SE VOCÊ PENSAR, VAI DESCOBRIR QUE TEMOS MUITO A APRENDER.

luciene felix lamy EM ATO!

luciene felix lamy EM ATO!
Desfrute-o com vagar: há + de CEM artigos entre filosofia, literatura, mitologia, comédias e tragédias gregas (veja lista completa logo abaixo, para acessar clique sobre o título).

ELEITO UM DOS MELHORES BLOG'S NA WEB. Gratíssima por seu voto amigo(a)!

2 de set. de 2014

Vaidade... “Vanitas vanitatum et omnia Vanitas”*

São Jerônimo (que traduziu a bíblia do hebraico e aramaico para o grego e o latim) por Caravaggio (1605-6)
Galleria Borghese, Roma.

"A vaidade é um princípio de corrupção”. Machado de Assis

A todo o momento, morrem pessoas. Na mitologia grega, foi dessa justificativa que se valeu o soberano do Olimpo, Zeus, imbuído de convencer seu irmão, Hades, a aceitar presidir o reino dos mortos: “Governarás sobre um reino no qual, a todo instante, não cessará de chegar novos súditos”.

Recentemente, tivemos a notícia da partida de algumas personalidades famosas, na área da literatura, da academia, da política e do meio empresarial: Ariano Suassuna, Rubem Alves, João Ubaldo Ribeiro, Vladimir Garcia Magalhães, Robin Williams, Eduardo Campos e Antônio Ermírio de Moraes, para citar alguns.

Morrer é inevitável. E é justamente essa consciência da finitude o que nos define. Temos, uns mais, outros menos, uma espécie de prazo de validade aqui no mundo. Isto posto, como nos pautarmos por valores que garantam uma vida feliz, bem sucedida? O que podemos legar ao futuro quando a inevitável nos arrebatar?

Ponderar sobre a morte é, paradoxalmente, ponderar sobre a vida e nas “tentações” que se apresentam a nos iludir, nos desviando do caminho mais virtuoso e edificante. Um desses engodos está na vaidade: “humano, demasiado humano”, como diria o filósofo alemão Friedrich Nietzsche. E é sobre uma lição acerca da vaidade, representada num movimento artístico específico, que iremos versar. Esse movimento chama-se “Vanitas”.

Harmen Steenwijk – 1640

O tempo muda, e com ele, emergem novos conceitos, que respaldados pelo “zeitgeist” (Espírito do tempo) vigente impõe-se como modismo. Alguns modismos, como os “Vanitas”, tornam-se “clássicos”.

Em tempos d’outrora, distintivo (“chique”) mesmo era pendurar um enigmático “Vanitas” na parede da biblioteca (ocupada hoje pelo home-teather) e ter assim, assunto para se encetar uma boa prosa filosófica (vida, morte e tempo), enquanto se finalizava o agradável jantar saboreando um licor.

Pieter Gerritsz – 1630

Mas, o que é um “Vanitas”? Um “Vanitas” (do latim, vacuidade, futilidade, algo vão, sem valor) é a representação dramática de um gênero singular de natureza morta surgida no norte da Europa e países baixos, especialmente no século XVII, com forte conteúdo simbólico de cunho moralizante que busca chamar a atenção para o quão efêmera é a vida, fugidios seus prazeres, vãs suas glórias e para a irreversibilidade dessa condição que nos distingue do Criador: mortais.

Com o enaltecimento dos “Vanitas”, o gênero “natureza-morta” – o patinho feio da pintura –, tão apreciado pelos holandeses, foi alçado a patamar de honra.

Hendrik Andriessen – 1650

A morte era uma realidade muito próxima e os pregadores calvinistas eram fascinados pelos interditos do Livro de Eclesiastes, no Velho Testamento. Do ponto de vista filosófico, arrisco dizer que o gênero é “Existencialista”.

Uma obra dessa natureza, que é um imperativo chamado para reflexão sobre valores, expressava que a alma do detentor estava consciente da insignificância da vaidade humana. O paradoxo é que se pagava muito caro por tamanha insígnia de sapiência: ostentar um “Vanitas” era caríssimo, acessível somente às pessoas de posses.

Pieter Claesz – 1625

Nesse tipo de obra, explicitando perecividade e finitude, observamos a presença de figuras que aludem e contrapõe: 1) vida terrestre espiritual e contemplativa e, 2) vida terrestre hedonista, luxuriosa e sensual.

