Clicando sobre as imagens, elas ampliam.
Sem dúvida, PARASITA, o filme vencedor do Oscar 2020, dirigido pelo sul coreano Bong Joon-Ho, suscita inúmeros olhares, permitindo alguns recortes interessantes.
Há muitas críticas inteligentes referentes a película, sobretudo no que diz respeito a parte, digamos que, mais técnica: roteiro, direção, fotografia, elenco, etc.
Como no frontispício do deus grego da saúde e da harmonia, Apolo, no templo de Delfos, aqui também vale o “Nada em excesso”.
A justa medida, o métron grego revela-se viável, algo a nos pautar.
Sem dúvida, PARASITA, o filme vencedor do Oscar 2020, dirigido pelo sul coreano Bong Joon-Ho, suscita inúmeros olhares, permitindo alguns recortes interessantes.
Há muitas críticas inteligentes referentes a película, sobretudo no que diz respeito a parte, digamos que, mais técnica: roteiro, direção, fotografia, elenco, etc.
Na presente análise, ponderamos o quanto
o ambiente (espaço físico) das moradias
influencia na psique, pois a discrepância das casas das duas famílias
retratadas no filme é um dos vieses que mais chama a atenção.
Sábio, o filósofo alemão Friedrich
Nietzsche afirmou que para viver bem é preciso saber escolher onde morar, o que comer e com quem se
relacionar. Sem dúvida, morar bem é fundamental, mas há quem não tenha opção
de escolha.
Desde os primórdios, ainda no tempo
das cavernas, após cumprir a função de garantir segurança e privacidade, a moradia
evoluiu e se aprimorou cada vez mais, passando a proporcionar conforto e demarcar status social, balizado,
sobretudo por localização, metragem, projeto arquitetônico e materiais de acabamento.
A residência talvez seja o mais
explícito símbolo de posição numa estratificação social. E, se o que
classificamos como sendo moradia de uma classe baixa é passível de divergência,
o conceito de como é a habitação de pessoas de alto poder aquisitivo - independente do lugar no mundo - não deixa margem
para muitas dúvidas.
Por nos trazer dois exemplos extremos
– em termos socioeconômicos –, em PARASITA, a questão da moradia salta aos
olhos. Aliás, diríamos que, mais que mero “pano de fundo”, ambas moradias são
também protagonistas da trama.
Àquilo que o florentino Nicolau Maquiavel,
considerado “Pai” da ciência política moderna, ponderou como sendo a má Fortuna, quando evidenciada pelo CEP,
não é – graças à Virtù –
necessariamente, destino. Ainda mais se atentarmos ao democrático papel da Internet no
mundo contemporâneo.
Astúcia e acesso à Internet. Em
PARASITA, vemos como os membros da família desfavorecida utiliza desses
expedientes – de forma nem sempre ética – para ascender socialmente.
Graças ao Wi-Fi roubado, aprende-se a dobrar caixas de pizzas, arteterapia, falsificar certificados, mecanismo de direção de um carro Mercedes, etc.
Graças ao Wi-Fi roubado, aprende-se a dobrar caixas de pizzas, arteterapia, falsificar certificados, mecanismo de direção de um carro Mercedes, etc.
Mas não é sobre a licitude ou não
desses atos que versamos, em nosso horizonte está a questão da
disparidade das moradias de ambas famílias, algo que, infelizmente, testemunhamos haver em
praticamente todo o mundo.
Para compreender que essa diferença é antiga e, infelizmente, eterna, convido o leitor a apreciar o
artigo que redigi sobre a teoria tríplice da Alma, onde Platão esclarece AQUI de
forma absolutamente clara, lógica, coerente e lúcida porque é uma utopia
almejar que sejamos todos iguais. Não, não somos. Jamais seremos. Mas talvez haja algo a ser feito. Prossigamos.
Atentemos ao fato de que,
basicamente, o que caracteriza recursos
(riqueza/poros) é o ter. Já a pobreza é a falta (penia, daí penúria). Como nos ensina Platão, n’ “O Banquete”, Eros, é fruto de ambos (poros e penia), une, amalgamando
àquele que dispõe ao qual falta.
PARASITA expõe o modus vivendi, e, consequentemente, modus operandis evidenciando a relação de interdependência
que há entre abastados e desafortunados, o que nos lembra o papel de Eros: um elo a unir o que têm ao qual falta.
Há todo um portentoso extrato social sem
acesso à educação que se beneficia da aversão e/ou inépcia dos abastados aos
serviços braçais, domésticos.
Esta é uma realidade evidente,
sobretudo em países subdesenvolvidos e/ou em desenvolvimento como o nosso Brasil, onde os
investimentos governamentais em educação são perfidamente negligenciados.
Em termos de moradia, o rico dispõe
de segurança, privacidade, luz, espaço, beleza, ordem, limpeza e conforto. Já
ao pobre, falta tudo isso e mais um pouco.
O quanto e até que ponto, o “TER”
influência o que somos, o famoso “SER”?
