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17 de abr. de 2020

COVID-19: O que há de novo sob o sol?


“Eles têm medo do amor porque o amor cria um mundo que eles não podem controlar". George Orwell.


Não é de hoje que, atônita, a humanidade é surpreendida por moléstias com mortandade em escalas aterrorizantes.

Mas, desde os tempos mais remotos, o que permanece igual e o que mudou na forma com a qual lidamos com essas tragédias?

Democrática, a palavra PANDEMIA reúne todos (pan) + povos (demos).

Na antiguidade, quando algo de nefasto assolava uma comunidade, buscava-se a redenção do “castigo divino” por meio da expiação (reparação) das faltas através do clamor e dos sacrifícios aos deuses.

Um dos exemplos deste “modus vivendi/modus operandi” está na a calamitosa situação de Tebas, trazida pelo mais “raiz” dos tragediógrafos, o monumental Sófocles, em 427 a.C.

Sim, buscar inteligir e barganhar com a metafísica é coisa muito antiga. E, paradoxalmente, atualíssima, como veremos adiante.

O povo, então, se empenhava em identificar e banir o miasma (mancha, mácula), expulsando a provável causa daquilo – melhor dizendo, de quem – os arruinava.

É desse contexto que surge a figura do bode expiatório, literalmente, um clássico.

Avançando mais um pouco até a Idade Média (1347), a Peste Negra (transmitida pelas pulgas dos ratos), também nominada Peste bubônica (as feridas formavam bulbos na pele) impiedosamente dizimou um terço da população europeia.

Nesta, elegeu-se por bode expiatório, dentre outros, os judeus. Na Pandemia que enfrentamos hoje, apressa-se em apontar os chineses e seus suspeitáveis hábitos alimentares.

No entanto, uma vez que alimentação requereria um texto à parte e, talvez, somente os sábios pitagóricos (vegetarianos) estivessem em posição de objetar com propriedade, prossigamos.

Desde os primórdios, evidenciando nossa vulnerabilidade diante da inevitável (a morte), o medo fortifica a Fé.

A fragilidade humana diante da Peste medieval, por significativo período, solidificou (talvez seja apropriado dizer “glorificou”) a Igreja. Mesmo que, no 5º ano de Peste, após obstinado apelo ao povo que confiassem em Deus, grande parte do clero tenha desertado, causando imensa revolta na população.

“Gatilho” elevado à máxima potência, a aterrorizante ameaça de morte nos torna mesmo reféns do acaso, da “vontade de Deus”.

Isso é ainda mais dramático, sobretudo, quando estamos cônscios de que nem mesmo uma portentosa e sólida posição social e/ou econômica, garante que a foice nos distinga dos demais.

Evidente, este fato corrobora o desespero com o qual recorremos à metafísica (Fé) em busca do alento que apazigue nossa alma e nos acene com sobrevivência.

A igreja, atacada pela ineficácia diante da Peste, mas já solidificada, passada a tormenta, prosseguiu e, detentora do calendário das feiras (comércio), também impulsionou a economia, promoveu o bem-estar social e patrocinou o Renascimento, tanto nas artes quanto nas ciências, essa última, com tolhedoras ressalvas.

Foi também a Peste medieva que inspirou o poeta florentino Dante Alighieri a escrever “A Divina Comédia: - "Ó, vós que entrais, abandonai toda a esperança.", imprimindo em nossa memória as terríveis e indeléveis imagens do inferno e dos demônios.

Mais adiante, ao final da primeira guerra mundial, fomos novamente assombrados pela Gripe espanhola (1918-1919), que também ceifou mais 50 milhões de vidas, dessa vez, em grande parte do mundo.

Novamente, testemunhamos um significativo avanço na higiene, medicina, enfim, nas Ciências e uma pujante revolução industrial.

O momento atual indica que a dinâmica de nossa relação com as misteriosas Pandemias não mudou muito.

Acompanhe: primeiro, tomados de assalto, incrédulos, ficamos aturdidos.

Na sequência, a obstinada busca, eleição e perseguição do(s) bode(s) expiatório(s), respaldados pela xenofobia, o fanatismo religioso e inúteis divergências políticas.

Em meio a uma Pandemia, como em nenhuma outra circunstância, exceto na guerra, o que dá no mesmo, pois Pandemia é uma guerra da humanidade contra um inimigo comum (invisível), as caóticas sementes da ignorância encontram solo fértil no ódio, o obscurantismo propaga-se com muito mais vigor em meio ao desespero.

