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11 de jan. de 2008

Maquiavel - pioneiro numa teoria do Estado


Platão e Maquiavel são os únicos filósofos a terem seu nome transformado em adjetivo. Enquanto platônico refere-se à algo idealizado (portanto, perfeito), o pejorativo termo maquiavélico remete a algo perverso, ardiloso, traiçoeiro. Fora do contexto o pensamento de Maquiavel torna-se maquiavélico e o de Platão, platônico.

Nicolau Maquiavel (1469-1527), apaixonado pelos assuntos de Estado, é natural da cidade Florença. Sua revolucionária teoria política é fruto de uma meticulosa análise das causas que determinam a prosperidade ou a decadência de grandes impérios antigos e de sua vasta experiência administrativo-burocrática frente aos conflitos econômicos, políticos e sociais que permeavam as cidades/principados, especialmente sua Florença, a rival Pisa, a portentosa Roma e a próspera Veneza.

O Maquiavelianismo explicita a realidade interna do poder político, que é um fenômeno social e recomenda ao “Príncipe”, ao governante, o estabelecimento da supremacia do senso prático (virtù) aliada à boa sorte (fortuna).

Renascentista florentino, na terra dos astrônomos/astrólogos, dos filósofos/magos, revelou-se metafísico. Talvez conhecesse os trânsitos anuais do benéfico planeta Júpiter, sabedor de que ela, a Roda da Fortuna, se altera. 

Como Heráclito reconhece que “Tudo Flui”, apontando a transitoriedade do Poder. Cabe então ao homem de virtù, do homem provido de talentos e de um aguçado senso de oportunidade, saber extrair o máximo das ocasiões que lhe são favoráveis, antevendo e precavendo-se contra os infortúnios. O homem de virtù conhecedor atento do Bem e do Mal, corta este último pela raiz, “faz a hora, não espera acontecer”.

A política tem uma ética e uma lógica próprias. Retirando o caráter divino do poder, como que diante de um microscópio, ele observa que os ditames moralizantes podem significar a ruína do governante. Considera haver dois humores bem distintos: o dos ricos (poderosos!) e o dos pobres (o povo). Mantê-los em constante equilíbrio é arte política pois, como Aristóteles, pondera que o melhor Estado é o que tem poucos ricos, poucos pobres e bastantes remediados.

Sua obra é de agradabilíssima leitura. Uma das marcas de seu estilo é o pensamento dilemático: indaga sobre uma questão, discorre sobre as opções e conclui apontando a melhor alternativa.

Até “O Príncipe”, escrito em semanas, dispúnhamos somente de formas idealizadas de organizações políticas e sociais, mas não de um conjunto de técnicas eficazes que constituísse a arte de estabelecer um bom governo que perdure o maior tempo possível.

Estamos nos séculos XV e XVI, com o prenúncio do capitalismo, do insurgir da burguesia, com o início do declínio do poder da igreja, das grandes navegações, do revolucionário heliocentrismo, da defesa do método de investigação empírica. Trata-se notoriamente de uma instável e perturbadora época de transição que afetará o poder político, embora ainda imperassem a tirania e a ilegitimidade que geravam diversas e dramáticas situações de crise.

O caos reinava nos pequenos principados: sem recursos para impor alguma ordem, de se fortalecerem militarmente, impossibilitados de contar com uma coesão política e temerosos que o povo descontente se arme, tornam-se alvo fácil para os condottieri: mercenários, hábeis especialistas militares, que disponibilizam seus préstimos a quem melhor os remunerasse.

Maquiavel sonha com uma Itália unificada, acredita que somente um governante enérgico, astuto e criativo seja capaz de congregar e estabelecer a ordem econômica e sócio-política.

Traços humanos imutáveis tais como a avidez pelo lucro e a volubilidade como a dos os condottieri levarão Maquiavel a afirmar que “a soberania política depende de exército próprio, constituído por soldados leais e convictos de que lutam pela causa da pátria”. No “Discurso Sobre a Preparação Militar Florentina”, afirma que os Estados e governantes dependem de dois itens: justiça e armas. Por justiça entende um conjunto de sólidas instituições mantenedoras da estabilidade e da ordem social, que são as bases sobre as quais podem ser construídas as virtudes cívicas.

Mestre da maldade ou conselheiro que alerta os dominados contra a tirania? Rousseau esclarece que “Maquiavel, fingindo dar lições aos Príncipes, deu grandes lições ao povo”.

Quando a Fortuna, considerada por ele uma mulher, lhe dá às costas, Maquiavel é esquecido pelos novos poderosos da república e, em profundo desgosto, falece aos 58 anos de idade, ocasião de seu segundo regresso de Saturno.

Saiba mais: Maquiavel, N. - “O Príncipe” - Coleção Os Pensadores. Editora Nova Cultural.
Maquiavel, N. - “Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio (Discorsi)”, tradução de Sérgio Bath, Brasília, UnB, 1979 (Nova edição revista, UnB, 3ª ed., 1994).
Valverde, Antonio J. R. - “O problema da Liberdade no Primeiro Livro dos Discorsi, de Maquiavel, Relatório nº 8/1999, S. Paulo, NPP-FGV, 1999.

3 comentários:

Anônimo disse...

Boa Noite Dona Luciene veio através desde email, pedir a senhora uma 'luz" em qual livro encontrarei falando desde assunto: Ética da política e Ética da moral para Maquiavel.

Desde já agradeço se a senhora me ajudar,vi seu texto na internet e gostei muito.

Desde já agradeço a compreensão!
E espero a resposta urgente!
boa noite
Poliane Nardi

Luciene Felix disse...

Olá, Poliani,
Respondi por e-mail. :-)
abs,
lu.

Carol Ardana disse...

achava que Maquiavel , fosse só maquiavélico, mas ao inseri-lo no contexto histórico fiquei curioso e vou lê-lo.
Lu(permita a intimidade) você já é responsável por eu ler A divina comédia, Ilíada,odisseia, e ainda o será por eu me tornar um filósofo .

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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

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TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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