São recorrentes, então, insígnias de poder (colunas clássicas, coroas, tiaras, mitras, medalhas, elmos, escudos, emblemas heráldicos, espadas e outros adereços que remetam à honra), símbolos de fortuna e riqueza (moedas de ouro ou prata, tecidos requintados, sedas, veludos, bordados e brocados, pedras preciosas, pérolas, conchas e outros objetos preciosos), referências aos prazeres libidinais e luxuriosos (espelhos, cartas de baralho, vinhos, instrumentos musicais tais como flautas e charamelas), alusões à perecividade (flores frescas ou já murchando, frutas suculentas ou apodrecidas, relógios, ampulhetas, bolhas de sabão, borboletas, fio de vela já se apagando), além dos emblemas de imortalidade (livro) e de finitude (o crânio humano), impondo o inexorável destino comum a todos nós, que é morrer.

Adriaen van Utrecht – 1642

Condenador dos prazeres mundanos, pois erigido sob o solo do discurso de cunho religioso moralizante de apelativo fervor puritano, o melancólico “Vanitas” encontra respaldo na Bíblia judaico-cristã.

De lá para cá, muitas caveiras se passaram e o uso alegórico do crânio ganhou outros significados (que o diga o renomado estilista brasileiro, Alexandre Herchcovitch). E isso porque, a visão que temos da morte passa por “n” perspectivas: temor, reverência, respeito, angústia, perturbação, sarcasmo, cinismo, deboche e até provocação.

Diante dela, difícil é ser indiferente. Independente disso, intensamente expressiva em suas representações, a morte paira a espreita, triunfa sobre as frivolidades mundanas, sejam quais forem e, alheia ao que pensemos que seja, é o que é.

Edwaert Collier – 1693

Ao passar todo esse sermão através das pinceladas, um “Vanitas” pretende repreender a ignorância sobre os falsos valores, advertindo que: “(...) os seus vícios e horrores, as suas paixões desonestas, desvairadas de cegas, funestas, os seus apetites venais insaciáveis, as suas perigosas irracionalidades, as suas pulsões inconfessáveis (...)”, tem um fim. Esse é o drama.

A arte, como alertava o poeta grego Píndaro (518-438 a.C.), lembra ao homem o que ele deve ser. Assim como o desvario da nobreza dos séculos XVII foi sacudido pelos “Vanitas”, a atual sociedade líquida (termo cunhado pelo sociólogo Zygmunt Bauman), voltando a contemplar essas obras e, ponderando sobre esses ensinamentos, se enriquecerá, tornando essa breve passagem, mais digna e honrosa possível.

Philippe de Champaigne – 1671


(*) “Vanitas vanitatum et omnia Vanitas” (Vaidade das vaidades, tudo é vaidade) Eclesiastes.

Um comentário:

Unknown disse...

Mais uma vez, um belíssimo texto, que nos põe a pensar sobre a impermanência e as várias nuances da experiência humana de estar no mundo.
Muito grata a vc, por me ajudar a plantar melhores sementes!
MaVi

Related Posts with Thumbnails

ESCOLHA & CLIQUE (leia no topo). Cultura faz bem ao Espírito!

