Eis o relatório preliminar sobre nós que um visitante de outra
galáxia acaba de enviar a seu grupo:
Estimados, terráqueos são fascinantes! A maioria é cônscia da
finitude. Embora essa consciência não paute – necessariamente –
a conduta. Retomando sábios antigos, circunscreverei o Todo
alicerçado-o nos quatro elementos: Fogo, Terra, Ar e Água.
Fogo porque a metafísica (metá tá physica, o que
está para além da física) é responsável por toda sorte de
crenças e superstições, enraizadas desde os primórdios. O
indizível, o inabarcável presentifica-se do nascimento à morte,
suscitando sentimentos de gratidão bem como de desespero por dádivas
e bênçãos. É comum que a metafísica seja manipulada por grupos
que intermedeiam a
conexão com o divino, eventual e paradoxalmente, fomentando
discórdia.
Terra, porque estão circunscritos e intimamente ligados à
matéria, ao físico, sensorial, tangível, àquilo que chamam de
“real”, daí a tal “realidade” concreta na qual se movem.
Ar, pois o que os difere dos demais viventes é a capacidade
de raciocínio e linguagem, através da qual aprimoram e avançam em
técnicas, legando conhecimentos.
E, Água porque são susceptíveis às emoções, reféns das
variações de humores no sentido hipocrático (Hipócrates foi um ilustre curandeiro grego),
culminando em gestos de comovente benevolência em termos de
generosidade e – quando em desequilíbrio – responsável por
inúmeros distúrbios psíquicos, de origem emocional.
Submetem-se e também imprimem de si no espaço que habitam (há
regiões favoráveis e aprazíveis, bem como o contrário) e
subdividiram o tempo conforme a própria physis: diâmetro,
extensão e conformação do planeta (ciclos de estações anuais, de
lunação e solar). Para consenso preciso e eficaz tanto do Tempo
quanto do Espaço, desenvolveram e utilizam as ferramentas de
ciências físicas e matemáticas.
A constituição física é frágil, o que é compensado pela
engenhosidade, dom que atribuem à metafísica. Curiosos, subdividem
a própria existência em fases, cujas três principais são:
infância, maturidade e decrepitude. Atualmente consideram uma série
de fases intermediárias (recém-nascido, bebê, criança,
pré-adolescente, adolescente, adulto, maduro, idoso, etc.) e
quanto mais nos extremos, maior a vulnerabilidade e probabilidade de
vivenciarem violência imputada por seus algozes.
No entanto, essas subdivisões não são estáticas. Amostras do que
denominam séculos a.C. (marco do nascimento de Cristo, figura das
mais importantes), do século XV e do atual XXI, por exemplo, apontam
que distinção de acepção e denominação dos períodos de vida
sofre variações ao longo do tempo.
Devido à perecividade, o fator “Tempo” é algo que os limita e
define. Julgam-no algo “valoroso”, no entanto, revelam
dificuldades em lidar com ele: sentem-no como infindável no início
e, à medida em que vão avançando em idade, desesperam-se pela
escassez, sacando de todo tipo de subterfúgio para que o corpo não
revele esse avanço. Escamoteiam letargia, flacidez, rugas,
embranquecimento capilar e tudo o mais que denuncie declínio,
investindo em ciências cosméticas.
O prazo de validade expira aos cerca oitenta ou noventa anos e
subdividem-se entre os que são ou não dotados de órgão reprodutor
externo, mas alguns são confusos quanto a isso. Em pico de ebulição
hormonal, anseiam por se unirem em cópula, de onde extraem prazer e,
eventualmente, geram descendentes.
Estabelecem leis e penalidades para inúmeras atividades sociais,
supervisionadas por órgãos competentes. Exigem autorização ou
licença do Estado para dirigir os veículos que os transportam,
unirem-se em matrimônio, movimentar recursos em instituições
financeiras (abrir conta em Banco), aventurar-se em negócios (abrir "firma"), realizar viagens e até mesmo
para exercer a cidadania, que nos regimes democráticos
caracteriza-se pelo direito de eleger seus representantes através do
voto.
Curiosamente, para a atividade mais importante e irreversível da
existência, que é a concepção e a responsabilidade no cuidado de
seres indefesos, não há requisito prévio. Mesmo os desprovidos, os
ainda em tenra idade e os inaptos (reféns de vícios e demais
desequilíbrios psíquicos) procriam livremente.
Parte significativa das mazelas que os afligem
reside exatamente no desprezo a essa questão, pois sabem que a prole
quando bem-vinda e bem cuidada revela-se mais apta ao bom
desenvolvimento tanto físico quanto psíquico.
No último século, tem sido comum casais se unirem, gerarem e
desistirem da companhia um do outro enquanto a prole ainda não está
apta a subsistir. Nessas ocasiões, não é raro que haja conflitos.
Aliás, conflitos são a tônica de muitas das relações que travam
ao longo da existência. Desde os primórdios, são gregários e, por
maior intimidade, os laços consanguíneos são fontes de salvaguarda
e de dissabores.
Vaidosos, apreciam ser enaltecidos, relatam façanhas e buscam
aplausos dos pares, que elegem como os “superiores” dentro de
seus círculos. Todos, em maior ou menor grau, são reféns da
“vanitas”. Patéticas, muitas dessas vaidades são até bem ingênuas: exibem orgulhosos o alimento que ingerem, com quem se relacionam, por onde andam e
o que fazem.
