“Aquele que ama o Saber, não tem desejo de Poder” Platão
Gnoseologia é o nome que se dá aos modos de conhecer. Uma das possibilidades do lógos é o raciocínio dialético, com o qual, num movimento ascendente, alcançamos as “Idéias”, formas puras e que, de tão abstratas, tais como os seres matemáticos (que tanto das Idéias se aproximam), podem ser somente inteligíveis.
Será ao exercitarmos o poder de intelecção que está na Alma, que contemplaremos, por exemplo, a suprema Idéia de Bem. Para que possamos compreender melhor como Platão apresenta nossa liberdade e poder de escolher (ou não) o Bem, convém ponderarmos sobre sua teoria da Alma.
Se o que nos iguala é a harmonia, a justa-medida, a temperança, em grego: “Sophrosyne”, o que nos diferencia são as proporções da Alma. Segundo o Filósofo, todos nós dispomos de Alma e essa é composta por 3 (três) partes, que na verdade são “modos de desejar”, potências (dýnamis) de ordem Epitimética, Timocrática e Logística.
A parte Epitimética é a “desejante”, em busca da satisfação de plenitude para todas as nossas necessidades físicas, corporais, tais como saciar (preferencialmente em deleite) a fome e a sede, de repousar o corpo quando vencidos pelo cansaço, da apreciação do conforto e dos demais prazeres sensíveis, que são os que acessamos através dos sentidos: olfato, audição, visão, paladar e tato. Compartilhamos essa parte da Alma com os animais. Considerado o “pai da psicanálise” Sigmund Freud atentou para o fato de que esse é um princípio fundamental e primitivo do homem: o de buscar o prazer e de evitar a dor. Mas, não nos limitemos à nossa animalidade.
Quanto à parte Timocrática, do timós, do peito (coração), é guerreira, corajosa, desejante de glória e de aplausos; E a Logística, ordenadora, é a mais requerida pelos filósofos, intelectuais e demais pensadores. Cabe ressaltar que todos nós possuímos esses três modos de desejar, que variam, em termos de aptidão, para uma ou outra inclinação com mais ênfase.
Convêm adequarmos as pessoas conforme suas aptidões para cada estamento. levando-se em conta as tendências predominantes da Alma: Epitimética, Timocrática ou Logística. Para citar um exemplo, temos a parte Epitimética relacionada à produção de nossos bens, no mundo da práxis e techné; na parte Timocrática, podemos identificar com nosso exército e todos àqueles que zelam por nossa segurança e, valendo-se de uma predominância na parte Logística da Alma, temos como exemplo o Governo e os guardiões de Justiça que, em tese, tanto se empenham a fim de se atingir a excelência enquanto seres humanos.
Nota-se aqui certo elitismo, posto que as três partes desejantes da Alma incorporam hierarquia categoricamente imposta pelo próprio lógos. Isso se torna ainda mais patente e é corroborado, se considerarmos que a “areté” (excelência) do homem, citada acima, se completa como zoologikon e zoopolitikon, ou seja, desenvolver o lógos, o pensar e a capacidade de viver (agir/ação) em conjunto, na pólis. Note-se que, enquanto zoo, limitamo-nos à parte Epitimética.
Ao estamento Logístico, impõe-se a “visão do todo”. “Theorein” é a palavra grega para “contemplar”, e, teorizar só se torna possível diante da ampla visão de conjunto. Digno de nota é que todas essas partes da Alma são passíveis de desequilíbrio e que podemos antever dois modos em que o Logístico se excederia: a) deslumbrar-se por honras mundanas (holofotes, tapetes vermelhos e/ou corrompendo-se por riquezas) ou, b) adoção de uma postura asceta, de isolar-se em seus pensamentos, como numa torre de marfim: sábio, talvez; inativo, comprovadamente.
Vivemos inseridos num mundo de geração e corrupção, ou seja, na physis (natureza), chronos (o tempo) devora tudo o que cria. E tudo renasce num incessante vir-a-ser. Morre a singularidade (o particular), mas a geração (o universal) permanece. Eis o mortal e o imortal.
Quanto a nós, nem de todo divinos nem completamente mortais, enquanto Almas, por methéxis (por participação, como os metecos que viviam e participavam da vida na antiga Atenas, mas não eram considerados cidadãos gregos) somos detentores de um daimon de livre acesso e, por koinonia (comunidade/unidade comum) nossa Alma toca o imortal, que são as Idéias, os Princípios, cujo maior é o Bem.
