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1 de mai. de 2016

"Bela, recatada e do lar" - Empoderamento de potestades ancestrais


 “O feminismo trouxe a ideia confusa de que as mulheres são livres quando servem aos seus empregadores, mas são escravas quando ajudam seus maridos”. G. K. Chesterton


Os adjetivos acima descrevem predicados desejáveis, sobretudo às mulheres casadas, pois referem-se às qualidades de uma esposa platonicamente ideal, aristotelicamente possível. 

Qual mãe – em sã consciência –, não desejaria que filhas e/ou noras congregassem tais virtudes? E, que marido ou filho não se sentiria honrado e orgulhoso de companheira e progenitora assim?

Surpreende, no entanto, que esses atributos estejam sendo – literalmente – desvirtuados, adulterados. Que tempos são esses em que insígnia de beleza, recato e dedicação ao lar torna-se alvo de escárnio, pilhéria e deboche?


Muitas das críticas, compartilhadas através das redes sociais (algumas até divertidas!), foram fruto de uma postura fundamentada especificamente na aversão ao próprio veículo midiático (no caso, a revista Veja), algumas outras tiveram como alvo o fato da cidadã em questão ser cônjuge de famoso estadista envolto no polêmico cenário político atual e, ainda, houve chacota pondo em relevo a diferença etária entre o casal, questionando o afeto que os une.

Sobre os ladridos acima, a caravana passa. Entretanto, muitas das piadas que surgiram foram azeitadas no caldeirão do desprezo e da intolerância a esses notórios e digníssimos atributos (beleza e recato) e condição feminina (do lar), ousando depreciar e rebaixar quem os apresenta.

Eximindo-me de tangenciar sobre as críticas promovidas por nuances meramente especulativas, limitar-me-ei a ponderar sobre os três adjetivos: beleza, recato e cuidado do lar.

Sobre a beleza, embora estejamos cônscios do quanto o fato de dispor de recursos pecuniários para usufruir dos avanços científico-tecnológicos (da medicina estética à indústria cosmética e de moda) possa minimizar a “falta de sorte” nesse quesito, o fato é que, ter sido ou não, agraciado com esse Bem independe de nossa vontade, portanto, nenhum indivíduo deveria ser julgado por contar ou não com essa valorosa dádiva. 

Já o recato, virtude feminina tão enaltecida entre os poetas, literatos e filósofos, se é desejável numa mulher solteira, torna-se imperativo moral numa mulher cujo estado civil – e, presume-se, de Alma – seja o de casada. O decoro e o recato, numa conduta pública, enaltece não somente a mulher que quem assim se apresenta, mas também ao indivíduo com o qual ela compartilha o destino, seu consorte.


Não é de hoje que, de bom grado, o amor dá as mãos à decência. Platão, em seu diálogo “O banquete”, diz que “O Amor deve dirigir a vida de todos os homens que quiserem vivê-la nobremente; é também responsável por algo que nem a riqueza, nem as honras nem a estirpe pode incutir tão bem: “A vergonha do que é feio e apreço ao que é belo”.

O filósofo refere-se ao que os antigos gregos denominavam aidós (pudor), que faz com que aquele que ama tema ser surpreendido numa atitude aviltante, sentindo-se constrangido diante do amado: “todo homem que ama, se fosse descoberto a fazer um ato vergonhoso, ou a sofrê-lo de outrem sem se defender por covardia, visto pelo pai não se envergonharia tanto, nem pelos amigos nem por ninguém mais, como se fosse visto pelo bem amado”. Sem dúvida, o Amor é fonte de inspiração da moral.

Também perspicaz, o “Pai da Psicanálise”, Sigmund Freud, atentou ao fato de que corar é “dar a maior bandeira”, pois ruborizar denuncia. Denuncia o quê, exatamente? Esse pudor, que tanto promove a virtude!

Por fim, a referência a ser “do lar”, esse topós (do grego, lugar) ancestral, indispensável alicerce que fomenta, nutre e zela por todos nele amparados.


