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APRENDENDO COM LEONARDO – 2º Walter Isaacson
O fato de Leonardo não ser apenas
um gênio, mas também extremamente humano – um indivíduo peculiar, obsessivo e
divertido, que se distraía com facilidade – faz com que ele nos pareça mais
acessível.
Ele não foi brindado com o tipo
de brilhantismo que é completamente incomensurável para nós. Pelo contrário:
Leonardo foi um autodidata, alguém que trabalhou para pavimentar o caminho rumo
à genialidade.
Então, mesmo que jamais sejamos
capazes de equiparar seus talentos, podemos aprender com ele e tentar ser um
pouco mais como ele era. Sua vida nos oferece lições riquíssimas.
Seja curioso, incansavelmente curioso. Einstein escreveu
certa vez a um amigo: “Não tenho nenhum talento especial. Sou apaixonadamente
curioso.”. Leonardo, na verdade, tinha
talentos especiais, assim como Einstein, porém sua característica mais distinta
e inspiradora era a intensa curiosidade. Ele queria saber por que razão as
pessoas bocejam, como elas andavam no gelo nos Flandres, métodos para realizar
a quadratura do círculo, o que faz a válvula aórtica se fechar, como a luz é
processada pelo olho e como isso influencia a perspectiva em uma pintura. Ele
se instruiu a aprender sobre a placenta do bezerro, a mandíbula do crocodilo, a
língua do pica-pau, os músculos do rosto humano, a luz da Lua e os contornos
das sombras. Ser incansável e aleatoriamente curioso sobre tudo que nos cerca é
algo que todos podemos nos esforçar para fazer a cada segundo da vida,
exatamente como ele fez.
Busque o conhecimento pelo simples prazer da busca. Nem todo
conhecimento precisa ser útil; às vezes ele pode ser perseguido por puro
prazer. Leonardo não precisava saber como as válvulas cardíacas funcionavam
para pintar a Mona Lisa, da mesma forma que não precisava descobrir como os
fósseis foram parar no topo das montanhas para criar a Virgem dos rochedos. Ao
se permitir ter levado apenas pela curiosidade, ele pôde explorar mais
horizontes e identificar mais conexões do que qualquer um em sua época.
Conserve a capacidade das crianças de se maravilhar. Em um
determinado ponto da vida, a maioria de nós para de se importar com os
fenômenos cotidianos. Podemos até apreciar a beleza de um céu azul, mas não nos
damos mais o trabalho de descobrir por que ele é justamente dessa cor.
Leonardo, sim. Como Einstein, que escreveu para um amigo: “Você e eu jamais
deixaremos de agir como crianças curiosas perante o grande mistério no qual
nascemos.”. Precisamos tomar o cuidado de nunca deixar nossa criança interior
crescer ou permitir que isso aconteça com nossos filhos.
Observe. O maior talento de Leonardo era a habilidade
aguçada para observar o mundo. Era esse dom que alimentava sua curiosidade – e
vice-versa. Não era uma espécie de dom sobrenatural, mas um produto de seus
esforços. Quando foi inspecionar os fossos que cercavam o Castelo Sforzesco,
ele viu as libélulas e percebeu que elas tinham quatro asas e que os pares se
alternavam durante o movimento. Quando andava pela cidade, ele notava como as
expressões faciais das pessoas se relacionavam com suas emoções e descobriu
como a luz é refletida em diferentes tipos de superfície. Leonardo observou
quais pássaros moviam as asas mais depressa para cima do que para baixo e quais
faziam o contrário. Isso nós também podemos fazer. E quanto à água caindo em um
recipiente? Fique observando, exatamente como ele, os redemoinhos se formando.
Depois se pergunte: por quê?
Comece pelos detalhes. Em um caderno, Leonardo compartilhou
um de seus truques para realizar uma observação cuidadosa: faça por etapas,
começando pelos detalhes. Ele comparou à página de um livro, que não pode ser
absorvida em apenas um olhar; é preciso ler palavra por palavra. “Se você
quiser ter um conhecimento sólido sobre as formas de um objeto, comece pelos
detalhes e não avance para o próximo se não tiver gravado bem o primeiro na
memória. ”
Veja o que está invisível. A principal atividade de Leonardo
durante grande parte dos anos de formação foi a produção de espetáculos,
performances e peças teatrais. Neles, ele misturava sua engenhosidade teatral
com fantasia, o que lhe deu uma criatividade combinatória: ele era capaz de ver
pássaros voando, mas também enxergava anjos; ou leões rugindo, mas também
dragões.
