“Eu não imaginava que isto me
aconteceria! E porque não? Onde está, pois, a riqueza, que a miséria não pode
alcançar? Onde está a onipotência, que não é ameaçada pela destruição? ” Sêneca
Prosseguindo com
Sêneca em seus conselhos ao amigo Aneu Sereno, eis que o sábio pondera sobre os
inesperados revezes da vida: “Eis que tombaste em qualquer situação difícil,
sem que hajas feito nada para isso (...). Lembra-te de que encontrarás – em
qualquer situação – divertimentos,
descansos e prazeres, SE te esforçares para julgar teus males leves, antes de
considerá-los intoleráveis. Vê-se claramente que o filósofo põe em relevo uma
postura que convém aos de bom senso, a de cultivar o otimismo.
É inegável que estamos
todos ligados à Fortuna (boa ou má): “As honras prendem este, a riqueza aquele
outro; este leva o peso de sua nobreza, aquele o de sua obscuridade, enfim,
toda a vida é uma escravidão. É preciso, pois, acostumar-se à sua condição,
queixando-se o menos possível e não deixando escapar nenhuma das vantagens que
ela [a boa Fortuna] possa oferecer. ” E conclui que nenhum destino é tão insuportável que uma alma razoável não encontre
nenhuma coisa para consolo.
Para vencer os
obstáculos, diz ele, apela à razão! Renunciando ao que é impossível ou difícil
demais para realizar, apeguemo-nos ao que, estando mais próximo, anima nossa
esperança.
Não invejemos as
situações elevadas, despojemo-nos do orgulho natural. Nada nos preservará
melhor das inquietudes do que fixarmos sempre um limite para nossas ambições. Somos
nossos grilhões, sem dúvida.
Segundo Sêneca,
o sábio possui uma fé em si mesmo tão grande que não hesita em se dirigir ao
encontro da Fortuna. Porque é sua pessoa que conta no número dos bens
revogáveis, visto que ele vive com a ideia de que seu ser lhe é somente
emprestado e está pronto para devolvê-lo de boa vontade.
Diante da morte
iminente, em vez de voltar-se contra o destino, dirá: “Dou-te graças pelos bens
que colocaste e deixaste em meu poder (...) como tu ordenas, devolvo, restituo
tudo”.
Que a natureza,
que é nossa primeira credora, nos reclame sua dívida; a ela também diremos:
“Retoma esta alma, melhor do que ma deste. Retornar para o lugar de onde se
vem: que há de cruel nisto? Quem não souber morrer bem terá vivido mal. ”
Doença, desemprego,
falência, tragédia, nada disto é inesperado, sabemos do caos que a natureza
condena a viver. Por que nos admirar pelos perigos que jamais cessaram de nos
rodear?
Sêneca recorda
que o poeta Publílio Siro, disse: “Aquilo que pode ferir um pode ferir todos os
outros” e roga: “Persuade-te, pois, de que toda situação está sujeita a
mudanças e de que tudo o que cai sobre os outros pode igualmente cair sobre tu.
”
Geralmente – e em vão –, nos revoltamos: “Eu
não imaginava que isto me aconteceria! ”. E porque não? Onde está, pois, a
riqueza, que a miséria não pode alcançar? Onde está a magistratura, cuja
pretexta, o bastão augural e o calçado nobre não são acompanhados de acusações
humilhantes, da crítica do censor, de mil infâmias e do desprezo da multidão?
Onde está a onipotência, que não é ameaçada pela destruição? No espaço de uma
hora passa-se do trono aos pés do vencedor, afirma com lucidez.
Também evitemos
desperdiçar nosso esforço de maneira inútil: imaginar ambições irrealizáveis
OU nos esforçarmos sem proveito.
Sêneca pondera
sobre as pessoas que vagam ao acaso, inúteis, que fazem lembrar as idas e
vindas das formigas, ou seja, para nada. Quantas pessoas levam uma existência
semelhante, que se chamaria muito justamente preguiça agitada, pergunta
ele.
