“Vão bater na sua porta, sentar numa cadeira e consumir seu tempo sem lhe acrescentar nada. Quando muitas pessoas nulas aparecem e seguem aparecendo, você tem que ser cruel com elas, pois elas estão sendo cruéis com você. Você tem que botá-las pra correr. Tolerar os embotados não é sinal de humanidade, apenas aumenta seu próprio embotamento, e eles sempre deixam um pouco desse peso com você quando vão embora."
Charles Bukowski
(1920-1994), poeta e escritor alemão.
Detox! Início de ano é momento apropriado à reflexão e adoção
de hábitos mais salutares. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche
(1844-1900) dizia que para se viver bem é preciso saber escolher
onde morar, o que comer e com quem se relacionar.
Considerando que, em termos de moradia, não paire muitas dúvidas sobre o que seria aprazível e –, ainda mais evidente e passível de consenso – quais são os alimentos saudáveis ao nosso organismo, ponderemos sobre com quem e de que modo nos relacionamos, até porque, existimos “com” e, nos tempos que correm, cada vez mais “existimospontocom”.
Somos mesmo livres para escolher com quem e de que modo nos relacionamos? Por quais valores nos pautamos quando elegemos com quem convivemos?
Há, no princípio, as inerentes e inevitáveis relações que – estreitas ou nem tanto – travamos ao longo da existência, inicialmente em nosso núcleo familiar de origem, que engloba nossos pais (padrasto ou madrasta, se for o caso), estende-se aos nossos irmãos (se houver) e vai se expandindo, abarcando tios(as) e primos(as), por exemplo.
Considerando que, em termos de moradia, não paire muitas dúvidas sobre o que seria aprazível e –, ainda mais evidente e passível de consenso – quais são os alimentos saudáveis ao nosso organismo, ponderemos sobre com quem e de que modo nos relacionamos, até porque, existimos “com” e, nos tempos que correm, cada vez mais “existimospontocom”.
Somos mesmo livres para escolher com quem e de que modo nos relacionamos? Por quais valores nos pautamos quando elegemos com quem convivemos?
Há, no princípio, as inerentes e inevitáveis relações que – estreitas ou nem tanto – travamos ao longo da existência, inicialmente em nosso núcleo familiar de origem, que engloba nossos pais (padrasto ou madrasta, se for o caso), estende-se aos nossos irmãos (se houver) e vai se expandindo, abarcando tios(as) e primos(as), por exemplo.
Nascemos, crescemos e, após a eclosão dos hormônios em ebulição,
embevecidos e reféns do
sentimento de amor (idealisticamente falando), é provável que
geremos nossos filhos, fundando nossa própria família.
Obviamente, talvez não seja – necessariamente – somente uma única vez que nos empenhemos em fundar nosso próprio núcleo familiar, nem consideremos filhos somente os que geramos, mas por enquanto, detenhamo-nos à regra, não às exceções (mesmo que essas estejam tornando-se regra).
Fato é que, independente de quantas vezes sejamos reféns do amor, quando nos unimos a alguém surge a convivência – assídua ou esporádica – com os familiares de nossos cônjuges, “caindo em nosso colo”, os ilustres outrora desconhecidos: sogros, noras, genros, cunhados(as) e novos “sobrinhos”.
Surgem também os amigos que nosso(a) parceiro(a) nos trouxer e que, eventualmente, se tornarão nossos amigos em comum, embora saibamos que “O destino decide quem vamos encontrar na vida, as atitudes decidem quem fica”.
Por algumas dessas pessoas trazidas pelo acaso (outro nome do destino), nos sentiremos bem-quistos e acolhidos, a afinidade poderá ser instantânea, enfim, o temperamento coincidirá, enquanto que com outras, por mais que nos esforcemos, aquela aconchegante cumplicidade e confiança mútua não aflora e, ainda que timidamente aflore, não vinga, mesmo com o passar de décadas de relativo convívio. Trata-se de algo natural e não há nada de nefasto ou condenável nisso, apenas é assim.
Já a afeição imediata, talvez também seja inútil tentar compreendê-la, pois como atesta a frase atribuída ao Duque de La Rochefoucauld: “Há pessoas desagradáveis, apesar de suas qualidades e outras encantadoras, apesar de seus defeitos”, ou seja, não há explicação lógica para sintonia de alma.
Obviamente, talvez não seja – necessariamente – somente uma única vez que nos empenhemos em fundar nosso próprio núcleo familiar, nem consideremos filhos somente os que geramos, mas por enquanto, detenhamo-nos à regra, não às exceções (mesmo que essas estejam tornando-se regra).
Fato é que, independente de quantas vezes sejamos reféns do amor, quando nos unimos a alguém surge a convivência – assídua ou esporádica – com os familiares de nossos cônjuges, “caindo em nosso colo”, os ilustres outrora desconhecidos: sogros, noras, genros, cunhados(as) e novos “sobrinhos”.