Mergulhe no desconhecido. Leonardo preencheu as páginas de
abertura de um caderno com 169 tentativas de realizar a quadratura do círculo.
Em oito páginas do Códex Leicester,
registrou 730 descobertas sobre o fluxo da água; em outro caderno, há 67
palavras descrevendo vários tipos de movimentos da água. Ele mediu cada segmento
do corpo humano, calculou as relações de proporcionalidade e fez o mesmo com um
cavalo. Ele estudou todas essas coisas pelo simples prazer de aprender.
Distraia-se. A maior crítica que se faz a Leonardo é o fato
de esses interesses que ele perseguia de forma apaixonada terem feito com que
saísse pela tangente – literalmente, no caso dos estudos de matemática. Kenneth
Clark lamentou que eles “empobreceram seu legado”. Contudo, a disposição de
Leonardo em se interessar por qualquer tópico que cruzava seu caminho deixou
sua mente muito mais rica e com muito mais conexões.
Respeite os fatos. Leonardo foi um percursor da era dos
experimentos observacionais e do pensamento crítico. Quando tinha uma ideia,
ele criava uma maneira de testá-la. E, quando a experiência mostrava que a
teoria estava errada – como a crença de que fontes de água no interior da Terra
eram alimentadas da mesma forma que os vasos sanguíneos nos seres humanos –,
ele abandonava a teoria e elaborava outra.
Essa prática se tornaria comum um século depois, durante a era de
Galileu e de Bacon. Entretanto, ela era um pouco menos prevalente naquela
época. Se quisermos ser mais parecidos com Leonardo, não podemos ter medo de
mudar de ideia conforme novas informações vão surgindo.
Procrastine. Quando trabalhava em A Última Ceia, Leonardo às
vezes ficava olhando a pintura por uma hora, dava uma mísera pincelada e em
seguida ia embora. Ele disse ao duque Ludovico que a criatividade demandava
tempo para que as ideias se apurassem e as intuições se formassem. Explicou:
“Homens de intelecto elevado às vezes obtêm seus maiores avanços quando
trabalham menos, uma vez que suas mentes, então, ocupam-se com as ideias e com
o aperfeiçoamento dos conceitos aos quais posteriormente darão forma. ” A
maioria de nós não precisa de nenhum incentivo para procrastinar; fazemos isso
naturalmente. Mas procrastinar como Leonardo dá muito trabalho: o processo
envolve reunir todas as informações e ideias sobre um assunto e só então deixar
que essa grande coleção fermente.
Faça com que o perfeito seja inimigo do bom. Quando não
conseguiu fazer a perspectiva em A
batalha de Anghiari ou a interação em A
adoração dos magos funcionarem perfeitamente, Leonardo abandonou essas
obras em vez de produzir um trabalho que era apenas bom. Ele manteve consigo
obras-primas como A virgem e o Menino com
santa Ana e a Mona Lisa até o
fim, sabendo que sempre poderia acrescentar uma nova pincelada. Steve Jobs
também era tão perfeccionista que postergou a liberação do Macintosh originou
até que sua equipe conseguisse fazer com que as placas de circuito internas
ficassem bonitas, muito embora ninguém fosse vê-las. Tanto ele quanto Leonardo
sabiam que artistas de verdade se preocupam com a beleza até das partes
ocultas. Contudo, Jobs acabou adotando uma máxima que contradizia essa ideia:
“Artistas de verdade entregam”, significando que às vezes é preciso entregar um
produto mesmo quando ainda há ajustes e melhorias a serem feitos. Essa é uma
boa regra para a vida cotidiana, porém há momentos em que é melhor ser como
Leonardo e não desistir de algo até que esteja perfeito.