Concomitantemente às manifestações xenófobas, ao fervor religioso e discordâncias políticas, advém o confinamento dos contaminados e o distanciamento pessoal, a fim de se resguardar do contágio.

Em seguida, pois, a Peste é apressada, o enterro dos mortos, cujos desfavorecidos, sem acesso sequer a saneamento básico, são sempre em maior número e, por fim, o imediato e vertiginoso salto – quantitativo e qualitativo – em termos de avanços das technai (Ciências), como já estamos testemunhando.

Longe de Tebas, da Peste bubônica e da Gripe espanhola, vivenciamos a Pandemia do Covid-19 do alto do globalizado e, em grande parte imbecilizado Século XXI, cuja população gira em torno de 7 bilhões de almas.

A diferença mais significativa no modo com o qual estamos lidando com a atual Pandemia de Coronavírus talvez esteja no fato de que, extensão de nossas mãos – escravizadas pelo que se passa no cérebro e o que sente no “cuore” –, celular e internet promovem uma nova e desenfreada revolução à La Gutenberg: a produção e propagação instantânea de todo tipo de informação.

Em meio a esse democrático dinamismo digital, com o caos a um clique, a ignorância se alastra com vigor.

Constatamos DESDE o patético fenômeno da “gourmetização da peste”, onde a turba chafurda com gosto na lama da vulgaridade, explicitando o que mais define a multidão, a saber, ausência de pudor, ATÉ a proliferação de uma inimaginável e portentosa rede de solidariedade, digna de nota e enaltecimento.

Obviamente, a bizarrice do "instagramworthy", o esdrúxulo das “lives” ocas permite entrever o quanto tantos estão abandonados ao próprio obscurantismo e de seus seguidores, que os aplaudem, endossando o grotesco, alçando-os ícones no qual se espelhar.

Neste sentido, exceto pela proliferação da estupidez em progressão geométrica, não há nada de novo sob o sol, pois a Peste que vivenciamos nos traz de volta à tragédia, literalmente, uma vez que a tragédia desempenha a si própria diante do público o que, como afirma Aristóteles, suscita terror e piedade.

Felizmente, para toda essa avalanche, há antídoto! Simples, eficaz, gratuito e ao alcance de todos nascidos de mulher: a liberdade e o poder de escolher!

Pois, todavia, reitero, não é somente o trágico império do mau gosto o que salta aos olhos nesta Pandemia pós-moderna; nem tudo é oportunismo e “self-marketing”.

Embora produções cinematográficas recentes, como “O poço” e “Parasitas” tenham nos permitido ponderar sobre o disparate nas condições de vida de bilhões de pessoas neste mundo, é o invisível, distópico e “disruptivo” Covid-19 que ousa rasgar de vez o véu da desumana e perversa desigualdade social, que sufoca e mata sem sujar as mãos.

Mudanças. Decerto, haverá mudanças, como as que já ocorreram nas Pandemias de outrora: na economia, em nossa relação com o consumo, na educação, na relação entre patrões e empregados, nos próprios empregos, no surgimento de novas profissões, nas Ciências, nas medicinas alternativas, e sobretudo na inimaginável celeridade dos avanços tecnológicos, por exemplo.

Mudanças! Até porque, urge minimizar a portentosa demanda por dignidade material e saúde psíquica de tantos seres humanos desafortunadamente desamparados.

Mudanças inacreditáveis, extraordinárias, como as que já estão, de fato, ocorrendo, vide a espetacular rede de solidariedade que têm viralizado e contagiado a tantas boas almas neste mundo.

Não porque ser solidário “pega bem”, fazer doações seja “modinha”, mas porque nossas semelhanças são mais significativas que nossas diferenças, sobretudo na morte, que é o que nos define (mortais, lembra-se?).

Rasa ou profunda, morosa ou veloz, tímida ou mais audaciosa, o fato é que a mudança oriunda da Pandemia do Covid-19 já começou: o “aplicativo” compaixão foi instalado com sucesso.

É por essa APOTEOSE (rumo ao “theós”) que ansiamos desde a aurora dos tempos. Não há mesmo nada de novo sob o céu.

Exceto, essa vontade contagiante de nos tornarmos mais humanos. E então, não seremos só tragédia, mas um verdadeiro ÉPICO!  \o/


Luciene Felix Lamy 
Profa. de Filosofia e Mitologia Greco-romana
WhatsApp (13) 98137-5711
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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

Busque sempre a excelência!

TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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