
“o dever não é uma coisa imposta, mas algo que me incumbe”. Sören Kierkegaard
O filósofo e teólogo dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855) é considerado precursor do existencialismo, tendo influenciado Heidegger, Sartre e Kafka, além de Thomas Mann e Ibsen. Considerado o mais profundo intérprete da psicologia e da vida religiosa desde Santo Agostinho, ao apontar o desespero e a angústia inerentes a todos nós, legou-nos uma profunda análise da consciência humana. Dentre suas obras destacamos: Ou Isto ou Aquilo, Diário de um Sedutor, O Desespero Humano, e Temor e Tremor.
O filósofo e teólogo dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855) é considerado precursor do existencialismo, tendo influenciado Heidegger, Sartre e Kafka, além de Thomas Mann e Ibsen. Considerado o mais profundo intérprete da psicologia e da vida religiosa desde Santo Agostinho, ao apontar o desespero e a angústia inerentes a todos nós, legou-nos uma profunda análise da consciência humana. Dentre suas obras destacamos: Ou Isto ou Aquilo, Diário de um Sedutor, O Desespero Humano, e Temor e Tremor.
Para ele, o homem nasce com corpo e alma e, aos poucos, durante sua existência, através de suas escolhas, vai construindo o Espírito. “A verdade é a subjetividade”, não se escapa desta que é, para o indivíduo, sua própria medida e significação. Às etapas que constituem o caminhar ao transcendente, Kierkegaard denominou de “Stadium” e estes são o estético, o ético e o religioso. São etapas autônomas e descontínuas, pois a passagem de um estágio a outro se dá através de uma brusca ruptura ou de um salto.
Quando se encontra no estágio estético, que é o mundo da matéria, o homem vive no e para o “aqui e agora”. É neste estágio que nos deparamos com a mesquinhez e o narcisismo, onde nada é estritamente impossível. O que interessa ao homem deste estádio é o Don Juanesco jogo da sedução, da manipulação onde os meios justificam-se pelos fins. O sujeito apropria-se do entorno e faz de sua existência uma representação exclusivamente individual, não considera a instância de deveres éticos ou das obrigações sociais, esgota-se na exterioridade representada. O esteta vive na esferas das possibilidades e a expressão desse sujeito é sua rica, variada e vasta mobilidade de sentimentos.
Na obra “O Diário de um Sedutor” encontramos o personagem Johannes, um ardiloso jovem que goza, acima de tudo, da possibilidade da conquista mais que do próprio objeto da conquista. Ele faz da inocente Cordélia sua vítima e a vê como uma “presa” a ser meticulosa arrebatada e ardilosamente descartada. Por se tratar de um personagem extremamente inteligente e consciente, possuidor de uma visão de mundo onde coloca-se acima de tudo e de todos, uma das facetas de sua personalidade é a ironia.
No entanto, a insaciável e perpétua busca por novidades conduz ao desespero. Na vida do homem do estágio estético, submerge inevitavelmente a melancolia – que é fruto de uma personalidade que permanece na imediatidade, absolutamente desprovida de uma reflexão ética.
À partir de um salto para o estágio ético, o homem busca se auto-afirmar como sujeito, caminha para a realização dos deveres expressos por seus julgamentos de conduta ético-moral. O personagem que retrata essa transformação é o do juiz Guilherme. Segundo Reichmann “A personalidade quer tomar consciência de si mesma em sua validez eterna. Se isto não suceder o movimento permanece contido e, se a personalidade é reprimida, então surge a melancolia. Muito se pode fazer para mergulhá-la no esquecimento. Pode-se trabalhar, distrair-se, mas a melancolia permanece. Na melancolia existe algo de inexplicável. Quem tem sofrimentos e preocupações conhece sua causa. Quando se pergunta a um melancólico qual a razão de sua melancolia, o que o oprime, responderá que não sabe, que não pode explicá-lo. Nisto consiste o infinito da melancolia. Desde em que se a conhece, a melancolia deixa de existir, enquanto que o sofrimento do aflito não cessa pelo fato de conhecer a causa da aflição. A melancolia é um pecado de não querer profunda e sinceramente”.
Kierkegaard afirma que será por meio de suas escolhas que este homem vivenciará sua história, sendo esta parte indissociável das opções que fizer. No esteta, o mundo é terreno das sensações agradáveis; no estágio ético, o homem está consagrado às leis morais. Segundo esta teoria, desde sua origem, o homem encontra-se na “não-verdade” e, não podendo ser sua própria referência, necessita de um mediador externo ao “eu”.
A única esperança para o desespero humano está na compreensão da própria existência, que é finita. E tal compreensão só se alcança pela fé. Todas estas alternativas possíveis representam um risco e, como Kierkegaard quer que o homem se veja impulsionado pelo infinito, sua decisão tem de optar entre o Todo ou o Nada.
No estágio religioso supõe-se a intervenção de um elemento exterior, descortina-se uma nova e paradoxal realidade, trata-se da fé, da crença numa instância superior, num “Deus”. Convém ressaltar que, mesmo religioso, Kierkegaard foi um crítico mordaz das instituições religiosas, apontando-as como monopólio organizado, que tratam de administrar o que pertence ao domínio privado da alma individual: a fé.
Este estágio é pessoal, subjetivo. Pode ser ou não vivenciado com fervor por um rude e anônimo camponês, como também pelo mais elevado intelectual. Este salto que é dado mediante a relação direta entre o homem e Deus está retratado no mito judáico-cristão de Abraão, a quem seu Deus pede o sacrifício do filho Isaac. Trata-se de uma questão puramente de fé. Sabemos que, ao final, Deus suspende a realização desta prova.
A fé exige o sacrifício de Isaac, ou seja, um salto no escuro, a disposição sincera de abdicar daquilo que consideramos mais precioso. Paradoxalmente, “é preciso puxar a faca para que se possa ter Isaac de volta”. Isso é fé.
Saiba mais: Kierkegaard, Sören. Johannes Climacus ou é preciso duvidar de tudo. Prefácio e notas de Jacques Lafarge. Tradução de Silvia Saviano Sampaio. Revisão de Álvaro Valls e Else Hagelund. São Paulo, Martins Fontes, 2003.
4 comentários:
Sempre é bom saber que ainda tem indivíduos que escrevem e acreditam na filosofia de Kierkegaard.
Parabéns.
Edgar
Fiz minha monografia em Kierkegaard já faz algum tempo. Agora resolvir retomar meus estudos sobre o autor.gostei muito do artigo sobre os estagios na obra deste autor.
Parabéns...
Heronilse Santos Leão
Eu sou um estudante das obras de Kierkegaard .
Sua visita é bem-vinda !
http://osexistencialistas.blogspot.com.br/
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