, convém fazermos um balanço da vida que optamos por levar. Sim, a vida que optamos, pois, coautores, não devemos chamar de “destino” as consequências de nossas próprias escolhas.

Dito isso, de que valeria embrenhar-se pela sabedoria dos antigos se esse empenho não resplandecesse na vida? 

De que adiantaria vencer a inércia, a apatia, às vezes até a covardia, lutar contra os vícios, perseguindo, dia após dia, as vantagens de se cultivar as virtudes se, ao avaliar nossos passos, não nos sentíssemos satisfeitos com o resultado de nossas ações?



Neste mês de março, além de comemorar 21 anos de sobrevida (em 14/03/1997, numa tentativa de assalto, fui baleada nas costas), festejo também duas décadas de um afortunado matrimônio que rendeu dois preciosos frutos, hoje adolescentes. Estou, enfim, satisfeita com o que tenho me tornado.

Num exercício de imaginação, findada essa breve passagem, de volta ao pó, se me fosse dada a oportunidade de alertar sobre algo realmente significativo eu diria: temos prazo de validade!

A advertência acima faz jus ao negrito, pois – mortais – não dispomos de todo o tempo do mundo para realizar nossos sonhos, a saber, ser e fazer feliz.

Embora a felicidade seja em si objeto da filosofia, não há necessidade de insistirmos o quanto responder ao que é felicidade é pessoal e intransferível. No entanto, além das necessidades básicas que precisam estar asseguradas para uma existência digna, há angústias inerentes – “humano, demasiado humano”, às quais urge transcender.

A vida é árdua, difícil e sujeita às vicissitudes, tem seus imprevistos e, por mais coerentes e dotados de bom senso que possamos ser, é a heraclitiana impermanência, a instabilidade que dá o tom.

Sem dúvida, prover nosso sustento e os daqueles que gerarmos e estão sob nossa responsabilidade já nos ocupa e responde por grande parte de nossas preocupações. Mas, eis que não é somente a esse tipo de incumbência que nos atemos e, um dia, nos flagramos pensando no que mais daria sentido à nossa vida: “A única forma de medir o significado da nossa vida é valorizando a vida dos outros”, afirmou o psicanalista francês Jacques Lacan.

E, em sua obra “A Teoria dos Sentimentos Morais”, Adam Smith afirma que: "Independente de quão egoísta possa ser o homem, há evidentemente um princípio natural que o faz interessar-se pela sorte dos outros e considerar sua felicidade necessária para si, mesmo que nada obtenha dela além do prazer de vê-la".

Se, quando jovens, nossos objetivos estão prévia e relativamente delineados, à medida em que o tempo passa e vamos envelhecendo, nossos anseios já não são assim, tão óbvios, tão claros.

Tendo cumprido, realizado satisfatoriamente boa parte dos nossos propósitos, insinua-se um sorrateiro gotejar de angústia que, à revelia, instala um aplicativo que suscita uma inefável falta de entusiasmo, um discreto sentimento de vazio e, junto ao marasmo, vem certa apatia e carência de sentido.

Contando com cinquenta e dois anos, vinte de casamento, doze de Carta Forense, há seis meses vivencio uma experiência filantrópica nobilitante que alçou minha existência a um patamar mais elevado de satisfação e de felicidade.

Para além do núcleo familiar e de amigos próximos, há toda uma sociedade da qual participamos. Findada nossa principal missão, a saber, a de nos formarmos, aprimorarmos nossa técnica, cultivarmos boas relações afetivas, gerarmos e criarmos filhos, o mundo clama por uma ação efetiva de nossa parte.

A solidariedade, a filantropia oferece uma saída a todos aqueles que sentem que já terminaram uma etapa, mas que isso não preenche tudo, não é tudo. Ralph Waldo Emerson está correto quando diz que: "Uma das mais belas compensações da vida é que nenhum ser humano pode ajudar o outro sem que esteja ajudando a si mesmo.".

Asilos, creches, prisões e hospitais são exemplos de lugares que descortinam realidades onde a carência que as permeiam, preenchem os anseios de nosso espírito.

Encontramos ainda mais sentido para nossa vida à medida em que contribuímos para a melhoria do bem-estar dos desfavorecidos, dos desassistidos.

De "ta onta" a "ta pragmata", tive a sorte de conhecer, através do Facebook (viva a Era de Aquário!), uma família carente de Guaianases que conferiu ainda mais sentido à minha existência e tem sido razão de grande felicidade. 


Trata-se de um rapazinho portador de necessidades especiais, Jamesson, cujo trabalho encontra-se disponível aqui mesmo, em nosso blog, sob o título “Como ajudar a nós mesmos” (confira AQUI).

Penso que a afirmação, do senso comum, de que "a caridade deve ser anônima, do contrário é vaidade" encerra um perverso estigma que eclipsa a propagação da bondade, do Bem, da LUZ. Portanto, ajude, ampare, propague, compartilhe, contagie. Até porque a “compaixão é [mesmo] a parte mais bela da sabedoria”.


Obs.: Eis os dados bancários da mãe do Jamesson, d. IVANILDA MEDEIROS - Banco Itaú - 
Ag. 7471 - c/c. 06.353-2 CPF 298.272.644/00

E, se você realizar ou tiver realizado alguma ação de cunho filantrópico que queira relatar, sinta-se à vontade para compartilhar conosco na área de comentários abaixo. Muitíssimo grata!


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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

Busque sempre a excelência!

TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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