Toda ação humana, proveniente de quaisquer uma dessas três partes da Alma é encaminhada por esse daimon, ou seja, tem Eros, esse enlace que gera novos seres, produtos e pensamentos (nos reinos da física, da prática e das contemplações), cujo télos (propósito, objetivo, finalidade) é o nobilíssimo: fazer com amor.
Das três partes da Alma, é a Logística detentora de lógos e esse pensa, reflete, empreende, fala, recolhe, diz e escreve, exprimindo-se de muitos modos.
O nôus, não realiza julgamento ético, não sentencia. A parte de nossa Alma (Psyché/daimon) que se dirige á ética e à política, passível de ser educado é a força divina do logístico, o phronesain. Será através do phronesain que nossa Alma sentenciará, realizando julgamentos éticos.
Diante de uma aporia (uma situação sem saída) tal como no exemplo dos cinco dedos, citados pelo autor em sua obra “A República”, de que são e não são semelhantes, colocando-nos diante de uma mesmidade e alteridade, é o phronesain, “olho da Alma”, potência da Alma relativa ao saber prático, da práxis, que fará a escolha. Enquanto não se decide, se impera a crisis (impasse).
Eis que a Prudência aristotélica é a Phronêsis platônica, é a escolha boa, deliberada; exercício ético-político da ação com valor, pois considera (sidério, do latim = estrelas) o outro como uma extensão de si mesmo. Não por acaso, é à parte Logística de nossa Alma, detentora de phronesain, que é dirigido o apelo ao DEVER explicitado no Primeiro Artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não acredito ser por mera coincidência que esta seja também a primeira “Ordem” enviada aos homens por Zeus, o ordenador do Cosmos, para que prevaleça nossa semelhança.
Se, enquanto homens, como nos dedos de nossas mãos, somos visível e inteligivelmente diferentes, é enquanto Almas divinas, imortais, enquanto “dedos”, que somos exatamente iguais. Insistir em considerar somente um lado dessa questão é uma grande injustiça.
Gnoseologia é o nome que se dá aos modos de conhecer. Uma das possibilidades do lógos é o raciocínio dialético, com o qual, num movimento ascendente, alcançamos as “Idéias”, formas puras e que, de tão abstratas, tais como os seres matemáticos (que tanto das Idéias se aproximam), podem ser somente inteligíveis.
Será ao exercitarmos o poder de intelecção que está na Alma, que contemplaremos, por exemplo, a suprema Idéia de Bem. Para que possamos compreender melhor como Platão apresenta nossa liberdade e poder de escolher (ou não) o Bem, convém ponderarmos sobre sua teoria da Alma.
Se o que nos iguala é a harmonia, a justa-medida, a temperança, em grego: “Sophrosyne”, o que nos diferencia são as proporções da Alma. Segundo o Filósofo, todos nós dispomos de Alma e essa é composta por 3 (três) partes, que na verdade são “modos de desejar”, potências (dýnamis) de ordem Epitimética, Timocrática e Logística.
A parte Epitimética é a “desejante”, em busca da satisfação de plenitude para todas as nossas necessidades físicas, corporais, tais como saciar (preferencialmente em deleite) a fome e a sede, de repousar o corpo quando vencidos pelo cansaço, da apreciação do conforto e dos demais prazeres sensíveis, que são os que acessamos através dos sentidos: olfato, audição, visão, paladar e tato. Compartilhamos essa parte da Alma com os animais. Considerado o “pai da psicanálise” Sigmund Freud atentou para o fato de que esse é um princípio fundamental e primitivo do homem: o de buscar o prazer e de evitar a dor. Mas, não nos limitemos à nossa animalidade.
Quanto à parte Timocrática, do timós, do peito (coração), é guerreira, corajosa, desejante de glória e de aplausos; E a Logística, ordenadora, é a mais requerida pelos filósofos, intelectuais e demais pensadores. Cabe ressaltar que todos nós possuímos esses três modos de desejar, que variam, em termos de aptidão, para uma ou outra inclinação com mais ênfase.
