"Minha cara, intimidades geram duas coisas: filhos e mal-entendidos. E não pretendo ter nenhum dos dois com a senhora".
Jânio Quadros (a uma jornalista que o tratou por "você")
Existir é existir com. Para que possamos desfrutar de uma, senão de todo harmoniosa, ao menos perfeitamente suportável, convivência com nossos semelhantes, algumas regras de conduta social são fundamentais. Assim, evita-se a barbárie e o inferno que podem surgir da proximidade. E quanto mais próximos, maior a possibilidade de conflitos pois como dizem, é fácil amar a humanidade, difícil é amar o próximo.
Dentre os modos pelos quais se regulam as relações humanas em sociedade, contamos com o Direito e seus contratos. Zoopolitikon, será nas relações cotidianas que as regras de etiqueta, a cortesia e a polidez terão a função social do respeito pelo outro, por sua diferença, promovendo a concórdia (cordis, coração) entre os indivíduos chamados a viver juntos.
Certos de que as boas maneiras antecedem as boas ações e conduzem a elas, pelo exemplo, pela tradição oral, preocupamo-nos em ensinar aos pequenos algumas regrinhas básicas de boa educação: “por favor”, “obrigada”, “desculpe” etc., além de orientá-los quanto à linguagem, comedimento nos gestos, respeitar os mais velhos, não roubar e não mentir, por exemplo. É assim que, desde cedo, aprendemos a respeitar e a nos fazer respeitar.
A palavra etiqueta, é oriunda de duas fontes, grega e francesa e terão ainda dois significados distintos. O éthos grego refere-se a conduta, comportamento. Também do grego, a palavra stikos significa lugar. Já a “pequena ética”, que reduz a ética (éthos) a uma apresentação aprazível, portanto, estética do bom e do belo, a étiquette francesa é, segundo Renato Janine Ribeiro “originalmente um escrito num saco de processo, que servia nos tribunais para se identificar os documentos, portanto, os nomes das duas partes e do procurador [...]. Em 1580, etiqueta é qualquer pedaço de papel afixado a um objeto para informar sua natureza, conteúdo, características, preço etc. Mas ao migrar da corte jurídica às formas político-sociais, a etiqueta retorna à sua etimologia de rótulo e, com todo seu ritual, mesclando fascínio e intimidação, passa a explicitar a indicação do lugar do indivíduo na hierarquia social”.
A etiqueta almeja civilizar os costumes e esses se alteram ao longo da história. Houve época em que não existiam sequer talheres; independente da classe econômico-social comia-se com as mãos. No século XIII Tannhäuser orienta que “não se deve palitar os dentes com a faca, afrouxar o cinto sentando-se à mesa, assoar-se com a mão durante as refeições, devolver à travessa os restos do que comeu”. Em 1558 o arcebispo Giovanni della Casa, além de propor que o homem reduza o número de cusparadas, orienta: “Tu não deves, depois de te assoares, abrir o lenço e olhar o que este contém, como se pérolas ou rubis te houvessem descido do cérebro pelo nariz”. Em 1672 não é mais admissível que se boceje diante dos outros nem que se cuspa no chão.
As regras de etiqueta, convenções sociais reconhecidamente aceitáveis, além de exprimir um rito prazeroso de reiteração da ordem social permitirão ainda exercer a cortesia que tanto dignifica e honra quem a pratica. E a cortesia está intimamente ligada à honra pois: “Se a etiqueta prevê, com exatidão, até mesmo quem deve tomar a iniciativa de estender a mão ou cumprimentar, ela também abre iniciativa à cortesia: a honra não está apenas em ser o primeiro, está muitas vezes em saber ceder este lugar. É honroso honrar, ou (em outras palavras) só quem tem honra pode oferecê-la.”
Vaidosos, desde os primórdios de nossa sociedade guerreira, a questão da honra refere-se à avaliação pública sobre o respeito que os indivíduos julgam merecer. A honra está portanto, intimamente ligada ao orgulho, ao amor-próprio, ao anseio de imortalidade e a distinção que se deseja obter entre os semelhantes. Nada mais nobre.
Leia esse artigo na íntegra no site da ESDC: http://www.esdc.com.br/
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