Há uma cena no filme que deixa entrever a resposta, quando o pai da
família pobre afirma: “Eles são ricos,
mas são legais”, ao que a mulher corrige: “São legais porque são ricos”.
Trata-se de um círculo vicioso, que
se retroalimenta. Esse mecanismo pode ser observado também na esfera da miséria, onde paira a
angustiante atmosfera de limitações que, coroada pela imundice, eventualmente contribui para a eclosão da impaciência ou até
mesmo da violência, além de ser porta larga para saídas ditas mais “fáceis”.
Enquanto que a moradia da família abastada é arquitetonicamente planejada, numa
edificação que prioriza a luz, a amplitude dos espaços e o minimalismo, a moradia da família pobre é improvisada,
escura, suja e com notório acúmulo de objetos.
Transitar em meio à beleza, a ordem e o frescor,
influencia nossas emoções. Seja na casa, seja no corpo, todos nós nos sentimos
muito melhor asseados e perfumados. Aliás,
a questão do aroma também é basilar em PARASITA.
Causa um profundo (e, às vezes,
indizível) mal-estar na psique viver inserido no caos, pois a
desordem exterior suscita e também promove certa desordem interior.
Diferente da riqueza, quase sempre clean, iluminada e asséptica, a pobreza convive
com indesejáveis insetos, maus odores, tralhas,
enfim, inutilidades.
Cabe ressaltar que, ao menos em PARASITA, a união familiar é
algo que salta aos olhos em ambas famílias, talvez até mais naquela
desfavorecida. Ali são, um por todos e todos por um.
Não há riqueza maior que contar com o esteio dessa coesão consanguínea. A cumplicidade que permeia toda a família é notória, convivem na pobreza, de ordem material, não de afeto.
Não há riqueza maior que contar com o esteio dessa coesão consanguínea. A cumplicidade que permeia toda a família é notória, convivem na pobreza, de ordem material, não de afeto.
Os ricos de hoje diferem dos de outrora (vide a época vitoriana), quando o minimalismo
não era a diretriz, algo a se almejar.
Representando a atualidade, oportuna e apropriadamente, o chefe
da casa da família abastada trabalha em área tecnológica. A nova elite é
vanguardista e seu habitat explicita
isso.
Em PARASITA, a mobília (exceto
talvez, pelos quartos dos filhos) é composta do mínimo necessário, em contraponto à moradia dos desfavorecidos, visivelmente
acumuladores, incluindo os fracassos em suas empreitadas profissionais.
Observamos também que, folgados e
espaçosos, quando os pobres têm uma oportunidade de desfrutar do ambiente e das
iguarias dos ricos, são bagunceiros, trazendo a anarquia já impressa na alma. E relutam a reconhecer e ajudar seus homóis (iguais).
A contemplação da beleza presente na
natureza, como um jardim, são elementos concretos que nos envolvem numa aura benfazeja, impactando beneficamente
a nossa vida como um todo.
Embora saibamos que residir numa ampla mansão minimalista
não é condição sine-qua-non nem passaporte para a felicidade, é inegável que lutar para morar com dignidade deve ser um ideal
almejado, e, claro, alcançado por todos nós.
Como no frontispício do deus grego da saúde e da harmonia, Apolo, no templo de Delfos, aqui também vale o “Nada em excesso”.
A justa medida, o métron grego revela-se viável, algo a nos pautar.
Nem 8 nem 80: entre
a exuberante residência dos Park e a humilhante moradia da família Kim, entre o preto e o branco, há toda
uma gama de nuances perfeitamente dignas, aconchegantes e habitáveis.
Como a nossa casa, por exemplo, de onde podemos planejar ações que exijam dos políticos - ELEITOS POR NÓS! -, que atentem ao bom uso dos recursos que entregamos sob suas responsabilidades, minimizando tais disparidades.
Os inteligentes jovens acima merecem isso, todo nosso respeito, atenção e empenho.
Luciene Felix Lamy
Whats (13) 98137-5711
AQUI, o ANTES e o DEPOIS de uma moradia de uma família em Guaianases (Zona Leste de SP) que encontrei através do Facebook.
Abaixo, o prestimoso trabalho de Luciana e Siomara, duas amigas que se dedicam a organizar e deixar sua casa impecável.
Um comentário:
Excelente trabalho, Luciene! <3
Ao lê-lo lembrei-me do “Universo 25” (a caixa gigante, projetada para ser uma “utopia roedora) e o problema da superpopulação e o caos que isso criou e a sua controvérsia:
“Um estudo recente apontou que Universo 25 não estava, se olhado como um todo, superpopulado. Os “apartamentos” no final de cada corredor tinham apenas uma entrada e saída, tornando-os fáceis de guardar. Isso permitiu que os machos mais territoriais e agressivos limitassem o número de animais em cada aposento, superlotando o resto da caixa, enquanto isolava os poucos “bonitos” que viviam em uma sociedade “normal”. “
Em vez de um problema de população, pode-se argumentar que o Universo 25 tinha um problema de distribuição justa. O que também poderia muito bem acontecer conosco, uma vez que os humanos são mestres em desigualdade. (*.~) Bjks. Nac
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