Pense visualmente. Leonardo não fora abençoado com a
habilidade de formular equações matemáticas ou abstrações complexas. Por isso
precisava visualizá-las, o que fez nos estudos de proporções, nas regras de
perspectiva, no método para calcular reflexos em espelhos côncavos e nas
maneiras de alterar formas mantendo a área original. Com frequência, quando
aprendemos uma fórmula ou uma regra – mesmo uma simples, como a multiplicação
dos números ou a mistura de uma cor de tinta –, paramos de visualizar como ela
funciona. Como resultado, perdemos a capacidade de apreciar a beleza
fundamental por trás das leis da natureza.
Evite fechar horizontes. No final de muitas de suas
apresentações, Jobs mostrava um slide com uma placa do cruzamento entre as ruas
“Artes Liberais” e “Tecnologia”. Ele sabia que é nesse cruzamento que fica a
criatividade. Leonardo tinha uma mente aberta, que perambulava alegremente por
todas as disciplinas da arte, da ciência, da engenharia e das humanidades. Seu
conhecimento sobre como a luz atinge a retina o ajudou a criar a perspectiva de
A Última Ceia, e na página de
desenhos anatômicos que mostra a dissecação dos lábios ele desenhou o sorriso
que reapareceria na Mona Lisa. Ele
sabia que a arte era uma ciência e que a ciência era uma arte. Não importava se
estava desenhando um feto no útero ou os turbilhões de um dilúvio: Leonardo
sempre borrava os limites entre as duas coisas.
Faça com que seu alcance seja maior do que sua compreensão.
Imagine, da mesma forma que ele imaginou, como você construiria uma máquina
voadora ou desviaria o curso de um rio. Aventure-se a projetar uma máquina de
moto-contínuo ou a resolver a quadratura de um círculo usando apenas régua e
compasso. Existem certos problemas que jamais resolveremos. Aprenda por quê.
Alimente sua fantasia. A besta gigante? Os tanques que
pareciam tartarugas? As plantas para uma cidade ideal? Os mecanismos para bater
as asas de uma máquina voadora controlados por um homem? Assim como borrava os
limites entre a ciência e a arte, Leonardo fazia o mesmo com o que separa a
realidade da fantasia. Ele pode não ter produzido máquinas voadoras, mas sua
imaginação voou muito alto.
Crie para você, não só para os patronos. Não importa o
quanto a rica e poderosa marquesa Isabella d’Este implorara, Leonardo não
pintou seu retrato. Mas ele começou a trabalhar em outro, o da mulher de um
comerciante de seda chamada Lisa. Fez isso porque queria e seguiu aperfeiçoando
essa obra pelo resto da vida, sem entregá-la ao cliente.
Trabalhe em conjunto. A genialidade costuma ser vista como
algo que pertence à esfera dos solitários, que se encerram em sótãos e são
atingidos por lampejos de criatividade. Como a maioria dos mitos, o do gênio
recluso contém certa verdade. Contudo, em geral há mais detalhes por trás da
história. As Madonas e os estudos de panejamento produzidos no ateliê de
Verrochio, assim como as versões de Virgem
dos rochedos e da Madona do fuso
e outras pinturas que saíram do ateliê de Leonardo foram criadas em processo
tão colaborativos que é difícil determinar quem os criou. O Homem vitruviano foi produzido após uma
troca de ideias e esboços entre amigos. Os melhores estudos de anatomia de
Leonardo surgiram quando ele estava trabalhando em parceria com Marcantonio
dela Torre. E seu trabalho mais divertido foi feito a partir das colaborações
nas produções teatrais e entretenimentos noturnos produzidos na corte dos
Sforza. A genialidade se origina de um brilhantismo individual, ela necessita
de uma visão singular. No entanto, para executá-la, em geral é necessário
trabalhar com outras pessoas: a inovação é um esporte coletivo; a criatividade,
um esforço colaborativo.
Faça listas. E coloque itens estanhos nelas. As listas de
coisas a fazer de Leonardo são provavelmente os maiores tributos à pura
curiosidade que o mundo já viu.
Faça anotações – no papel.
Quinhentos anos depois, os cadernos de Leonardo ainda estão por aí para nos
surpreender e nos inspirar. Daqui a cinquenta anos, nossos próprios cadernos,
se levarmos a sério a iniciativa de começar a preenchê-los, estarão por aí para
surpreender e inspirar nossos netos, ao contrário de nossos tuítes e posts no
Facebook.
Esteja aberto ao mistério. Nem tudo precisa de linhas
definidas.