Surgem também os amigos que nosso(a) parceiro(a) nos trouxer e que, eventualmente, se tornarão nossos amigos em comum, embora saibamos que “O destino decide quem vamos encontrar na vida, as atitudes decidem quem fica”.
Por algumas dessas pessoas trazidas pelo acaso (outro nome do destino), nos sentiremos bem-quistos e acolhidos, a afinidade poderá ser instantânea, enfim, o temperamento coincidirá, enquanto que com outras, por mais que nos esforcemos, aquela aconchegante cumplicidade e confiança mútua não aflora e, ainda que timidamente aflore, não vinga, mesmo com o passar de décadas de relativo convívio. Trata-se de algo natural e não há nada de nefasto ou condenável nisso, apenas é assim.
Já a afeição imediata, talvez também seja inútil tentar compreendê-la, pois como atesta a frase atribuída ao Duque de La Rochefoucauld: “Há pessoas desagradáveis, apesar de suas qualidades e outras encantadoras, apesar de seus defeitos”, ou seja, não há explicação lógica para sintonia de alma.
Amigos são aquelas pessoas que, diferente dos membros da família (a
nossa de origem, a que fundamos ou a trazida por nosso cônjuge),
escolhemos. E não fazemos isso – necessariamente – de forma
racional, como quem seleciona as melhores frutas nas barracas da
feira ou nas gôndolas do supermercado.
Atualmente, os primeiros ensaios de inserção na vida social fora do seio familiar ocorrem ainda nas fraldas e assim, por toda vida, ao longo da existência, conheceremos e amealharemos muitos colegas (denominando a todos de “amigos”) que preencherão a vasta escala que vai do simples e vagamente “conhecido” ao “íntimo”, a quem revelamos os sonhos acalentados, os nossos planos e aos quais também confidenciaremos nossas frustrações, os desapontamentos, as fraquezas e mazelas de nossas almas.
Não há como identificar e adotar um critério lógico universal, pois escolhemos conforme nossa vontade – elegemos aqueles de quem gostamos e ponto – e não teremos dificuldades em atribuir razões à nossas escolhas, pois como afirma o poeta inglês William Shakespeare, em Hamlet: “a razão é alcoviteira da vontade” e, sim, essa escudeira fiel, sempre estará a serviço de nossos interesses.
Dito isto, “Panta Rhei” (Tudo flui) adverte o filósofo pré-socrático Heráclito de Éfesos. O que foi não permanece – necessariamente – sendo. Nossa vida muda e, com ela, mudam-se também os valores, os interesses e, consequentemente, a afinidade por esse ou aquele amigo.
Isso explica o porquê de não nos sentirmos mais impelidos a cultivar amizade, mantendo relações com pessoas que, noutros tempos já foram consideradas até íntimas, enquanto que nesses baumanianos “tempos líquidos” novas oportunidades de amizades vão surgindo, numa velocidade e frequência cada vez mais intensas e quando nos damos conta, já não damos mais conta de tantos “amigos”.
O atentar ao com quem nos relacionarmos nietzschiano exige atenção, lucidez e cuidado para administrar a equação qualidade x quantidade, reveladora do princípio aristocrático do um ao invés de mil, desde que seja o melhor.
Ignorar a importância da adoção desse princípio – erro crasso! – é sacrificar a qualidade pela quantidade.
Insistir em chamar a atenção ao fato do quanto nosso tempo é, além de findável, exíguo e por isso mesmo precioso, pode parecer redundante e até desnecessário, no entanto, precisamos nos conscientizar de que nosso tempo é e parece estar sendo, cada vez mais, escasso mesmo.
Hoje, é possível amealhar mil “amigos líquidos” nas redes sociais, mas imaginar que essas pessoas sejam, de fato, amigos com quem podemos contar, é perseguir o utópico, pois amizade nutre-se de comunicação sim, mas de uma qualidade, digamos, mais personalizada, “artesanal”.
Atualmente, os primeiros ensaios de inserção na vida social fora do seio familiar ocorrem ainda nas fraldas e assim, por toda vida, ao longo da existência, conheceremos e amealharemos muitos colegas (denominando a todos de “amigos”) que preencherão a vasta escala que vai do simples e vagamente “conhecido” ao “íntimo”, a quem revelamos os sonhos acalentados, os nossos planos e aos quais também confidenciaremos nossas frustrações, os desapontamentos, as fraquezas e mazelas de nossas almas.
Não há como identificar e adotar um critério lógico universal, pois escolhemos conforme nossa vontade – elegemos aqueles de quem gostamos e ponto – e não teremos dificuldades em atribuir razões à nossas escolhas, pois como afirma o poeta inglês William Shakespeare, em Hamlet: “a razão é alcoviteira da vontade” e, sim, essa escudeira fiel, sempre estará a serviço de nossos interesses.
Dito isto, “Panta Rhei” (Tudo flui) adverte o filósofo pré-socrático Heráclito de Éfesos. O que foi não permanece – necessariamente – sendo. Nossa vida muda e, com ela, mudam-se também os valores, os interesses e, consequentemente, a afinidade por esse ou aquele amigo.
