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1 de jun. de 2018

Sobre ALMAS GÊMEAS...

"Não se trata somente de união sexual, mas de 'uma coisa' que a alma de um quer da alma do outro". Platão

Indômita potência, inspirador de virtudes, a divindade mais antiga, eterno, universal, pois presente em todo cosmos, belo e jovem, o amor é a busca pela unidade e também um tipo de delírio.
Especialmente neste mês dos namorados, insisto no poder que o amor possui. Segundo Platão, o amor é fruto de Póros e Penia (abundância e falta). Tendo isso em mente é compreensível o afã de encontrar uma alma que nos complete.
Eis o sonho de todos aqueles nos quais um coração pulsa, bombeando sangue até o último suspiro. De onde vem essa ideia (ou sensação, se preferir) de incompletude? Como a mitologia grega explica a existência de almas gêmeas? É algo somente casais heterossexuais?
Um dos mitos gregos que ilustra bem a condição da busca pela alma gêmea é o proferido pelo comediógrafo Aristófanes, no início da obra "O Banquete" (sobre o Amor), de Platão.
No famoso mito dos andróginos, os seres humanos, inicialmente, eram de três tipos: homemmulher e andróginos. E também eram duplicados (dois em um só) e unidos pelo umbigo. Tínhamos então, dois homens "colados"; duas mulheres também unidas e, por fim, o terceiro tipo, os andróginos, juntos e de sexo opostos.
Reza o mito que Zeus, o soberano do Olimpo, observa-os e constata que são muito presunçosos, autossuficientes, felizes. Foi então que, preocupado e temendo que resolvessem escalar os céus e investir contra os deuses, decide enfraquecê-los dividindo-os ao meio para que, na busca desesperada por sua "outra metade" esqueçam do poder que possuem.
Eventualmente, quando qualquer um desses três tipos encontrava sua outra metade ficava tão embasbacada e feliz que não faziam mais nada a não ser pensar no ardor de se fundirem novamente: enlaçavam-se com seus pares e não se desgrudavam.
Ficavam inertes, pois nada queriam fazer longe um do outro. Resultado: ao menos um, morria de inanição. E o que sobrevivia, tornava a buscar novamente uma outra "metade".
Foi então que Zeus, o ordenador do Cosmos, tomado de compaixão, temendo que se dizimassem, mudou-lhes o sexo para a frente, para que pudessem gerar novos seres.
Segundo esse mito, o amor entre almas gêmeas ocorre quando se encontra no outro uma parte que seja igual, idêntica àquilo que já se possui em si mesmo.
Predileções sexuais à parte, o amor entre os iguais (homói) é de uma ordem de ideias, de interesses comuns, e o grego hierarquizava o amor, colocando o amor espiritual acima do amor físico, sensual, carnal, por isso o amor platônico (ideal) é, nesse sentido, perfeito.
Não há como afirmar a existência de uma única alma gêmea. Polítropos, seres humanos são multifacetados e, ao antropomorfizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características humanas, não fizeram mais do que retratar a si mesmos, em seus múltiplos anseios.
Os encontros e desencontros fazem parte do que se denomina "aspectos das divindades". E como são diversos esses aspectos!
Há a divindade do erotismo, presidido pela deusa Afrodite e seu filho Eros (Vênus e Cupido), a divindade do matrimônio, deusa Hera (Juno), a presidir os amores legítimos, a divindade da desordem, do caos, do bacanal, da orgia, que é encabeçado por Dioniso (Bacco), o deus do vinho e do êxtase, e muitos outros.
Todos eles fazem parte de nossa psyché (Alma) e, certamente, existem almas que, num determinado momento de nossas vidas, estarão sendo "mais gêmeas" com a nossa alma que qualquer outra.
E, uma das coisas que nossa alma gêmea tem a nos ensinar, certamente é sobre nós mesmos: "Semelhante atrai semelhante", afirma o inglês estudioso de magia do século XVII, Sir James Frazer em "O Ramo de Ouro".
Essa "alma gêmea" nos faz falta porque Eros, que personifica o poder de união, que é a maior dýnamis, potência do universo é dos deuses mais antigos e a tendência (do grego, pathós) do ser humano é se unir a outro alguém.
Obviamente, quando essa tendência se dirige a uma pessoa de forma muito insistente, ela se torna uma patologia, ou seja, uma doença. E doença do coração, da alma, só se cura com a lucidez da razão.
Sem dúvida, a primeira condição para que encontremos "alma gêmea" é que estejamos realmente ansiosos e dispostos a isso. Para exemplificar como essa sintonia e reencontro de almas pode acontecer, recorramos ao grande poeta Hesíodo (600a.C), que em sua obra "Teogonia" esclarece que Zeus é kydistos, pois possui o "Kydós".
A palavra grega Kydós (variação de Niké, que é vitória) é uma derivante de Kleós (glória) é, portanto, um dos atributos de Zeus. Num combate entre dois guerreiros, àquele no qual Zeus encontraste o kydós (a marca da vitória) era destinado vencer, ou seja, o vencedor já até sabia que sairia vitorioso da batalha porque trazia a vitória dentro de si.
Do mesmo modo, estamos na vida como entidades livres, leves e soltas. A partir do momento em que acalentamos o interesse amoroso, o desejo de união em nós, certamente isso será captado e apreendido por alguém que também esteja se sentindo desejoso de amor. Eis o segredo! Ou melhor, não há segredo.
Convém esclarecer ainda que, embora esteja assentado para o senso comum que o amor platônico é o amor ideal e perfeito, ele é também irrealizável. Ao menos por um tempo muito longo: o amor platônico se dá no campo mental, na idealização do ser amado. Acontece que tudo isso é muito lindo e maravilhoso no campo das ideias mesmo.
No entanto, a realidade é que vivemos aqui na terra, sujeitos às mudanças, aos humores e à corrupção de Chronos (Saturno, o deus do Tempo). Somos perecíveis, enrugamos, envelhecemos, a perfeição se esvai com o tempo.
Mas isso não significa, obrigatoriamente, o fim do amor. Daí a necessidade de se ter maturidade para manter constância em cultivar o amor, não somente do corpo, mas sobretudo da Alma. E vale a pena. Até porque, na condição de mortais, como afirma Platão, será a ação (do Amor) o que garantirá alcançarmos a imortalidade que nos é possível.

Com estima e consideração para o querido amigo Anthony Majanlahti.

Luciene Felix Lamy
Professora de Filosofia e Mitologia Greco-romana
WhatsApp (13) 98137-5711

2 comentários:

avvilibber28 disse...

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Anônimo disse...

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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

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As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

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TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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