O Homem “mede” o outro e indaga a si mesmo: que poder (do grego, krátos) você tem?
A diferença entre as ciências exatas (desumanas?) e as ciências humanas (imprecisas e inexatas?) é fundamentalmente de linguagem. E isso não é pouca coisa. Os cientistas das áreas de exatas não se reúnem num congresso a fim de obter consenso sobre o conceito da palavra “estrutura”, por exemplo. Em “humanas”, somente para essa palavra já foram estabelecidos nada menos que trinta e sete conceitos distintos. Cabe lembrar que todo conceito nasce pela igualação do não-igual.
Se a matemática e a geometria (musa inspiradora de Platão), por exemplo, são ciências “puras”, “a priori”, pois dispensam a experiência e estão muito bem acomodadas no abstrato mundo das idéias (Ideal) pois, independente da época, geografia ou cultura, duas vaquinhas com mais duas vaquinhas soma o total de quatro vaquinhas (e não se discute mais isso), o mesmo não se pode dizer do rico e fértil solo das ciências humanas.
Enquanto o Sol, na física, define-se friamente como sendo uma massa de Hidrogênio em fissão nuclear que se transforma em Hélio, na área de humanas, o Sol é um fogo sempre vivo (fragmento 94 de Heráclito). O astro-Rei não dará conta da colossal magnitude com a qual inflama de forma desmedida o apoteótico ego humano, iluminando sua sensibilidade ou obscurecendo-o na estupidez da ignorância.
Um exemplo claro de como a linguagem quase nos deixa numa aporia (a/póros = sem saída) é fornecido por Platão na República: tomemos nossos cinco dedos. São diferentes ou são semelhantes? Podem ser (e são) as duas coisas! É nesse momento que caminhamos para o nous (poder de intelecção que está na alma). Os dedos participam da idéia de diferença e de semelhança dos dedos. Retomando, sujeito ao referencial, o Sol é e não é do tamanho de um pé (frag. 3 de Heráclito).
Segundo o Filósofo Henrique C. De Lima Vaz, todas as coisas são physis (numa tradução ainda insatisfatória: natureza). Nosso modo de ser (modus vivendi, modus operandi) é transformá-la e a isso chamamos ethos (do grego “habitat”, hábito, costume, caráter). Sendo nossa conduta construto cultural, é no ethos que se alinhava toda história da humanidade, em constante mudança (novamente Heráclito), sempre em processo de vir-a-ser.
Leia esse artigo na íntegra à partir de 10 de abril no site da ESDC: http://www.esdc.com.br/
4 comentários:
Parabéns,
Professora Lucine Felix pelo artigo a respeito do "ethos" publicado no jornal Carta Forense.
Além de interessante, demonstrativo de toda uma cultura a respeito do tema, é de fácil e agradável leitura.
Sou promotor de justiça aposentado recentemente, advogado e professor de processo penal em graduação e pós-graduação e, portanto, sinto-me credenciado e à vontade para tecer tais elogios ao seu trabalho.
Parabéns, publique mais e nos brinde com seu profundo saber.
Eudes Quintino de Oliveira Júnior
Abraço.
Oi minha linda!
"Enquanto o Sol, na física, define-se friamente como sendo uma massa de Hidrogênio em fissão nuclear que se transforma em Hélio". Nao é fissao! É fusao! hidrogenio pessado, se combinando e formando helio. Fissao é a quebra de atomos por neutrons com a liberaçao energia atraves da equaçao E = mc2.
Tudo o que você escreve é maravilhoso!
Antonio Gomes Lacerda
professor de Física
Grata por esclarecer Antonio.
Que horror uma confusão dessas...
Vou corrigir o texto no site.
És leitor da Carta Forense?
Bjs., lu.
Muito bom e esclarecedor!!!
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