Isso explica o porquê de não nos sentirmos mais impelidos a cultivar amizade, mantendo relações com pessoas que, noutros tempos já foram consideradas até íntimas, enquanto que nesses baumanianos “tempos líquidos” novas oportunidades de amizades vão surgindo, numa velocidade e frequência cada vez mais intensas e quando nos damos conta, já não damos mais conta de tantos “amigos”.
O atentar ao com quem nos relacionarmos nietzschiano exige atenção, lucidez e cuidado para administrar a equação qualidade x quantidade, reveladora do princípio aristocrático do um ao invés de mil, desde que seja o melhor.
Ignorar a importância da adoção desse princípio – erro crasso! – é sacrificar a qualidade pela quantidade.
Insistir em chamar a atenção ao fato do quanto nosso tempo é, além de findável, exíguo e por isso mesmo precioso, pode parecer redundante e até desnecessário, no entanto, precisamos nos conscientizar de que nosso tempo é e parece estar sendo, cada vez mais, escasso mesmo.
Hoje, é possível amealhar mil “amigos líquidos” nas redes sociais, mas imaginar que essas pessoas sejam, de fato, amigos com quem podemos contar, é perseguir o utópico, pois amizade nutre-se de comunicação sim, mas de uma qualidade, digamos, mais personalizada, “artesanal”.
A adesão da multidão à comunicação rasa e em larga escala
confirma a atualidade do pensamento do poeta romano Ovídio (43 a.C.-
17 d.C), perspicaz ao afirmar que: “As frivolidades cativam os
espíritos levianos”, daí o sucesso das redes sociais, dos grupos
de whatsapp, dos e-mails com cópia, snapchats,
dos insta, por exemplo, pois esse tipo de interação, além
de explicitar nossa ânsia constante por relações e
entretenimentos, mesmo que superficiais, revelam que em termos de
futilidade, somos mesmo uma legião.
Relações rasas, meramente de verniz ou mais intensas e profundas,
não são excludentes, sempre existiram e coexistiram pacificamente,
no entanto, a tudo convém moderação: “Cuidado com o paraíso dos
tolos, pois é mais perigoso que o inferno, uma vez que as pessoas
gostam de estar nele.”, alerta Pieter Bruegel.
Não negligenciemos o antigo hábito de cuidar – com mais atenção, carinho e exclusividade – daqueles poucos que nos fazem tão bem, que só de os lembrarmos um sorriso já se instala em nosso rosto, daqueles que por comprovada lealdade, prezamos de verdade: visitando, conversando pessoalmente, abraçando, compartilhando o balcão ou a mesa, hospedando, enfim, convivendo.
Nossas escolhas não precisam ser, necessariamente, lógicas: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”, diz o tragediógrafo Eurípides, na fala de Medeia, mas até à vontade – talvez, principalmente a ela – convém direção e propósito. Detox!
Não negligenciemos o antigo hábito de cuidar – com mais atenção, carinho e exclusividade – daqueles poucos que nos fazem tão bem, que só de os lembrarmos um sorriso já se instala em nosso rosto, daqueles que por comprovada lealdade, prezamos de verdade: visitando, conversando pessoalmente, abraçando, compartilhando o balcão ou a mesa, hospedando, enfim, convivendo.
Nossas escolhas não precisam ser, necessariamente, lógicas: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”, diz o tragediógrafo Eurípides, na fala de Medeia, mas até à vontade – talvez, principalmente a ela – convém direção e propósito. Detox!
Luciene Felix Lamy
Professora de Filosofia e Mitologia Greco-romana da Galleria
Borghese, Roma.
Confira vídeos no youtube.
6 comentários:
Lu,
Como lhe admiro e gosto do que você, tão sabiamente, nos ensina. Cada vez que leio algo que você posta, e que imagino o quanto foi estudado, sinto como se cada palavra fosse uma flexa de luz a me iluminar. Obrigada, mil vezes! Zilhões de Beijos e felix 2016.
Lu,
Como lhe admiro e gosto do que você, tão sabiamente, nos ensina. Cada vez que leio algo que você posta, e que imagino o quanto foi estudado, sinto como se cada palavra fosse uma flexa de luz a me iluminar. Obrigada, mil vezes! Zilhões de Beijos e felix 2016.
Ficou PRIMOROSO. (objetivo e culto - dupla cada dia mais rara, nesses 'mares').
Amigos 'instantâneos' não têm a capacidade de entender o abaixo (e não estou falando do inglês, porque isso, qq 'motor de busca' resolve:
"I'm treating you as a friend asking you to share my present minuses in the hope that I can ask you to share my future pluses."
Katherine Mansfield (1888-1923) New Zealand-born English short story writer. // Um grande 2016 pra ti e Amados (inclui peluda). Nac
ES-PE-TA-CU-LAR!!!!!!!!
Você é uma danada.
Um 2016 radiante.
Bjs
Incrível como sempre!
Incrível como sempre!
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