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1 de nov. de 2018

Sêneca - Da tranquilidade da Alma (Parte II)


“Eu não imaginava que isto me aconteceria! E porque não? Onde está, pois, a riqueza, que a miséria não pode alcançar? Onde está a onipotência, que não é ameaçada pela destruição? ” Sêneca

Prosseguindo com Sêneca em seus conselhos ao amigo Aneu Sereno, eis que o sábio pondera sobre os inesperados revezes da vida: “Eis que tombaste em qualquer situação difícil, sem que hajas feito nada para isso (...). Lembra-te de que encontrarás – em qualquer situação –  divertimentos, descansos e prazeres, SE te esforçares para julgar teus males leves, antes de considerá-los intoleráveis. Vê-se claramente que o filósofo põe em relevo uma postura que convém aos de bom senso, a de cultivar o otimismo.

É inegável que estamos todos ligados à Fortuna (boa ou má): “As honras prendem este, a riqueza aquele outro; este leva o peso de sua nobreza, aquele o de sua obscuridade, enfim, toda a vida é uma escravidão. É preciso, pois, acostumar-se à sua condição, queixando-se o menos possível e não deixando escapar nenhuma das vantagens que ela [a boa Fortuna] possa oferecer. ” E conclui que nenhum destino é tão insuportável que uma alma razoável não encontre nenhuma coisa para consolo.

Para vencer os obstáculos, diz ele, apela à razão! Renunciando ao que é impossível ou difícil demais para realizar, apeguemo-nos ao que, estando mais próximo, anima nossa esperança.

Não invejemos as situações elevadas, despojemo-nos do orgulho natural. Nada nos preservará melhor das inquietudes do que fixarmos sempre um limite para nossas ambições. Somos nossos grilhões, sem dúvida.

Segundo Sêneca, o sábio possui uma fé em si mesmo tão grande que não hesita em se dirigir ao encontro da Fortuna. Porque é sua pessoa que conta no número dos bens revogáveis, visto que ele vive com a ideia de que seu ser lhe é somente emprestado e está pronto para devolvê-lo de boa vontade.

Diante da morte iminente, em vez de voltar-se contra o destino, dirá: “Dou-te graças pelos bens que colocaste e deixaste em meu poder (...) como tu ordenas, devolvo, restituo tudo”.

Que a natureza, que é nossa primeira credora, nos reclame sua dívida; a ela também diremos: “Retoma esta alma, melhor do que ma deste. Retornar para o lugar de onde se vem: que há de cruel nisto? Quem não souber morrer bem terá vivido mal. ”

Doença, desemprego, falência, tragédia, nada disto é inesperado, sabemos do caos que a natureza condena a viver. Por que nos admirar pelos perigos que jamais cessaram de nos rodear?


Sêneca recorda que o poeta Publílio Siro, disse: “Aquilo que pode ferir um pode ferir todos os outros” e roga: “Persuade-te, pois, de que toda situação está sujeita a mudanças e de que tudo o que cai sobre os outros pode igualmente cair sobre tu. ”

Geralmente – e em vão –, nos revoltamos: “Eu não imaginava que isto me aconteceria! ”. E porque não? Onde está, pois, a riqueza, que a miséria não pode alcançar? Onde está a magistratura, cuja pretexta, o bastão augural e o calçado nobre não são acompanhados de acusações humilhantes, da crítica do censor, de mil infâmias e do desprezo da multidão? Onde está a onipotência, que não é ameaçada pela destruição? No espaço de uma hora passa-se do trono aos pés do vencedor, afirma com lucidez.

Também evitemos desperdiçar nosso esforço de maneira inútil: imaginar ambições irrealizáveis OU nos esforçarmos sem proveito.

Sêneca pondera sobre as pessoas que vagam ao acaso, inúteis, que fazem lembrar as idas e vindas das formigas, ou seja, para nada. Quantas pessoas levam uma existência semelhante, que se chamaria muito justamente preguiça agitada, pergunta ele.