Fonte de vaidade também são as características físicas, os dons e
talentos. Enaltecem a harmonia das proporções físicas (peso x altura) e, por haver
variação nas cores de pele, cabelos e olhos, auto avaliam-se e medem-se uns aos
outros, recorrendo a métodos que propiciem atrativos que os
destaquem, tornando-os alvo de inveja do grupo.
Tal qual os dedos de suas mãos, não são iguais, mas parecidos.
Após cerca de dezesseis horas em atividades que assegurem a
subsistência, a manutenção do status alcançado ou ainda
empenhando-se em atingir o almejado, o organismo exige repouso.
Alimentam-se cerca de três vezes ao dia, são dotados de mecanismos
excretores eficazes e não sobrevivem sem ar e água.
Seus instintos – quando não domesticados – os levam a atos de
barbárie contra os indefesos, sobretudo crianças e, mesmo cônscios
do quão irreversíveis são tais perversidades, negligenciam a
interditos como incesto e pedofilia, que perpassam sorrateiramente
por séculos de existência. Alvos de injustiça e violência são
também os desprovidos de acesso à educação, de recursos econômicos e os
idosos.
Através de mecanismos de fala e escrita, compartilham descobertas
notáveis e incessantes, assegurando-se de progressos em saúde,
segurança, comodidade e conforto, itens que pautam a estratificação
social, pois subdividem-se em classes que denominam: baixa, média e
alta.
Como em tudo, há subdivisões. Quanto menor a capacidade de acesso
aos bens, mais baixo o nível econômico e menor a garantia de uma
existência digna, enquanto que, quanto mais elevado o estrato
social, maior o desfrute de privilégios, cujo anseio é constante e
insaciável.
Soberbos, são atraídos pela demonstração de poder, com o qual,
além de assegurar luxos e exclusividades, exercem comando sobre os
demais. O poder, sobretudo político (zelar pela pólis, pela
res pública) é pervertido em seu propósito e manipulado a
fim de angariar fama, honras e principalmente fortunas, pois no afã
de amealhar tesouros sobre a Terra.
Ferrenhos e costumeiros
transgressores de Leis, impiedosamente, enganam, mentem,
desrespeitam, roubam, ludibriam, extorquem e até matam.
Xenófobos, são condescendentes com aqueles que consideram como
sendo “os seus”. E de muita má vontade para com os que não
compactuam com costumes, crenças ideias e ideais.
Talvez, “de fora”, percebamos melhor quem somos.
Luciene Felix Lamy
Chocada com as manifestações das pessoas sobre o vídeo abaixo, decidi postá-lo.
UM
DESESPERADO GRITO POR SOCORRO QUE NINGUÉM ESCUTA!
É
provável que essa criança esteja sendo
vítima de algum tipo de perversidade (espancamento ou até
mesmo abuso) dentro de sua própria casa (supondo que viva num lar).
E que, por não conseguir verbalizar a violência da qual é vítima,
esteja exteriorizando sua revolta aos maus tratos à qual é
submetido agindo também de forma desequilibrada.
Talvez esse seu
comportamento seja reflexo do que vivencia com os quais convive e
alguém precisa ouvi-la, a fins de perscrutar o(s) porquê(s) de tal
atitude. Infelizmente, nenhuma das pessoas por perto detém
sensibilidade para aventar a essa possibilidade, pois são
despreparadas para lidar com a manifestação de revolta quando ela
eclode justamente na fase mais tenra, frágil e presumivelmente
"doce" da vida, que é a infância.
É lamentável e até
revoltante que não se atente a isso. A turba (multidão ) apressa-se
a opinar à partir de suas experiências pessoais, negando-se à
dádiva de PENSAR para além de seu próprio umbigo. Óbvio que nem
todas as crianças, vítimas de violência, se manifestam dessa
forma, mas devemos atentar à regra, não somente às exceções.
Um amigo disse desconfiar:
"(...) pra mim isso eh um caso de psicopatia." Bem, SE for
esse o caso, mais uma razão para que profissionais especializados
investiguem e confirmem a patologia.
Só me manifestei (tanto no facebook quanto aqui mesmo, em nosso blog) porque li
comentários absurdos e rasos, extremamente mal embasados sobre a
questão. Há realmente a possibilidade da criança já ter uma
predisposição psíquica a reagir com violência quando contrariado,
sem dúvida, MAS, no entanto, contudo, todavia, SE o meio fizer
ouvidos moucos a esses indícios e manifestações, as consequências,
tanto para a sociedade quanto para ele próprio poderão vir a ser
muito, mas muitos mais nefastas.
Abraços,
Luciene Felix Lamy
E-mail: mitologia@esdc.com.br
Um comentário:
Não segura...Não segura! Chama a polícia. ..Chama o bombeiro! Pra quê? Pra prender a omissão do não acudir a criança em suas necessidade! A falta de formação dessas profissionais pra exercerem as atividades a que se propuseram é lamentávelmente explícita, a medíocre não deixa de filmar pra mostrar ao mundo sua incompetência.
Como escreveu nosso Rubem Alves..."Aprender ouvir o grito do excluído é um dom..."
Vamos formar mais ouvintes nesse país de surdos! Abrs
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