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1 de dez. de 2017

A ameaça de Prometeu na tragédia de Ésquilo


“Aí está a prova de que meu espírito percebe muito mais do que as coisas presentes. ” Prometeu.

Gigante e pioneiro das pedagógicas tragédias gregas, Ésquilo (525 a.C.) vislumbrou e vaticinou uma incômoda e perturbadora ameaça (para dizer o mínimo) que, cerca de 2.500 depois, testemunhamos estar a cumprir-se: a de que Zeus (Júpiter/Giove/Jove) também seria destronado.

A saga do titã filantropo, intitulada “Prometeu Acorrentado” explicita um arquétipo da criação humana, onde temos no elemento fogo o simbolismo do conhecimento da arte e a técnica que promove o avanço da humanidade.

Elucidativo é o significado do nome do patrono da humanidade: Prometheus (pro=antes e metheus=vidência) é o que pensa, que vê, que enxerga ANTES.

Em linhas gerais, por ter presenteado a raça humana com algo interdito aos mortais, o fogo, Prometeu sofre um terrível castigo enviado por Zeus (Júpiter), o ordenador do Cosmos.

O relato da tragédia já foi publicado aqui mesmo, na Carta Forense no artigo intitulado: “Prometeu – Direitos do Homem e Hýbris” (setembro de 2009), disponível AQUI.

Retomo a questão nevrálgica dessa tragédia em virtude da constatação de que a ameaça de Prometeu a Zeus, a saber, de que o soberano do Olimpo seria destituído do poder por um de seus filhos, parece caminhar a passos largos para efetivar-se.

Oraculares, sabemos que as tragédias, assim como os mitos, vaticinam, pressagiam acontecimentos por vir. Aventando uma das interpretações possíveis, Zeus, representando a instauração da ordem, o pautar-se por harmonia, simetria e equidade (Justiça) talvez esteja mesmo sendo deposto, assim como ele fizera com seu pai Chronos (Saturno) e este, com seu avô, Urano (Ouranós).

Teogonia primeva, o céu criador (Urano) é destronado pelo Tempo (Chronos) que, por sua vez, é suplantado pela ordem (Zeus) que, nos dias que correm, cede ao egoísmo, à ganância, à vaidade e à absoluta ausência de pudor, enfim, ao caos. Numa palavra, Zeus é subjugado pelo próprio Homem.


Sintomático, exemplo concreto da aviltante degradação da humanidade pode ser constatado ao observarmos, por exemplo, as obras do escultor inglês Marc Quinn. Confira “Buck & Allanah” e confirme a infâmia.

Obviamente, ao artista contemporâneo coube a tarefa de revelar (tirar o véu) a bestialidade na qual culmina o comportamento sexual humano. Infelizmente, sim, o artista talvez esteja mesmo unicamente a representar justamente àquilo no que nos transformamos –, pois não há como negar que, dessacralizadoras, suas esculturas, evidenciam a banalização da conduta sexual humana.

É imperativo que ponderemos sobre o que estamos nos tornando, não meramente calcados por um precipitado e raso julgamento moral (no sentido de certo ou errado), mas pela necessidade de – lúcidos e razoáveis –, atentarmos ao que está despontando e sendo posto em relevo no que tange ao exercício da sexualidade que, sublime ou grotesca, tanto nos eleva e engradece quanto nos bestializa e arruína.

Por mais que sejamos indulgentes em relação às questões de cunho particular da sexualidade, sobretudo entre adultos, pois, o exercício da sexualidade, assim como a Fé é de âmbito privado de cada alma [corpo] individual (como já salientou o filósofo existencialista dinamarquês Sören Kierkegaard), é temeroso que aberrantes exceções possam vir a tornar-se regra.

Atentemos ao que o mundo, através desses “artistas” está a nos dizer, porque somos sim, responsáveis pelo desdobramento de nossos atos, por tudo o que legamos. E nunca estivemos tão passivos (até mesmo coniventes) à bestialidade, em termos de conduta sexual.

“Éthos” é resultado de “mores”. De cabelos em pé é como ficou (e nos deixará) toda a geração que acessou o hardporn de papai & mamãe cujo conteúdo abarcava de tudo, exceto "papai & mamãe". Certamente, um dia a “fatura” chegaria. Para o mundo.


Enquanto personificação de um arquétipo de ordem, Zeus parece mesmo ter sido destronado. Em seu lugar, entrona-se o caos.

Paradigma dessa nova (e, paradoxalmente, antiga) potestade, é ao CAOS contra o qual é preciso insurgirmos, reivindicando e exercendo o direito à liberdade de poder escolher entre o grotesco, bizarro OU o belo, o sublime. Do contrário qual sentido termos sido agraciados com a dádiva de prerrogativas divinas, a saber, o fogo (rátio, logos) do conhecimento?

Infelizmente, um sábio da estatura de Ésquilo dificilmente estaria enganado em seu prognóstico. Até porque, como ele mesmo afirma na tragédia: “Para o sábio o erro é humilhante! ”.



Luciene Felix Lamy
Professora de Filosofia e Mitologia Greco-romana
lucienefelix.blogspot.com


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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

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As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

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Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

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