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1 de dez. de 2010

O que é dialética?


"O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê." Platão

Do nascimento ao último suspiro, pautada por ininterrupta atividade cerebral, toda nossa vida é diálogo, ou seja, se dá através do embate de lógos.

Havendo ou não interlocutor, mesmo emudecidos, a sós, pensando "com nossos botões”, nos valemos de operações mentais constantes, das mais simples às mais sofisticadas para, com lógica, apanhar, separar, escolher, distinguir e classificar o que nos chega através dos sentidos e que brota de nossa ratio.

Cotidianamente recorremos à dialógica (via de duplo lógos: é; não é. sim; não. talvez, etc.), seja para optar por um meio de transporte, eleger (ou recusar) um afeto, buscar a mais adequada moradia, obter um título ou cargo profissional, escolher a gravata ou, mais prosaico ainda, ao preferir entre açúcar ou adoçante. Podendo também, desprezando a ambos, tomá-lo "puro".

A dialética, no entanto, não recai apenas sobre problemas lógico-cotidianos, mas também sobre os epistemológicos (teoria do conhecimento), bem como sobre os metafísicos (ontologia – ciência do ser enquanto ser) e isso não é de pouca monta, em Filosofia torna-a pedra angular.

Dialética é movimento do lógos a respeito de algo. A dificuldade de se conceituar com precisão esta palavra deve-se ao caráter polissêmico do vocábulo, ou seja, dialética abarca mais de um significado. Armand Cuvillier salienta que: “(...) esse termo se tornou tão equívoco que é necessário precisar sempre em que sentido se está a empregá-lo”. Academicamente é "método". E o que é um método?

A palavra grega hodós significa caminho (daí rodovia, rodoviária, rodoanel etc.) e metà significa acima, além (da phýsis, natureza). Método, então, acaba por significar (met+hodós = caminho superior, correto) “percurso feito obedecendo a regras e normas intelectuais”. Assim, dialética pode ser conceituada genericamente como “um” método para se alcançar algo superior.

Dentre os primevos dialektikós citamos: Parmênides, Zenão, Heráclito, Sócrates, Platão, os sofistas (Górgias, Trasímaco, Protágoras, cujo método dialético é melhor esclarecido no link abaixo) e Plotino, cuja dialética prenunciará a moderna hegeliana.

Para Aristóteles, o pré-socrático Zenão de Eléia (cerca de 460 a.C.) é o criador da dialética. Mas ele não a utilizava para descobrir a verdade ou provar algo, usava-a simplesmente para refutar e triunfar sobre seus adversários, apontando as falsidades.

O método dialético socrático, por sua vez, subdivide-se em duas partes: a destrutiva ironia (pergunta), que revela a ignorância do interlocutor e a construtiva maiêutica (parto) que “dá à luz” ideias novas. Assim, irônico e maiêutico, Sócrates destrói, reconstrói; destrói, reconstrói sucessivamente, chegando muitas vezes a uma aporia (a=negação + poros=saída).

Como exemplo de uma aporia, Sócrates indagaria a um transeunte: “O que é a beleza?”. E este, hoje, talvez respondesse: “Ah, a beleza... não sei dizer, mas Gisele Bündchen é bela”. E ele prosseguiria: Um cavalo também pode ser belo?”. E o interlocutor apressado: “Claro que sim”. E o Filósofo com insistência: “E uma panela, uma panela também pode ser bela?”. E seu conhecido já impaciente: “Sim, pode haver também a bela panela”. Sócrates então pergunta: “E o que há em comum entre Gisele, um cavalo e uma panela?”. Desconcertante, assim era Sócrates.

Mas, se com a dialética (dialektiké), Zenão revelava a falsidade do discurso e Sócrates chegava a uma aporia, seu discípulo Platão (427 a.C. – 347 a.C.) vai além de uma técnica discursiva, intentando nada mais, nada menos que descobrir a verdade.