Lançamento de Livro de Mitologia Greco-romana: LUCIENE FELIX LAMY
Embate entre a Lei Divina (Thémis) e a Lei dos Homens (Diké) em Antígona
EXPECTATIVA de VIDA e ENVELHECIMENTO
LIVE sobre Bernini e o rapto de Perséfone (Prosérpina)
COVID-19: O que há de novo sob o sol?
CRÍTICA FILME PARASITA - disparidade de moradias
MAQUIAVEL na SOCIETÀ ITALIANA DI SANTOS
Leonardo Da Vinci - Pinacoteca Benedicto Calixto
Leonardo Da Vinci - Palestra com profª Luciene Felix Lamy
Leonardo Da Vinci - Palestra com Profª Luciene Felix Lamy
ABOUT o envelhecer...
Guia para Viajantes Apaixonados por Museus
Como viajar sozinha?
Sêneca - Da tranquilidade da Alma (Parte II)
Sêneca - Da tranquilidade da Alma (Parte I)
Luciene Felix Lamy - Società Italiana di Santos
Luciene Felix Lamy na Aliança Francesa de Santos
Magnificência – a virtude de saber-se digno de honra
Sobre ALMAS GÊMEAS...
Cursos na Itália - Exclusividade!
Além da felicidade possível
O que é o niilismo?
Como ajudar a nós mesmos?
A ameaça de Prometeu na tragédia de Ésquilo
Tempo, sabedoria e felicidade
Aristófanes e o mito dos andróginos no Banquete de Platão
Cultura em ROMA
Princípio da utilidade (felicidade) em Jeremy Bentham
A Volta do Filho Pródigo
Luciene Felix Lamy - Mitologia Grega
A prova da posição: não basta competência, tem de se ter moral
Oficina "Minha Biografia"
Encontros Filosóficos
Schopenhauer - De como viver é sofrer (Parte II)
Schopenhauer - De como viver é sofrer (Parte I)
Curso de Mitologia Grega e Romana
Caim e Abel - O relato de como, já na 1ª família, "deu ruim"
A felicidade em Aristóteles
Riqueza, Prazer, Trabalho e Pobreza
Feliz Natal e Próspero 2017, amigos!
O Ideal...
Curso de Mitologia Grega na Pinacoteca
Judite e Holofernes - Beleza, virtude, astúcia e Fé
Curso de Mitologia Greco-romana em Santos
FAMA (inveja) e DIFAMAÇÃO
Como saber o que lhe reserva o destino?
A Tempestade - W. Shakespeare - Parte II
A Tempestade - William Shakespeare Parte I
Torne seus filhos IMORTAIS!
"Bela, recatada e do lar" - Empoderamento de potestades ancestrais
Biblioteca da ESDC recebe obra monumental
O que é o Câncer?
Cursos Livres de Filosofia - Luciene Felix Lamy
Um recorte da Utopia de Thomas More
Sobre felicidade em... 7 de janeiro!
Existirpontocom: com quem se relacionar?
Tragédia, Terror e Ética
O mais perverso e, paradoxalmente, o mais sublime do Universo!
Da Amizade - Michel de Montaigne - Parte II
Da Amizade - Michel de Montaigne - Parte I
A vontade em Thomas Hobbes
REFUGIADOS IMIGRANTES: Hobbes e o Estado - Parte II
REFUGIADOS IMIGRANTES - O mal-estar na civilização (Freud) - Parte I
Mala CULTURAL para a Europa!
Renascimento: Rafael e a Escola de Atenas
Renascimento: Botticelli e a Virtude da Coragem
Renascimento: Giotto e a traição de Judas
Volta às Aulas! “Sapientia et augebitur scientia”
Platão: POLÍTICO - Conclusão.
Platão: Político - Parte II
Platão: Político - Parte I
Curso de Mitologia Greco-Romana em SP
Vaidade... “Vanitas vanitatum et omnia Vanitas”*
A atemporalidade dos ensinamentos de Maquiavel - Parte II
A atemporalidade dos ensinamentos de Maquiavel - Parte I
A VONTADE DE CRER - William James (Parte II)
A VONTADE DE CRER - William James (Parte I)
Os Sete Enforcados: paradoxo das finalidades e dos efeitos das penas
Ganhe uma viagem + 2 Cursos em ROMA!
Movimentos filosóficos helenísticos: O epicurismo (Parte II)
Movimentos filosóficos helenísticos: o epicurismo (Parte I)
Movimentos filosóficos helenísticos - os estoicos
Movimentos filosóficos helenísticos: os cínicos
Um inimigo do povo – Henrik Ibsen (Parte II)
Ganhe uma viagem para o Curso de Mitologia em ROMA!
Um inimigo do povo - Henrik Ibsen (Parte I)
Tratado Sobre a Tolerância - Voltaire e UNESCO
Memórias do Subsolo - Dostoiévski (Parte II)
Memórias do Subsolo - Dostoiévski (Parte I)
O MITO DO REI MIDAS - A sociedade de jumentos
CONSUMO versus CONSUMISMO - Bauman (Parte II)

Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

Busque sempre a excelência!

TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

Você se sentiu ofendido...

irritado (em seu "phrenas", como diria Homero) ou chocado com alguma imagem desse Blog? Me escreva para que eu possa substituí-la. e-mail: mitologia@esdc.com.br