Sophistés (Sábios) fora a denominação empregada a um grupo de práticos intelectuais estrangeiros (metecos) que, na Atenas do século V, proporcionavam seus ensinamentos sobre a arte do bem falar, fundamentando o discurso em argumentos logicamente coerentes e por isso mesmo, unânimes.
Sofistas, então, ministravam aulas de retórica àqueles que tinham por aspiração dedicarem-se à carreira política e, claro, tinham dinheiro para pagar-lhes.
Este detalhe prático (Ta Prágmata) viria a causar certo desdém e repugnância por parte daqueles que se consideravam verdadeiros “Filósofos” (Ta Onta).
Os sofistas Protágoras, Górgias e Trasímaco são, por excelência, os maiores nomes do ensino da arte da retórica na Grécia de Sócrates e Platão. Para Górgias, o discurso é entendido como o veículo no qual o mundo se torna possível para a compreensão humana.
Para ele, “o ordenamento duma cidade está na coragem dos seus cidadãos, o dum corpo na sua beleza, o duma alma na sua sabedoria, o duma ação na sua excelência e o dum discurso na sua verdade. O contrário será o caos”.
Os sofistas sabiam que a palavra é instrumento do lógos e este manifesta-se através do discurso que pode ser também manipulado com eloquência para seduzir e impressionar a plateia objetivando atingir um propósito (télos) definido.
Eles obtinham reconhecido sucesso na Ágora, conduzindo os ouvintes pelo discurso persuasivo: considerando o momento oportuno para determinadas colocações, utilizando argumentos convincentes; levavam em conta o perfil do ouvinte e esmeravam-se em falar o que (bem como “de que modo”) agradaria ser ouvido.
Vale observar que o emprego da persuasão não se baseia somente na lógica, mas apropria-se da intuição, da sensibilidade ao que toca o coração, despertando emoções tais como indignação, revolta, coragem, enternecimento, compaixão, camaradagem, etc.
Esclarecido o papel dos sofistas, agora saberemos que Léthe é o famoso “rio do esquecimento”, em cujas águas as almas bebem a fim de olvidarem (esquecerem) completamente a existência terrena e numa elucidação "mítico-singela", a deusa Léthe é a Verdade.
Após ter sido assediada por Zeus, a deusa Léthe sofreu as terríveis perseguições por parte da esposa do soberano do Olimpo, Hera, protetora dos amores legítimos. Em vão, a deusa Lethe tentava a todo custo escapar, buscando para isso sempre novos lugares nos quais pudesse ocultar-se.
Do relato acima, temos a interpretação de que “a verdade - alethéia -, é aquilo que nunca se esconde”.
Os religiosos conectavam-se com a Verdade através das artes adivinhatórias (mânticas) e a revelavam por meios obscuros, aparentemente ininteligíveis, mas também passíveis de inúmeras interpretações.
Sendo a palavra orientada conforme o éthos, a conduta, o modo de ser interior de cada um, o indivíduo é o único critério prático (razão do sucesso dos sophistés?) da verdade. Não alcançamos a verdade objetiva, somente opinião (doxa) particular.
Diante de uma verdade velada (coberta), cabia aos detentores do poder das palavras, aos retóricos da pólis, argumentar e convencer para desvelar a verdade.
Ocorre que esta (verdade) se des-vela ao ser re-velada. Re-velar é tornar a velar, a encobrir. Paradoxalmente, descobrindo o que esta velado, revela-se a “verdade”.
A verdade é a maneira de pensar do intérprete e de sua visão de mundo (que é decorrência de seu éthos, de sua conduta moral pessoal). Desse modo, a verdade é sempre subjetiva, relativa ao sujeito que a profere/revela.
Na Ágora, nas querelas judiciais, o choque das opiniões (dialética) dos retóricos busca revelar a verdade, melhor solução. No entanto, muitas vezes trata-se da verdade mais útil para quem a defende, não necessariamente para toda a sociedade: “Ele, o retórico, é o vilão do discurso e aliciador de razões desprotegidas, que sempre sucumbem ao seu encanto perverso. Retórica é prestidigitação verbal que envenena o espírito e o escraviza. É, em uma palavra simulacro”.
Era como se os sofistas tivessem o dom de ensinar a fabricar o que os gregos chamavam de pharmakón – o remédio/veneno.
Obviamente os sofistas não podiam responder pelo uso que seus aprendizes davam ao domínio desta poção mágica (retórica), que tanto pode curar quanto matar. Tanto pode trazer à luz a verdade ou ocultá-la.
A linguagem não é simplesmente o espelho da realidade, mas é um meio pelo qual pode-se estabelecê-la, sendo assim, instrumento de poder.
Eis algumas verdades sobre a verdade: subjaz no éthos (sujeita à conduta ética humana), que por sua vez obedece a um télos (propósito definido); é passível de manipulação (troca, venda), mantém, como no mito, a magia de sua natureza: velar/revelar/tornar a velar.
Tomando-nos de sobressalto, ela, a verdade (alethea) ressurge, vez ou outra, num lampejo de lucidez. De estupefata lucidez posto que, como o homem, tem sua própria lógica, o que corrobora a máxima do sofista Protágoras:
“O homem é a medida de todas as coisas; das que são porque são e das que não são porque não são”.
E Viva Sergio Moro e o trabalho da Polícia Federal! \o/
2 comentários:
É um prazer tê-la neste espaço cibernético. Minha professora no Orkut e também neste blog.
Parabens pelo site, está tão bom...que eu fiquei tonto, não sabia por onde eu começar...não quero que sinta-se culpada, mas adiei alguns compromissos para ler mais...sua fluência é tão vívida, culta e agradável. Você teria algum livro publicado? É por que o Monitor cansa minha vista e eu fico com "gostinho de quero mais"
Obrigado pelo banquete.
Leonardo Leite
ADOREI O QUE ESTÁ ESCRITO
TODA VEZ QUE LEIO LEMBRO QUI NAO EXISTE NADA NO MUNDO QUE SE COMPARE COM A VERDADE.
ANA
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