Aperfeiçoando a maiêutica, ele desenvolverá seu método dialético ascendente, que possibilitará alcançar a verdade e o Bem. Platão iniciaria a marcha do lógos rumo à verdade buscando sucessivas intuições do pensamento, contrapondo teses e antíteses, afirmações e negações até se aproximar o máximo possível da essência (ousía) do que persegue.

No mito da caverna (vide artigo já postado neste Blog), por exemplo, Platão insiste que devemos resistir às percepções sensíveis (dos sentidos), pois são as ideias puras e inteligíveis que, invariáveis, permanecem sendo, mesmo diante da mutabilidade dos fenômenos particulares.

Assim, no exemplo acima, confirma que o que há em comum nos seres de nosso mundo sensível (Gisele, certo cavalo e determinada panela) é a presença de uma arché (arquiterura, comando principial) de harmonia, equilíbrio, proporção, simetria, eqüidade.

Estes elementos presentificam a ideia, o Ideal da beleza em si. Perecíveis, Giseles, cavalos e panelas passam. Platão busca o Belo eterno, não o contingente. Sua dialética torna-se ferramenta de ascensão à verdade, à beleza, à justiça e ao Bem.

Com a dialética, diz Werner Jaeger “(...) o homem se liberta, pela primeira vez, das amarras do conhecimento sensível, das aparências sensíveis das coisas e descobre na inteligência o órgão para chegar à compreensão da totalidade do ser”.

Mas a dialética não é somente um modelo normativo. É retórico e também ideológico. E chegará a ser um "sistema", como veremos oportunamente.

Sendo o lógos uma ferramenta altamente capaz de advogar contra ou a favor de quem e do que quer que seja, convém versarmos quanto à origem da dialektiké techné (arte da dialética) e sua expansão.

De berço aristocrático, – pois quem detinha a palavra na Ágora (praça pública) eram os aristóis (os bem-nascidos, mais bem educados), – a arte da dialética é um produto social humano, de genealogia elitista.

Até então, estavam excluídos os iletrados (analfabetos), os escravos, os estrangeiros (metecos), as mulheres, as crianças e os incapazes (idiotas), aos quais era vedada participação na vida pública.

Com a ascenção dos metecos (estrangeiros, geralmente comerciantes) que devido à nova dynamis (potência) dos oikósnomós (economia, que é a norma, a lei do lar, da pólis), promoveram a figura do sophistès (sábios), foi desenvolvida e aprimorada a techné (arte), criando a arte da retórica, do bem dizer.

Assim advém a pólis: da necessidade de se organizar as regras de aquisição e administração das riquezas (economia) que surge e alcança pujança com a presença e o poder dos mercadores (metecos/estrangeiros), reflexo da própria vida em comunidade, que se expande e consome.

De fato, em comum, compartilhamos e negociamos recursos (naturais, tecnológicos, humanos, etc.) e carências. Além de valores, nascedouro da Justiça. A política pública advém da organização econômica que reflete anseios e normas privadas.

Conforme o método “palavra filosófico-científica por excelência”, a dialética incorporará caráter mais ou menos ideológico, em conformidade com os interesses daqueles que desfrutam ou intentam desfrutar do kratós (poder) político, na pólis.

Seja um método para apontar falsidades, desaguar em aporias, descortinar verdades, convencer e encantar (retórica), demonstrar ideias estruturantes ou mesmo desenvolver perguntas científicas, a dialética constitui um dos instrumentais mais elaborados para a evolução ininterrupta do pensamento. Fascinante.

Fundamental a todos àqueles que, em socorro dos injustiçados, zelam pela justiça, foi também graças a ela, à dialética, que instantaneamente, você decidiu que leria este texto.

Saiba mais:


Marcelo Lamy em “Metodologia da Pesquisa Jurídica: Técnicas de Investigação, Argumentação e Redação” – Ed. Elsevier (2011).


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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

Busque sempre a excelência!

TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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