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1 de nov. de 2017

Tempo, sabedoria e felicidade

“A chama altaneira de Prometeu se esgotou, e no lugar dela se usa hoje em dia a chama produzida pela farinha do licopódio*... É tudo fogo teatral. ” Friedrich Von Schiller

Penso que não é o fato de estarmos expostos a imagens, vídeos e opiniões (doxa) a todo instante o que seja prejudicial em si, mas é inegável que tamanha aceleração não propicie adequada assimilação dessa avalanche de conteúdo.

Conectados, mais do que nunca, é imperativo que adotemos critérios para que possamos selecionar ao que convém ou não dedicarmos o bem mais precioso de nossas vidas: tempo.

Simples, as verdades mais profundas são assim mesmo, óbvias, implacáveis: o tempo é precioso, pois escasso. E, embora os avanços tecnológicos (technèe) da arte de Asclépio, aliado a escolhas conscientes e salutares, prolonguem e estendam, tanto as capacidades de nossos corpos quanto de nossas mentes (por mais de oito ou nove décadas), sim, nosso tempo de vida é finito. Em virtude disso, convém discernir sobre como dispô-lo.

À revelia, mesmo sem nos darmos conta, nosso tempo vem sendo abduzido por uma grande quantidade de informações que nem sempre nos munem de conhecimentos, tampouco de sabedoria, que deveria ser o propósito de amealhar tanto conhecimento.

Uma das buscas basilares do homem, portanto, da filosofia, é a de alcançar a tal felicidade, palavrinha mágica que abarca estado de bem-estar físico e psíquico, a máxima do poeta romano, Giovenale: “(..) mens sana in corpore sano”.

Está assentado que nesse breve e finito período no qual usufruímos da vida, permanecemos reféns do afã de suprir necessidades básicas, tais como alimentação, vestimenta, moradia, saúde, educação e transporte, por exemplo.

Em termos psíquicos, há a necessidade de relacionar-se, sentir-se amado (ou ao menos reconhecido), de expressar afeto e de manifestar opiniões (doxa), não necessariamente verdadeiras (doxa alethés).

Também concorre para a felicidade desfrutarmos da liberdade de exercermos um papel social, nos sentindo úteis, pois, necessários àqueles que nos cercam, seja no seio da família da qual originamos, na que formamos, seja numa empresa/instituição e até mesmo na esfera mais ampla, transcendente (na vida social coletiva), que nosso espírito sintonizar e ousar abarcar.

Tornarmo-nos indivíduos (indivisíveis), expressar nossa personalidade, tão única e dotada de talentos, subsidiar nosso sustento através desses dons, desfrutar de um lar, refúgio seguro, aprazível e aconchegante; disciplinados, trabalhar com afinco, contar com a sorte do virtuoso cúmplice com quem se possa erigir e compartilhar a vida, desfrutando do prazer da sexualidade, poder escolher entre gerar ou não e criar os filhos, viajar, conhecer culturas estrangeiras, ter o trabalho reconhecido, contar com a dádiva de (poucos, mas) confiáveis amigos, atuar em alguma atividade filantrópica que ampare aos desassistidos tão desafortunados e, ao fim do dia – quem sabe da vida – nos entregarmos a Hypnos (Somno, na mitologia romana) com a consciência tranquila, em paz, a sensação de dever (àquele deus que não admite ateus, segundo Victor Hugo) cumprido. 

Independente da raça, cor ou credo, lograr êxito nos itens apontados acima seriam reconhecidos como incontestáveis motivos de felicidade. Que a satisfação de cada um deles não está completamente em nossas mãos, já nos ensinaram os estoicos: há as vicissitudes, as tragédias, os reveses, os golpes, as traições e as competições – nem sempre justas e imparciais – às quais estamos sujeitos.

Na aleatória, portanto, eventualmente injusta, loteria da vida, talvez não tenhamos nascido num dos países cujos dirigentes políticos sejam dos menos corruptos e/ou que não tenhamos sido desejados e acolhidos no seio da família mais amável, responsável e estruturada do mundo, mas que tenhamos surgido e sejamos mero fruto dos hormônios em ebulição de nossos pais.


Pode acontecer até de ignorarmos quem seja nosso pai (o que pode acarretar uma fratura psíquica portentosa) e, mesmo que conheçamos o biológico, o “Pai” metafísico (Criador) será avidamente buscado até o nosso último suspiro. Talvez, sobretudo, neste instante.

Mesmo que não tenhamos sido agraciados com a saúde e a aparência (altura, peso ou cor e demais características fenotípicas) consideradas ideais pela cultura dominante e, avançando a galopadas, Geres já reivindique seu reinado, não somos frutas e legumes, passíveis e submissos a esses crivos: somos mais!

A centelha divina que – literalmente –, nos anima, dotou-nos de vontade e de coragem. Sendo assim, cabe a cada um de nós, independente do histórico pregresso e dos desafios à espreita, nos empenharmos e partirmos em busca daquilo que constituirá felicidade para nós, dentro de nossos anseios e expectativas, que serão sempre balizados pelos pares que elegemos como sendo dignos de admiração.

É justamente esse o ponto do presente ensaio, que tangencia sobre o tempo, a sabedoria e a felicidade: os pares que elegemos como dignos de admiração. Quem são e onde estão?


Muitas vezes, ao acessarmos a web, navegamos num mar de lama e nos deparamos com uma turba assombrosa, uma escória libertina e devassa que vomita dejetos putrefatos e, tal qual cães encolerizados, ladra e vocifera com vigor todo tipo de barbaridade e impropérios.


Uma rápida espiada em suas vidas infelizes – a abrigar a larva do fracasso e da derrota destilando ressentimento – seria suficiente para que, convictos, emitíssemos nosso veredicto: Não! Não há vida digna de admiração, apenas os agitados e desprezíveis zumbis que, trajando os farrapos da má fé e do mau gosto, reivindicam traiçoeiramente – em nome da LIBERDADE – o posto de paladinos da perversa moral atual, alastrando fétido odor, fazendo barulho e causando estardalhaço, muito estardalhaço.


Bombardeados a todo instante, não por sábios e virtuosos, mas por néscios, ignaros, infelizes – vemos sequestrado o que temos de mais raro e precioso: o tempo que, à revelia, destinamos ao que os pseudointelectuais tem a nos dizer.

Embora surjam inutilidades e imundices em nossas telas, urge usar a falange do indicador com discernimento e lucidez pois, além de escasso, Chronos (Saturno) é impiedoso e, sábio é ser feliz.

Luciene Felix Lamy
Professora de Filosofia e Mitologia Greco-romana
lucienefelix.blogspot.com


Dedicado a sábia discípula de Athena (Minerva), juíza 
Daniela Maria Cilento Morsello.

(*) Com as sementes do licopódio eram engendrados, outrora, os raios sobre os palcos nas apresentações teatrais. Soprava-se com rapidez o pó em chamas das sementes e assim era produzido o efeito de um raio.




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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

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As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

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Busque sempre a excelência!

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TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

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