Santuário privado, o lar é tão emblemático que os antigos povos gregos e também romanos designavam e cultuavam uma divindade para zelar especificamente por essa instância: a casa (oikós, em grego).

Aos desatentos que afirmaram tratar-se de discurso machista, típico das décadas de 50/60, vale lembrar que desde a Teogonia (sobre a origem dos deuses), de Hesíodo (cerca de 600 a.C.), está mais do que claro e, há tempos bem assentado que, lugar da mulher é aonde ela quiser e em funções para as quais ela tenha aptidão.



Para citar alguns exemplos, partindo da potência (dynamis) feminina primordial, Gaia (a Terra), encontramos já na primeira geração de deuses, arquétipos femininos atemporais tais como: Afrodite (Vênus), deusa do amor e da beleza, Deméter (Ceres/Cibele), como sendo a deusa nutriz, responsável pelo trigo que alimentará a humanidade; a deusa Hera (Juno), consorte do soberano do Olimpo, Zeus (Júpiter), protetora do casamento, que personifica direitos e deveres do matrimônio, das relações ditas “legítimas” e a reclusa deusa Héstia (Vesta), a quem foi atribuída a função de reverenciar o Lar, mantendo acesa a chama sagrada, cultuando os antepassados e zelando pela família.

Já na segunda geração de deuses, o panteão olímpico greco-romano está repleto de divindades que se apresentam em funções até bem másculas, mas que, no entanto, são exercidas por mulheres de fibra e de verve indômita, tais como a deusa da sabedoria, justiça e da techné, Palas Athena (Minerva) ou mesmo a arredia e destemida caçadora, como Ártemis (Diana).

Como cronidas que somos (filhos de Chronos/Saturno, o deus do Tempo cronológico), é breve o tempo que dispomos para amar e zelar pelos que geramos e que dependem de nós e, assim como seria injusto e improdutivo delegar a uma criança a incumbência de cuidar do lar ou a um idoso a tarefa de guerrear, defender território ou trazer a caça, não surpreende que a mulher abrace funções necessárias ao bom funcionamento da casa.

A casa, reduto de aconchego, segurança e amparo à família, reconhecidamente célula da sociedade, requer quem se embrenhe na luta pelos proventos, quem zele por sua manutenção, pelo asseio e a higiene, pela preparação dos alimentos, quem cuide do ir e vir, da agenda e da saúde de todos.

Independente de: idade, gênero, estado civil, raça ou opção religiosa, seja em dez ou mil metros quadrados, a maioria de nós habita uma casa. E, mesmo que pertençamos à classe dos abastados, a alguém caberá a incumbência de orientar e supervisionar o trabalho dos domésticos, administrando-os.

As infindáveis tarefas das heroicas e anônimas donas de casa, que saúdam a aurora preparando o café da manhã para a família e despedem-se de tão exaustiva jornada lembrando de algo para a refeição do dia seguinte, não são menos dignas e necessárias à sociedade que a de uma notória cientista ou estadista. 

Aliás, mesmo não sendo “do lar”, é muito provável que, para que possamos nos dedicar às letras, à ciência e à política, tenhamos a sorte de contar com alguém que – por amor ou salário – desincumbe-se das tarefas domésticas por nós.

Polítropos, o fato de que permaneçam abertas as inúmeras opções para o emprego de nossas capacidades, interesses e prioridades, não nos isenta de, eventualmente, escolhermos, comprarmos e prepararmos nossos alimentos, de recolhermos algumas tralhas pela casa e pendurar roupas no varal. Tarefas mundanas, corriqueiras, deveres atemporais: são, foram e sempre serão.

Considerando que, à revelia, pode-se ser vítima da fealdade (feiura) e tem-se todo o direito de dispensar o recato em situações públicas (o que é lamentável, mas não proibido), deveríamos, no mínimo, respeitar àqueles que – por escolha ou necessidade – cuidam de nosso lar, pois é também disso que trata a Economia (oikós + nomós = lei da casa).

Para o meu Marcelo.

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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

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As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

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Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

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Busque sempre a excelência!

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TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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