E, impossível
não associar ao nosso comportamento atual na web: “Por que saudar qualquer
personagem, que sequer responde ao cumprimento (...) e encerrar o dia moídos
por uma fadiga inútil (...) e, no dia seguinte recomeçar a mesma série de
marchas [acessos] desordenadas? ”
Propõe que todo
esforço tenha um alvo preciso e seja apropriado para um resultado: “Inquietos,
os desocupados buscam quimeras, se iludem com as aparências, porque seu
espírito alucinado não lhes permite distinguir a realidade. ”
O filósofo nos
alerta que a esta doença se prende um
vício horrível: este, de se informar de tudo, de estar à espreita de todas as
novidades, tanto secretas como públicas, carregando um balaio de idiotices na
cachola.
Recorda Demócrito
dizendo que quem quiser viver com a alma tranquila não deve ter muitas
ocupações inúteis, nem de ordem pública nem particular: “Quando nenhum dever
imperioso nos ordena, devemos saber reprimir nossa atividade. ” Não sejamos
escravos demais, diz Sêneca, das resoluções que tomamos e não temamos mudar.
Excessos são
sempre funestos à tranquilidade da alma. Para quem julga as coisas de um ponto
de vista mais superior, uma alma mostra-se mais forte abandonando-se ao riso do
que cedendo às lágrimas.
O hábito de se
sujeitar à opinião de outrem é um mal. Pessoalmente, considero escravizante. Um
outro gênero de inquietude nasce do cuidado que o homem emprega em fingir: é o
caso de muitas pessoas, cuja vida só é hipocrisia e comédia.
Que tormento,
esta permanente vigilância sobre si mesmo! Que segurança pode oferecer uma
existência inteira passada sob uma máscara, indaga o sábio.
Do contrário, agindo
com autenticidade, que encanto, na espontânea simplicidade de um caráter, que
desconhece os ornamentos artificiais e que despreza disfarçar-se! Todavia, alerta,
não excedamos à medida: pois, há muita diferença entre a sinceridade e a falta
de modéstia.
É preciso
frequentemente recolhermo-nos em nós mesmos: pois a relação com pessoas
diferentes demais de nós perturba nosso equilíbrio, irrita, desperta nossas
paixões.
Alternemos a
solidão e o mundo: “A solidão nos fará desejar a sociedade e esta [a ebulição
da vida social] nos reconduzirá novamente a nós mesmos; elas serão antídotas,
uma à outra: a solidão, curando nosso horror à multidão, e a multidão, curando
nossa aversão à solidão. ”
Nem mesmo é bom
ter sempre o espírito igualmente ocupado, é preciso saber distraí-lo com
divertimentos: brincar, beber, dançar, prosear descompromissadamente, por
exemplo.
É preciso saber
recrear o espírito: “Ele se mostrará, depois de um repouso, mais resoluto e
mais vivo. (...) um instante de repouso e de distração lhe devolverá sua
energia. Aliás, os homens não se inclinariam tanto aos divertimentos e aos
jogos, se o prazer que sentem não satisfizesse a um desejo. ”
É preciso,
portanto, governar nosso espírito e conceder-lhe de tempos em tempos um
descanso. É preciso ir passear em pleno campo, a céu aberto, ar puro,
atmosferas que avivam a inteligência; uma viagem, uma mudança de horizontes,
assim como uma boa refeição com um pouco mais de bebida darão novo vigor,
orienta-nos Sêneca.
E, concluindo
seus sábios conselhos ao amigo Aneu Sereno, finaliza sua carta dizendo: “Eis,
mui querido Sereno, os meios de conservar a tranquilidade da alma e de não
sucumbir à pérfida insinuação dos vícios. ”
Cultivemos a
mais ativa e a mais zelosa vigilância sobre nossa alma, sempre pronta a se
deixar desviar, roga o romano que, embora nascido no ano quatro antes de
Cristo, é atualíssimo, pois Sabedoria jamais é obsoleta.
Luciene Felix Lamy
Profª de Filosofia e Mitologia
Greco-romana
Instagram: lufelixlamy
WhatsApp: (13)98137-5711
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2 comentários:
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