E, impossível não associar ao nosso comportamento atual na web: “Por que saudar qualquer personagem, que sequer responde ao cumprimento (...) e encerrar o dia moídos por uma fadiga inútil (...) e, no dia seguinte recomeçar a mesma série de marchas [acessos] desordenadas? ”

Propõe que todo esforço tenha um alvo preciso e seja apropriado para um resultado: “Inquietos, os desocupados buscam quimeras, se iludem com as aparências, porque seu espírito alucinado não lhes permite distinguir a realidade. ”

O filósofo nos alerta que a esta doença se prende um vício horrível: este, de se informar de tudo, de estar à espreita de todas as novidades, tanto secretas como públicas, carregando um balaio de idiotices na cachola.

Recorda Demócrito dizendo que quem quiser viver com a alma tranquila não deve ter muitas ocupações inúteis, nem de ordem pública nem particular: “Quando nenhum dever imperioso nos ordena, devemos saber reprimir nossa atividade. ” Não sejamos escravos demais, diz Sêneca, das resoluções que tomamos e não temamos mudar.

Excessos são sempre funestos à tranquilidade da alma. Para quem julga as coisas de um ponto de vista mais superior, uma alma mostra-se mais forte abandonando-se ao riso do que cedendo às lágrimas.

O hábito de se sujeitar à opinião de outrem é um mal. Pessoalmente, considero escravizante. Um outro gênero de inquietude nasce do cuidado que o homem emprega em fingir: é o caso de muitas pessoas, cuja vida só é hipocrisia e comédia.

Que tormento, esta permanente vigilância sobre si mesmo! Que segurança pode oferecer uma existência inteira passada sob uma máscara, indaga o sábio.

Do contrário, agindo com autenticidade, que encanto, na espontânea simplicidade de um caráter, que desconhece os ornamentos artificiais e que despreza disfarçar-se! Todavia, alerta, não excedamos à medida: pois, há muita diferença entre a sinceridade e a falta de modéstia.

É preciso frequentemente recolhermo-nos em nós mesmos: pois a relação com pessoas diferentes demais de nós perturba nosso equilíbrio, irrita, desperta nossas paixões.

Alternemos a solidão e o mundo: “A solidão nos fará desejar a sociedade e esta [a ebulição da vida social] nos reconduzirá novamente a nós mesmos; elas serão antídotas, uma à outra: a solidão, curando nosso horror à multidão, e a multidão, curando nossa aversão à solidão. ”

Nem mesmo é bom ter sempre o espírito igualmente ocupado, é preciso saber distraí-lo com divertimentos: brincar, beber, dançar, prosear descompromissadamente, por exemplo.

É preciso saber recrear o espírito: “Ele se mostrará, depois de um repouso, mais resoluto e mais vivo. (...) um instante de repouso e de distração lhe devolverá sua energia. Aliás, os homens não se inclinariam tanto aos divertimentos e aos jogos, se o prazer que sentem não satisfizesse a um desejo. ”

É preciso, portanto, governar nosso espírito e conceder-lhe de tempos em tempos um descanso. É preciso ir passear em pleno campo, a céu aberto, ar puro, atmosferas que avivam a inteligência; uma viagem, uma mudança de horizontes, assim como uma boa refeição com um pouco mais de bebida darão novo vigor, orienta-nos Sêneca.

E, concluindo seus sábios conselhos ao amigo Aneu Sereno, finaliza sua carta dizendo: “Eis, mui querido Sereno, os meios de conservar a tranquilidade da alma e de não sucumbir à pérfida insinuação dos vícios. ”

Cultivemos a mais ativa e a mais zelosa vigilância sobre nossa alma, sempre pronta a se deixar desviar, roga o romano que, embora nascido no ano quatro antes de Cristo, é atualíssimo, pois Sabedoria jamais é obsoleta.

Luciene Felix Lamy
Profª de Filosofia e Mitologia Greco-romana
Instagram: lufelixlamy
WhatsApp: (13)98137-5711



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2 comentários:

nikkisa889 disse...

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Manoel disse...

matando as saudades das amizades do antigo orkut..sempre sábia e desenvolta, abraços!

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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

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As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

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Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

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se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

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TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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