Convêm adequarmos as pessoas conforme suas aptidões para cada estamento. levando-se em conta as tendências predominantes da Alma: Epitimética, Timocrática ou Logística. Para citar um exemplo, temos a parte Epitimética relacionada à produção de nossos bens, no mundo da práxis e techné; na parte Timocrática, podemos identificar com nosso exército e todos àqueles que zelam por nossa segurança e, valendo-se de uma predominância na parte Logística da Alma, temos como exemplo o Governo e os guardiões de Justiça que, em tese, tanto se empenham a fim de se atingir a excelência enquanto seres humanos.
Nota-se aqui certo elitismo, posto que as três partes desejantes da Alma incorporam hierarquia categoricamente imposta pelo próprio lógos. Isso se torna ainda mais patente e é corroborado, se considerarmos que a “areté” (excelência) do homem, citada acima, se completa como zoologikon e zoopolitikon, ou seja, desenvolver o lógos, o pensar e a capacidade de viver (agir/ação) em conjunto, na pólis. Note-se que, enquanto zoo, limitamo-nos à parte Epitimética.
Ao estamento Logístico, impõe-se a “visão do todo”. “Theorein” é a palavra grega para “contemplar”, e, teorizar só se torna possível diante da ampla visão de conjunto. Digno de nota é que todas essas partes da Alma são passíveis de desequilíbrio e que podemos antever dois modos em que o Logístico se excederia: a) deslumbrar-se por honras mundanas (holofotes, tapetes vermelhos e/ou corrompendo-se por riquezas) ou, b) adoção de uma postura asceta, de isolar-se em seus pensamentos, como numa torre de marfim: sábio, talvez; inativo, comprovadamente.
Vivemos inseridos num mundo de geração e corrupção, ou seja, na physis (natureza), chronos (o tempo) devora tudo o que cria. E tudo renasce num incessante vir-a-ser. Morre a singularidade (o particular), mas a geração (o universal) permanece. Eis o mortal e o imortal.
Quanto a nós, nem de todo divinos nem completamente mortais, enquanto Almas, por methéxis (por participação, como os metecos que viviam e participavam da vida na antiga Atenas, mas não eram considerados cidadãos gregos) somos detentores de um daimon de livre acesso e, por koinonia (comunidade/unidade comum) nossa Alma toca o imortal, que são as Idéias, os Princípios, cujo maior é o Bem.
Toda ação humana, proveniente de quaisquer uma dessas três partes da Alma é encaminhada por esse daimon, ou seja, tem Eros, esse enlace que gera novos seres, produtos e pensamentos (nos reinos da física, da prática e das contemplações), cujo télos (propósito, objetivo, finalidade) é o nobilíssimo: fazer com amor.
Das três partes da Alma, é a Logística detentora de lógos e esse pensa, reflete, empreende, fala, recolhe, diz e escreve, exprimindo-se de muitos modos.
O nôus, não realiza julgamento ético, não sentencia. A parte de nossa Alma (Psyché/daimon) que se dirige á ética e à política, passível de ser educado é a força divina do logístico, o phronesain. Será através do phronesain que nossa Alma sentenciará, realizando julgamentos éticos.
Diante de uma aporia (uma situação sem saída) tal como no exemplo dos cinco dedos, citados pelo autor em sua obra “A República”, de que são e não são semelhantes, colocando-nos diante de uma mesmidade e alteridade, é o phronesain, “olho da Alma”, potência da Alma relativa ao saber prático, da práxis, que fará a escolha. Enquanto não se decide, se impera a crisis (impasse).
Eis que a Prudência aristotélica é a Phronêsis platônica, é a escolha boa, deliberada; exercício ético-político da ação com valor, pois considera (sidério, do latim = estrelas) o outro como uma extensão de si mesmo. Não por acaso, é à parte Logística de nossa Alma, detentora de phronesain, que é dirigido o apelo ao DEVER explicitado no Primeiro Artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não acredito ser por mera coincidência que esta seja também a primeira “Ordem” enviada aos homens por Zeus, o ordenador do Cosmos, para que prevaleça nossa semelhança.
Se, enquanto homens, como nos dedos de nossas mãos, somos visível e inteligivelmente diferentes, é enquanto Almas divinas, imortais, enquanto “dedos”, que somos exatamente iguais. Insistir em considerar somente um lado dessa questão é uma grande injustiça.
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