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1 de jul. de 2017

A prova da posição: não basta competência, tem de se ter moral


A maioria das pessoas não pode experimentar uma existência completa e frutífera isoladamente, pois “ser”, “existir” é entreter relações que, vividas com um espírito de mutualidade, podem produzir muitos frutos.

A participação do indivíduo no processo social pode edificar ou manter, transformar ou destruir valores sociais. Essa participação também pode implicar alegria e sucesso OU tristeza e fracasso, tal como a advinda da escravização a um ritmo alheio e insalubre de trabalho que resulta, no máximo, na manutenção da existência com relativo conforto material.

A contribuição de uma pessoa aos processos sociais – seja nas tarefas do lar ou numa empresa, nos campos ou no mar – estabelece seu lugar e função na sociedade, sendo que o caráter do relacionamento entre o “eu” individual e este fator de lugar e função também poderá coincidir e explicitar traços basilares de sua personalidade.

É em virtude disso que não se pergunta “quem você é”, mas, de praxe indaga-se: “o que você faz?”. À medida que vivemos, nosso “lugar”, nosso “ser” será por esse modo determinado, pois “ser” equipara-se a “fazer”, ao agir.


Em algumas sociedades, o fator “lugar-função” é quase predeterminado pelo nascimento e por herança (região geográfica, raça, família, classe social, etc.), no entanto, ainda que a discriminação racial, econômica e educacional limite o campo de oportunidades para muitos, nos países democráticos mais desenvolvidos, há certa liberdade de escolha (ao menos teoricamente) quanto ao lugar e função que optamos por ocupar dentro da sociedade.

Uma pessoa que funcione ativamente, de acordo com o lugar por ela ocupado na sociedade, tem uma “posição”, onde vemos combinados muitos elementos sociais e psicológicos, que permite a ela exercer algum tipo de influência e autoridade, adquirindo um “status” – do ponto de vista social – de destaque com referência a um todo operativo e organizado.

Desde que a função seja preenchida com competência, confere-se prestígio àqueles que a desempenham. Entretanto, uma sociedade que prestigie indivíduos que não satisfaçam, ativa e eficazmente suas funções com retidão de caráter torna-se uma sociedade pervertida em seu “télos” (propósito).

A posição do ser humano na sociedade tem de ser uma fruição social de sua identidade individual, ou, dito de outro modo, a prova e a consagração de sua realização como indivíduo no meio em que vive. O crivo sobre seu ser enquanto indivíduo deve ser observado com acuidade pela sociedade antes de outorgar prestígio e conferir autoridade.

Essa “com-sagração” suscita uma questão nevrálgica, pois a união de uma pessoa com uma função significativa pode ser a consumação de toda a sua existência. A posição que ocupamos pode coroar aquilo que almejamos e podemos ser.


Nenhuma posição é menos nobre e digna que qualquer outra: a dona de casa que vai ao supermercado, prepara os alimentos e cuida da casa, o gari que recolhe o lixo, o advogado e o juiz, o artista e o político, todos somos necessários. O que importa é a maneira pela qual as pessoas desempenham essas tarefas, pois isso determina não só a sua situação ética (social) como também sua situação moral (pessoal).

A qualidade desse desempenho é determinada também pela maneira com a qual – gradativamente – as pessoas se prepararam e foram preparadas (referimo-nos à educação), pois não se pode participar ou contribuir com o que não se tem.

No exercício de suas funções, as pessoas podem vivenciar circunstâncias nas quais detêm poder e autoridade, mas a autoridade que uma função confere não é um poder emanado pelo indivíduo enquanto organismo isolado e sim, fruto da interdependência e cooperação acordados pelo grupo.

Este poder (oriundo da função ou do cargo que se ocupa) pode ser custódia OU pilhagem. A tragédia de nossa democracia individualista está em – sutil ou grosseiramente –, fazer o sujeito considerar todo o poder ou autoridade que lhe vem parar às mãos como sendo decorrência de seus méritos, como algo inerentemente (e sem reservas morais!) “seu”, e não prerrogativa que logra por ocupar com honradez uma função dentro do “Todo”.


Suscetível, este poder ou autoridade corre o risco de ser usado como se bem entender, sem levar em conta a função social: o poder ou autoridade não é um fator “privado”, mas “público”. 

Sempre que o indivíduo adquire poder por causa de sua posição (ou função), esse poder deve ser considerado custódia. O poder do policial, do juiz, do médico, do general e de todas as autoridades públicas, por exemplo, é, e com razão, uma custódia. Isso porque trata-se de um poder decorrente do cargo, nascido da função social.

São muitos os indivíduos que chegam aos altos cargos por mérito pessoal. Mas o poder do cargo advém da função social que esse cargo representa, não necessariamente do mérito, passível de vir a ser simulado. Eis a origem da confusão que transmuta o poder democrático – autoridade legítima – em poder autoritário, que é a tirania. Compreender essa visceral discrepância permite-nos diferenciar os lícitos detentores dos meros usurpadores do poder.

Simulando mérito, o individualista grosseiro viola a sociedade a fim de alimentar sua insaciável ambição. Utiliza os recursos da “res publica” para promover seus interesses pessoais. No processo, perde-se todo o sentido de consagração pessoal a uma tarefa, negligencia-se o valor ético da “posição”, que é eclipsado.

Usar do cargo, da posição para obter vantagens pessoais é perversão de valores, pois toda vez que um indivíduo usurpa o poder social inerente a seu cargo ou função a fim de expandir seu ego e sua riqueza toda a sociedade padece.

Sempre que o núcleo central de poder e autoridade, que é o Governo, compactua com a decadência moral de seus servidores, arruína toda a nação.

Urge que haja harmonia e consenso entre essas polaridades: o indivíduo precisa exercer poderes inerentes ao cargo, mas esse exercício deve pautar-se pela ética, estar sob custódia e sempre em prol da coletividade.

Indivíduo e sociedade se encontram quando o homem e seu cargo tornam-se uma coisa só (e ambos, sagrados!), até porque, permitir que o homem se valha do poder e da autoridade decorrente de seu cargo para satisfazer os caprichos de seu ego e de sua ganância é um assombroso crime, pois de alcance gigantesco e profundo, é também fatal.


Joguete, refém de todo o tipo de perversidade (desemprego, balas perdidas, vícios, prostituição), o povo definha, morre, ao passo que os prepotentes, sem respaldo moral, se tornam cada vez mais arrogantes e autocráticos, pois vaidosos imaginam serem os únicos capazes de ocupar a posição que ocupam. 

Em linhas gerais, eis o que redunda no nefasto retrato da purulenta situação política de nosso vilipendiado país.


luciene felix lamy
colunista de filosofia do jornal jurídico carta forense (sp)
professora de filosofia e mitologia greco-romana na galleria borghese (roma) e pinacoteca benedicto calixto (santos)
coordenadora da oficina minha biografia na pinacoteca benedicto calixto (santos)
colunista de astrologia & arte no consueloblog (florença)



Inspirado na obra "Tríptico Astrológico" do Filósofo, astrólogo, cristão, Dane Rudhyar (A prova da posição - Capricórnio).

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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

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O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

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se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

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TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

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